terça-feira, 29 de abril de 2008

Agrocombustíveis e produção de alimentos

Ariovaldo Umbelino de Oliveira

E as conseqüências, para a produção de alimentos no Brasil, daexpansão da cana-de-açúcar nos últimos 15 anos, quais são?

A RELAÇÃO entre a expansão dos agrocombustíveis e a produção dealimentos ganhou a agenda política internacional. A agriculturamundial continua passando por transformações profundas. O avanço da"comoditização" dos alimentos e do controle genético das sementesque sempre foram patrimônio da humanidade foi acelerado.

Dois processos monopolistas comandam a produção agrícola mundial. Deum lado, está a territorialização dos monopólios, que atuamsimultaneamente no controle da propriedade privada da terra, doprocesso produtivo no campo e do processamento industrial daprodução agropecuária. O principal exemplo é o setorsucroalcooleiro.

De outro lado, está a monopolização do território pelas empresas decomercialização e processamento industrial da produção agropecuária,que, sem produzir absolutamente nada no campo, controlam, por meiode mecanismos de sujeição, camponeses e capitalistas produtores docampo.

As empresas monopolistas do setor de grãos atuam como "players" nomercado futuro das Bolsas de mercadorias do mundo e, muitas vezes,têm também o controle igualmente monopolista da produção dosagrotóxicos e dos fertilizantes.

A crise, portanto, tem dois fundamentos. O primeiro, de reflexo maislimitado, refere-se à alta dos preços internacionais do petróleo e,conseqüentemente, à elevação dos custos dos fertilizantes eagrotóxicos.

O segundo é conseqüência do aumento do consumo, mas não do consumodireto como alimento, como quer fazer crer o governo brasileiro,mas, isto sim, daquele decorrente da opção dos Estados Unidos pelaprodução do etanol a partir do milho.

Esse caminho levou à redução dos estoques internacionais dessecereal e à elevação de seus preços e dos preços de outros grãos-trigo, arroz, soja.

Assim, a "solução" norte-americana contra o aquecimento global setornou o paraíso dos ganhos fáceis dos "players" dos monopóliosinternacionais que nada produzem, mas que sujeitam produtores econsumidores à sua lógica de acumulação.

Certamente, não há caminho de volta para a crise, pois, no casonorte-americano, os solos disponíveis para o cultivo são disputadosentre trigo, milho e soja. O avanço de um se reflete inevitavelmenteno recuo dos outros. Daí a crítica radical de Jean Ziegler, da ONU(Organização das Nações Unidas), que classificou o etanol como"crime contra a humanidade".

É no interior dessa crise que o agronegócio do agrocombustívelbrasileiro quer pegar carona no futuro fundado na reprodução dopassado. O governo está pavimentando o caminho.

Por isso, a questão dos agrocombustíveis e a produção de alimentosrebatem diretamente no campo brasileiro. A área plantada decana-de-açúcar na última safra chegou perto de 7 milhões de hectarese, em São Paulo, onde se concentra mais de 50% do total, já ocupa aquase totalidade dos solos mais férteis existentes.

Em meio à expansão dos agrocombustíveis, uma pergunta se faznecessária: quais foram as conseqüências, para a produção dealimentos no Brasil, da expansão da cultura da cana nos últimos 15anos?

Os dados do IBGE, entre 1990 e 2006, revelam a redução da produçãodos alimentos imposta pela expansão da área plantada decana-de-açúcar, que cresceu, nesse período, mais de 2,7 milhões dehectares. Tomando-se os municípios que tiveram a expansão de mais de500 hectares de cana no período, verifica-se que, neles, ocorreu aredução de 261 mil hectares de feijão e 340 mil hectares de arroz.

Essa área reduzida poderia produzir 400 mil toneladas de feijão, ouseja, 12% da produção nacional, e 1 milhão de toneladas de arroz, oque equivale a 9% do total do país. Além disso, reduziram-se nessesmunicípios a produção de 460 milhões de litros de leite e mais de4,5 milhões de cabeças de gado bovino.

Embora a expansão esteja mais concentrada em São Paulo, já o estátambém no Paraná, em Mato Grosso do Sul, no Triângulo Mineiro, emGoiás e em Mato Grosso. Nesses Estados, reduziu-se a área deprodução de alimentos agrícolas e se deslocou a pecuária na direçãoda Amazônia Isso deu, conseqüentemente, em desmatamento. Por isso, aexpansão dos agrocombustíveis continuará a gerar a redução daprodução de alimentos.

