segunda-feira, 30 de junho de 2008

Canal Livre recebe João Pedro Stelide, líder do MST

INTEGRANTE DA COORDENAÇÃO NACIONAL DO MST/VIA CAMPESINA
CANAL LIVRE/ TV BANDEIRANTES - 01/06/2008

Os conflitos pela terra. A ação do MST. A estrutura agrária no país. O Canal Livre deste domingo recebe o coordenador nacional e líder do MST, João Pedro Stedile. Canal Livre, domingo, logo após o "Terceiro Tempo".


PARTE 1 - http://br.youtube.com/watch?v=AsCxkvnax4w&feature=related

PARTE 2 - http://br.youtube.com/watch?v=yVQ_3FFhN2s&feature=related

PARTE 3 - http://br.youtube.com/watch?v=xnfchaMcls8&feature=related

PARTE 4 - http://br.youtube.com/watch?v=DcJutA76G2g&feature=related

PARTE 5 - http://br.youtube.com/watch?v=-kAhe5PCzlA&feature=related

PARTE 6 - http://br.youtube.com/watch?v=KFzuheNm2Q0&feature=related

PARTE 7 - http://br.youtube.com/watch?v=otWa_yS5jCY&feature=related

En este mensaje se ofrece acceso gratis y sin necesidad de inscripción a los textos completos de más de cuatrocientos libros y miles de artículos de economía, historia, gestión y otras ciencias sociales. En los últimos 20 días se han añadido a nuestro sitio ocho nuevos libros, dos tesis doctorales y 42 artículos.
Puede acceder a todos esos textos desde http://www.eumed.net/

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EUMEDNET es un grupo de investigación de la Universidad de Málaga que hace divulgación de ciencias sociales a través de Internet sin fines de lucro. Gracias a subvenciones y apoyos de organismos públicos podemos ofrecer a precio inferior al coste unos CD-ROM y DVD-ROM que pueden adquirirse directamente a través de Internet en nuestra tienda virtual: http://www.eumed.net/tienda/

* EJES: Gran Biblioteca de las Ciencias Empresariales, Jurídicas, Económicas y Sociales
* EMVI: Enciclopedia Economía Multimedia Interactiva
* HESLA: Biblioteca Selecta de la Historia Económica y Social de Latinoamérica
* BSMEX: Biblioteca Selecta de Política, Historia, Economía y Sociedad de México

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Nuevos textos introducidos en la Enciclopedia y Biblioteca Virtual de EUMEDNET del 11 de junio hasta hoy.

En la "Biblioteca Virtual de Ciencias Jurídicas, Económicas y Sociales"

402
La responsabilidad social de la universidad en la promoción del capital social para el desarrollo sustentable
Ana Mercedes Diaz de Iparraguirre

401

Empresas transnacionales e integración en América Latina y el Caribe: la Grannacional, una alternativa necesaria y viable
Zulma Donelly Ramírez Cruz






396
Contabilidad y fiscalidad
Enrique Rafael Blanco Richart


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En la "Biblioteca de Tesis Doctorales"

Eduardo Meza Ramos

Universidad Autónoma de Baja California - México - 30-VIII-2005
Estructura económica y migración interna en Ayarit. Un análisis microeconométrico



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TODOS LOS LIBROS DE NUESTRA BIBLIOTECA VIRTUAL SON ACCESIBLES GRATUITAMENTE DESDE www.eumed.net/libros/

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En la revista "Contribuciones a las Ciencias Sociales" ISSN: 1988-5245
Renier Esquivel García y Yanisbel López Palmero

Idania López González y Cándido de los Ángeles Rivas Díaz


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En la revista "Contribuciones a la Economía" ISSN 1696-8360


Ernesché Rodríguez Asien
Asia en la Economía Global








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En la revista "TECSISTECATL" (nº 4) ISSN: 1886-8452




Alejandra Ojeda Sampson
Carmen Bocanegra Gastelum y Miguel Angel Vázquez Ruiz
Comercio electrónico en una localidad del norte de México


Margarita Camarena Luhrs y Mario Salgado Viveros
Estudio sobre microregiones y corredores rurales


Francisco Covarrubias Villa, Ma. Guadalupe Cruz Navarro y Alejandra Ojeda Sampson
El paisaje prehispánico de la ciénaga de Chapala


Macarita Elizondo Gasperín
Metamorfosis de la causal abstracta de nulidad de elección en México