A produção dos três alimentos básicos no país -arroz, feijão emandioca- também não cresce desde os anos 90, e o Brasil se tornou omaior país importador de trigo do mundo. Portanto, o caminho para asaída da crise e da construção de uma política de soberaniaalimentar continua sendo a realização de uma reforma agrária ampla,geral e massiva.

ARIOVALDO UMBELINO DE OLIVEIRA, 60, é professor titular de geografiaagrária da USP e diretor da Abra (Associação Brasileira de ReformaAgrária). Integrou a equipe que elaborou a proposta do Segundo PlanoNacional de Reforma Agrária para o governo Lula (2003).

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Biocombustíveis e crise alimentar


O preço da alimentação tem vindo a subir drasticamente em todo o mundo, devido aos aumentos brutais dos preços de produtos como o trigo, o arroz, o milho e a soja. Já houve verdadeiras rebeliões da fome em países como o Haiti, Camarões, Burkina Faso, Egipto. Mas o que está a provocar estes aumentos? No final da semana passada, o Banco Mundial e o FMI acusaram os agrocombustíveis de serem a principal causa. "Temos de nos preocupar com o facto de se tirar terra ou substituir terra arável devido aos agrocombustíveis", alertou o secretário-geral da ONU. O dossier desta semana discute o tema biocombustíveis e crise alimentar.
Rita Calvário apresenta o problema no artigo Os biocombustíveis da fome . Thalif Deen, da agência de notícias IPS, mostra os aumentos de tensão no mundo devido à crise alimentar . Já o conhecido ambientalista britânico George Monbiot afirma que A nova geração de biocombustíveis é outro desastre ambiental . O artigo seguinte mostra que a aposta nos biocombustíveis coloca em perigo a produção de alimentos , e, no Haiti, Nick Whalen descreve o desespero causado pelo aumento dos preços . Em Portugal, o Bloco de Esquerda propõe a suspensão das metas para os biocombustíveis . No Brasil, o presidente do Brasil, Lula da Silva, defende os biocombustíveis e culpa outros factores pela crise alimentar; mas a revista Time afirma que o Brasil já está a viver o efeito destrutivo dos biocombustíveis . Finalmente, Walter Sotomayor relata como a FAO quer estimular políticas públicas contra a fome .
Leia também o dossier Biocombustíveis , publicado pelo Esquerda.net em Junho de 2007

quarta-feira, 16 de abril de 2008

III Simpósio Lutas Sociais na América Latina


Trabalhadore(a)s em movimento: constituição de um novo proletariado?

Universidade Estadual Londrina – 24, 25 e 26 de setembro de 2008

Londrina/Paraná/Brasil
O GEPAL (Grupo de Estudos de Política da América Latina) comunica a realização do III Simpósio Lutas Sociais na América Latina nos dias 24, 25 e 26 de setembro de 2008, na Universidade Estadual de Londrina.
Envio de resumos expandidos: de 01/04 a 06/06.


Mais informações: www.uel.br/gepal

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Modo de Produção Capitalista, Agricultura e Reforma Agrária. São Paulo: Labur Edições, 2007, 184 p.

Já se encontra disponível para download mais uma obra de referência para a Geografia sob uma perspectiva crítica e radical. Trata-se do livro "Modo Capitalista de Produção, Agricultura e Reforma Agrária", do Prof. Ariovaldo Umbelino de Oliveira (Dep. Geografia da USP), publicado sem a mediação do mercado editorial de modo a permitir o acesso livre e gratuito dos interessados.
Este livro e outros mais estão publicados no site do Grupo de Estudos sobre São Paulo (GESP) do Laboratório de Geografia Urbana da USP, coordenado pela Profa Ana Fani Alessandri Carlos.

DISPONÍVEL EM: http://gesp.guardachuva.org/pt-br/node/76

Armando Correia da Silva: Filosofia, Geografia e Arte

O Núcleo de Pesquisa Geografias do Contemporâneo - NuPeGC e o Laboratório de Estudos Regionais em Geografia - LERGEO comunicam o evento Armando Correia da Silva: Filosofia, Geografia e Arte que se realizará no Anfiteatro do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo - USP, nos dias 12 e 13 de junho de 2008. Neste evento serão apresentadas discussões sob a forma de mesas redondas compostas exclusivamente por seus ex-orientandos que visarão, além de prestar uma merecida homenagem à sua memória, resgatar o legado de sua original trajetória acadêmica e intelectual. A agenda prevista é a seguinte:

Dia 12 de junho - tarde de quinta-feira
14h às 14h30min - Abertura
14h30min às 17h - Mesa redonda "Armando Correia da Silva: sua trajetória intelectual e acadêmica". Convidados: Prof. Dra. Amélia Damiani (DG-USP) e Prof. Dr. Wanderley Messias da Costa (DG-USP).
17h às 17h30min - Exposição de um documentário sobre o Prof. Armando.
17h30min às 18h30min - Lançamento do livro "Cinco Paralelos e Um Meridiano".