Jorge Isauro Rionda Ramírez
Política económica sectorial en el desarrollo regional de México: crisis y reforma estructural (1980 – 1999)

Maximiliano Korstanje
Reseña de la obra Cómo sobreviven los Marginados de Larissa Lomnitz

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En la revista "Observatorio de la Economía Latinoamericana" (Número 99) ISSN 1696-8352


Luis Alberto Jiménez Trejo
Desarrollo Rural en América Latina


Argentina


Dora del Carmen Orfila
Inflación, pobreza, desigualdad social




Ricardo Tito Atahuichi Salvatierra
El proyecto de constitución y las sociedades étnicas

El proyecto de constitución y las "visiones del país"




John Jairo Uribe Sarmiento


Eliover Leyva Caro, Duly K. Fabelo Garcia, Aurelio Antelo Collado y Janeysi del Sol

Análisis de riegos en proyectos de inversión utilizando el método de la simulación



Renier Esquivel García
Procedimiento que permita evaluar el impacto de la capacitación en las empresas de la subordinación local sobre el desarrollo individual, organizacional y local dentro de la sociedad del conocimiento para contribuir al mejoramiento de la calidad del proceso de capacitación

México

Luis Alberto Jiménez Trejo y Sofía Larissa Vásquez Vargas
Reserva de la biosfera “Los Tuxtlas”, patrimonio ecológico amenazado

Luis Alberto Jiménez Trejo
El diseño de la política anti-corrupción del gobierno federal de México, 2000-2006
Política fiscal entre 1823 y 1847. Origen de un problema actual
El Parlamento Democrático Mendocino, un ejemplo de densificación social en los municipios medios de Veracruz
El programa HÁBITAT y la superación de la pobreza urbana en México
Descentralización fiscal en México, proceso en construcción

quarta-feira, 25 de junho de 2008

MST pede solidariedade por ataques sofridos no RS

Vimos a vossa presença para lhes pedir solidariedade. Nosso movimento está sofrendo uma verdadeira ofensiva de forças conservadores no Rio Grande do Sul, que não só não querem ver a terra dividida, como manda a constituição, mas querem criminalizar os que lutam pela reforma agrária e impedir a continuidade do MST.

Para tanto, essas forças políticas, que defendem na verdade poderosos interesses dos grupos econômicos de empresas transnacionais que estão se instalando no estado para controlar a agricultura e os latifundiários, estão representadas hoje no governo da senhora Yeda Crusius, na Brigada Militar, no poder judiciário local e no poder do monopólio da mídia.
Enviamos vários documentos ilustrativos que podem explicar melhor a gravidade da situação. Hoje, dia 24 de junho, apresentamos a denúncia formal junto à comissão de direitos humanos do Senado Federal que se deslocou até Porto Alegre especialmente para acompanhar a situação.

Setor de direitos humanos, MST Nacional.

Contato:
dhmst@uol.com.br

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América Latina bipolar: os movimentos se movem


Escrito por Boaventura de Sousa Santos

24-Jun-2008

Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1983/59/


A América Latina é peça-chave nas estratégias das empresas transnacionais e dos governos do norte global. A expansão do mercado transformou a água, os serviços de saúde e a educação em mercadoria. A mercantilização dos recursos naturais é fundamental para a acumulação de capital a médio prazo, colocando a biodiversidade enorme da América Latina no centro dos interesses.

O processo de "refocalizar" a América Latina acelerou-se devido ao fracasso da guerra do Iraque. Os Estados Unidos perceberam que, durante sua relativa ausência, gestaram-se mudanças e os processos sociais avançaram fora de seu controle, resultando em governos progressistas e movimentos sociais fortes que chegaram ao poder através da democracia, sendo que os Estados Unidos usam o discurso da democracia para justificar suas intervenções.

Neste cenário, está se desenvolvendo uma nova contra-insurgência, mistura das estratégias da Aliança para o Progresso e uma política de divisão dos movimentos, especificamente o indígena. O protesto é criminalizado de maneira brutal e a militarização torna-se mais profunda. Incapaz de conquistar apoio popular, o neoliberalismo tenta substituir "desenvolvimento" e "democracia" por "controle" e "segurança".

Isto é conseqüência do aprofundamento da exclusão social, da miséria e da desigualdade, o que implica na emergência de um fenômeno de fascismo social. Não um regime político, mas uma forma de sociabilidade onde alguns têm capacidade de veto sobre a vida de outros. Corremos o risco de viver em sociedades politicamente democráticas, mas socialmente fascistas.