Dia 12 de junho - noite de quinta-feira
19h30min às 22h - Mesa redonda "As contribuições epistemológicas na obra de Armando Correia da Silva". Convidados: Prof. Dr. Antônio Carlos Robert de Moraes (DG-USP) e Prof. Dr. Werter Holzer (Dep. de Arquitetura - UFF).


Dia 13 de junho - tarde de sexta-feira

14h às 18h - Mesa redonda "Armando Correa da Silva e os estudos de caso". Convidados: Prof. Dr. André Martin (DG-USP) e Prof. Dr. Eliseu Sposito (Dep. de Geografia - UNESP/PP).

Dia 13 de junho - noite de sexta-feira
19h30min às 22h - Mesa redonda "Ontologia e Geografia". Convidados: Prof. Dr Elvio R. Martins (DG-USP) e Prof. Dr. Ruy Moreira (Dep. Geografia - UFF)

Realização:
Laboratório de Estudos Regionais em Geografia - LERGEO
Núcleo de Pesquisa Geografias do Contemporâneo - NuPeGC

Promoção:
Departamento de Geografia - USP
Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana

Apoio:
Laboratório de Geografia Urbana - LABUR
Laboratório de Geografia Política - Geopo

Lembramos que não haverá inscrição.
Contamos com a presença de todos.

Prof. Dr. Elvio R. Martins
Coordenador do NuPeGC


"Biblioteca Virtual de Ciencias Jurídicas, Económicas y Sociales"

Nuevos libros completos publicados en la "Biblioteca Virtual de Ciencias Jurídicas, Económicas y Sociales"


371
Neoliberalismo económico y su impacto en la administración pública privada y social
Jesús Fernando Isaac García
http://www.eumed.net/libros/2008a/371/index.htm

370
Programa de formación de habilidades para la gestión de contenido en los profesores de la Universidad de Cienfuegos
Raquel Zamora Fonseca
http://www.eumed.net/libros/2008a/370/index.htm

369
México ante el TLC
Rogelio Martínez Cárdenas y otros
http://www.eumed.net/libros/2008a/369/index.htm

368
Diagnóstico y posición del subsector cultura en Colombia 1995-2003
Camilo Herrera Mora, Fabián Garcia y Adriana Lozano
http://www.eumed.net/libros/2008a/368/index.htm

367
Pobreza, migración, remesas y desarrollo económico
Emeterio Guevara Ramos
http://www.eumed.net/libros/2008a/367/index.htm

366
Muller e medios de comunicación. A necesidade dun estudo da realidade galega
Susana Martínez Rodríguez
http://www.eumed.net/libros/2008a/366/index.htm

365
Administración de Personal: Una Visión del Norte del Perú Investigaciones
Eduardo Amorós
http://www.eumed.net/libros/2008a/365/index.htm

364
Comportamiento del consumidor: una visión del norte del Perú
Eduardo Amorós
http://www.eumed.net/libros/2008a/364/index.htm

En la "Biblioteca de Tesis Doctorales"

Krongnon Wailamer de Souza Regueira
Universidad Federal del Paraná, Brasil
O setor imobiliário informal e os direitos de propriedade: o que os imóveis regularizados podem fazer pelas pessoas de baixa renda dos países em desenvolvimento
http://www.eumed.net/tesis/2008/kwsr/index.htm



Está já disponível em linha o nº 6 da revista electrónica 'O Comuneiro': www.ocomuneiro.com. Completam-se assim três anos de publicação semestral deste periódico, dedicado à renovação do pensamento marxista em todo o espaço mental ocupado no mundo pela língua portuguesa. Pretendemos contribuir desse modo para a formulação da resposta que, a partir desse espaço, deverá ainda começar a desenhar-se a um dos desafios essenciais do nosso tempo: dar consistência estratégica e orgânica ao nascente movimento anti-capitalista global contemporâneo.