O melhor exemplo desta lógica é o doloroso aumento da fome no mundo, que mostra a contradição entre a vida e a ânsia de lucro. A emergência do fascismo social mostra que a modernidade, como projeto, está quebrada, porque não cumpriu suas promessas de liberdade, igualdade e solidariedade, e não irá cumpri-las.

Surge, então, a contradição entre o paradigma da segurança e da luta contra o terrorismo e os Estados que reivindicam sua soberania, os movimentos sociais e, especificamente, as lutas dos povos indígenas. Nos territórios indígenas estão 80% da biodiversidade latino-americana. Organizações como a Coordenadoria Andina de Organizações Indígenas, a Confederação Nacional de Comunidades Afetadas pela Mineração do Peru e a Coordenadora Nacional de Ayllus e Marqas são um perigo para o status quo.

A criminalização da dissidência na América Latina é ainda mais forte contra os indígenas, como vemos no Peru e no Chile. Existe a intenção de transformar os indígenas nos terroristas do século XXI, como mostram os documentos da CIA. O uso das leis anti-terroristas contra os dirigentes indígenas está baseado em uma descaracterização total do conceito de terrorismo, uma vez que isto significa atacar e causar danos a civis inocentes. No caso das lutas indígenas, são ataques contra a propriedade privada para defender outra propriedade, a comunitária e ancestral.
Isto não cabe em nenhum conceito de terrorismo.

A regionalização subnacional tem sido promovida pelo Banco Mundial em forma de descentralização, que apontou a desmembrar o Estado central através da transferência de responsabilidades para os níveis locais. Na Bolívia, existia uma descentralização dirigida pelas autonomias indígenas, a partir de uma visão política e cultural sólida, que permitiu que os indígenas ganhassem alguma coisa com as políticas de descentralização do BM.

Mas a bandeira da descentralização foi assumida agora pelas oligarquias, em resposta à perda de controle do Estado central que elas sofreram. Eles sempre foram centralistas, mas agora levantam a bandeira da autonomia para defender seus privilégios econômicos. Isto gerou um problema político para o movimento indígena na Bolívia, que tem promovido a autonomia dos oprimidos, não dos opressores. A "autonomia" de Santa Cruz é ilegal sob a velha Constituição; uma nova está para ser aprovada. A decisão das autonomias caberia ao Congresso.

Tenho defendido, na Bolívia, a diferenciação entre autonomias ancestrais e as da descentralização. Proponho entender as autonomias indígenas como extraterritoriais em relação às autonomias departamentais. Deveriam estar baseadas no controle total do seu território, fora da governabilidade descentralizada, uma vez que são anteriores ao processo de descentralização. Mas seria necessário fortalecer a institucionalidade indígena, que ainda é frágil diante do poder das oligarquias bolivianas.

O debate atual é perigoso, porque existem desejos recíprocos de enfrentamento armado. As oligarquias não querem deixar seus privilégios e os indígenas não vão deixar pacificamente que o país seja dividido. Seriam eles que defenderiam o país.

A Colômbia e o Peru representam o status quo neoliberal e os Estados Unidos na região. São complementares. A Colômbia representa a lógica militar que busca conflitos e tensões, os quais criam condições para a militarização e a intervenção. No Peru, é promovida uma lógica similar, com forte criminalização das organizações sociais, um primeiro passo que prepara a militarização posterior. Existem indícios de que a base de Manta, no Equador, vai se mudar para a Amazônia peruana.

Estamos entrando em uma fase histórica de polarização. De um lado, as políticas de mercantilização buscarão livre acesso aos recursos naturais e a continuidade dos privilégios das elites. Do outro, existe um imaginário radicalizado nas forças progressistas do continente, que desenvolveram concepções diferentes de democracia, desenvolvimento, direitos e sustentabilidade, compartilhadas por cada vez mais pessoas e organizações. As forças dominantes não podem mais cooptar este imaginário radical com suas propostas de proteção social. Por isso a repressão.

O horizonte continua sendo a democracia e o socialismo, mas um socialismo novo; seu novo nome é democracia sem fim. A democracia radical é uma alternativa para duas idéias fundamentais. Não acredito que seja possível mudar o mundo sem tomar o poder, mas também não podemos mudar algo com o poder que existe hoje. Então, devemos mudar as lógicas do poder e, para isso, as lutas democráticas são cruciais e são radicais, por estarem fora
das lógicas tradicionais da democracia. Devemos aprofundar a democracia em todas as dimensões da vida. Da cama até o Estado, como dizem as feministas. Mas também com as gerações futuras e com a natureza, o que é urgente para deter a destruição do planeta.

Nosso objetivo é sair de uma democracia tutelada, restrita, de baixa intensidade, para chegar a uma democracia de alta intensidade, que torne o mundo cada vez menos confortável para o neoliberalismo. Mas a realidade não muda espontaneamente. Em política, para fazer algo é preciso ter razão a tempo, no momento oportuno, e ter força para impor essa razão.


Publicado originalmente na Alai - De uma entrevista realizada por Raphael Hoetmer em Lima, Peru, durante a Cúpula dos Povos, em maio.

Tradução: Naila Freitas/Verso Tradutores

segunda-feira, 23 de junho de 2008

ENTREVISTA COM PAUL ROBERTS

Biocombustíveis trocam um problema por outro

Para especialista em energia, não faz sentido resolver o problema do petróleo, que é um recurso limitado, por terra, que é outro recurso limitado

NÃO BASTA substituir uma matriz por outra, mas diversificar. Não adianta resolver só do ponto de vista de oferta, trocando gasolina por álcool, mas também de distribuição, que é arcaica, e de demanda, que não pode continuar no nível atual. É o que defende o autor americano dos livros "The End Of Oil" ("O Fim do Petróleo") e "The End of Food" ("O Fim do Alimento").
Seu primeiro livro falava da crise energética. O atual fala da crise alimentar. Nos quatro anos que os separam, um assunto ficou intimamente ligado ao outro. A alta do petróleo ajudou a elevar os preços dos alimentos. Agora, Paul Roberts vê com preocupação o caso brasileiro, em que biocombustíveis como o álcool são tratados como a solução para o primeiro problema.
"Não me parece muito inteligente destinar cada vez mais terras para essa produção enquanto não sabemos com certeza qual será a demanda futura por alimentos", disse, em entrevista à Folha, por telefone, do Estado de Washington, onde mora com a mulher.
O jornalista investigativo de 54 anos defende uma mudança de hábitos dos consumidores.
"Não adianta falarmos que queremos que o governo, a ONU, seja quem for, resolva o problema, desde que nós possamos continuar tendo 2,5 carros, como é a média atual nos Estados Unidos."


É o fim da "Era de Ouro" da alimentação
Um dia, olharemos para as gôndolas dos atuais supermercados das grandes cidades ocidentais com nostalgia. Nunca mais o mundo terá tanta variedade na oferta de alimentos como hoje. Vivemos o que Paul Roberts chama de a "Era de Ouro" da alimentação. "Damos como certo que tudo será melhor a cada ano, com mais variedade, melhor qualidade, preços mais baixos, que vinha sendo a dinâmica até agora", diz o autor. "Nada mais errado."
Para ele, a equação atual se sustentava enquanto apenas a parte mais rica do mundo tinha acesso. Com a ascensão à classe média de largas fatias da população de países como China, Índia e Brasil, não haverá qualidade e quantidade que chegue para tanta gente. "É o fim do morango 12 meses por ano", decreta. Como assim?
"Vivo no Estado de Washington, onde só dá morango em uma época do ano", conta. "Acontece que meu filho foi criado de maneira a querer comer morango todos os meses, e a ter esse desejo satisfeito. Assim, para atender a mim e a milhares de outros pais, meu supermercado compra morangos de outros lugares, que chegam aqui a um custo ambiental e econômico elevadíssimo, gastando combustível de avião."
Isso deve acabar, diz. No lugar, Roberts acredita que será valorizada a produção local, com custo de distribuição menor, e produtos exóticos serão um luxo para poucos. Também os produtos industrializados terão queda. "Imagino que, na era em que estamos entrando, cozinharemos mais, em vez de comprar pronto, porque processar alimento e distribuí-lo vai ficar cada vez mais caro."
"Hoje em dia, a indústria alimentícia faz tudo por você, menos mastigar a comida -isso porque ainda não acharam um jeito", brinca Roberts. "Eu vejo a crise levando as pessoas a retomar o controle da cadeia alimentar, pelo menos mais do que hoje. Vejo as pessoas comendo menos carne. E repensando a distribuição."
Não é o caso de romantizar o passado, defende-se. "Há muito do que aconteceu no passado que deve ficar lá, mas a alimentação sazonal, baseada no que é da época ou não, fazia muito sentido. Se não é época de morangos, que se espere."


*

FOLHA - "O Fim do Petróleo", título do seu primeiro livro, levará ao fim da alimentação, título do segundo?
PAUL ROBERTS
- A crise energética sublinhou o papel central que a energia tem na produção de alimentos. Nós deveríamos saber já há tempos que energia e alimentação são intimamente ligadas e a crise de uma levaria à outra. Isso porque nossa estrutura alimentar foi pensada para um mundo em que o barril do petróleo custa US$ 15 [na última semana, bateu os US$ 140, ante US$ 10 há uma década].
Pense bem, todo o sistema de fertilizantes baseados em petróleo, o sistema de distribuição baseado em caminhões e aviões, tudo depende pesadamente do combustível fóssil. A origem disso tudo é uma época em que a energia era tão barata que quase não era levada em conta na equação.
Só isso já seria o suficiente para fazer a ligação entre as duas crises. Mas há ainda o caso recente dos programas de biocombustíveis, um novo dado na equação alimento-energia. Eles colocam mais pressão no setor de alimentação, pois ambos são feitos de maneira semelhante. Ou seja, antes nós ligávamos a alimentação, que é o setor mais importante do mundo, a uma mercadoria, o petróleo, que estava destinada fatalmente a subir de preço, pelo fato de ser um recurso que acabará um dia.
Agora, estamos substituindo por outro, o biocombustível, que briga por espaço com a própria produção de alimentos.

FOLHA - Em sua opinião, não faz sentido?
ROBERTS
- Do ponto de vista de segurança alimentar, não, nenhum. Você troca um sistema que se baseia numa fonte limitada, que é o petróleo, por outro, de outra fonte limitada, que é a terra arável. Uma hora os dois acabam. O biocombustível pelo menos torna o problema mais evidente, por ser visível.
Quando você vê uma plantação de cana, ela está lá, ocupando espaço. Você é obrigado a enfrentá-lo, a pensar a respeito. O petróleo vem do fundo da terra e do mar, oculto. Do ponto de vista do público parece que vem de fonte inesgotável. É óbvio que acabará, mas não é tão visível.


FOLHA - Qual a solução, então? Há uma "terceira via"?
ROBERTS
- Há todo tipo de possibilidades tecnológicas sendo pesquisadas neste momento, algumas que eu e você não podemos nem imaginar. Dá para presumir que a inovação vai continuar, principalmente quanto mais os preços subirem, historicamente o melhor estímulo intelectual. Veremos energia nuclear mais segura e barata, algas oceânicas que criem biocombustível de maneira sustentável, estamos próximos de anúncios históricos.
Mas, se a atual crise nos ensina algo, é que não bastará substituir uma matriz por outra, e sim diversificar. Mais: não adianta resolver só do ponto de vista de oferta, trocando gasolina por álcool, por exemplo, mas também de demanda, que não pode continuar no nível atual.


FOLHA - A produção de biocombustíveis diante da crise alimentar domina as discussões. No Brasil, o governo defende que as terras destinadas ao álcool ocupam perto de 2% do total que pode ser utilizado para alimentos. Já o relator especial da ONU sobre o assunto pede moratória de etanol. Qual o seu lado?
ROBERTS
- Quando se fala que a terra ocupada para o biocombustível é pequena, eu pergunto: não é terra que poderia estar produzindo alimento? Ou é onde o dinheiro está? Quero ser cuidadoso nesse debate, mas não me parece muito inteligente destinar cada vez mais terras para a produção de biocombustíveis enquanto você não sabe com certeza qual será a demanda futura por alimentos. As pessoas dizem: "Bem, nós sempre podemos mudar de volta a exploração da terra para a produção de alimentos". Sim, mas depois que você constrói usinas ao lado dessas terras, investe bilhões de dólares na infra-estrutura para escoamento da produção, é extremamente difícil mudar. Há a demanda criada, a pressão política...


FOLHA - É possível reprimir a demanda por combustíveis, seja da origem que forem, sem comprometer o desenvolvimento de países emergentes, por exemplo?
ROBERTS
- Essa é a pergunta de US$ 40 trilhões [risos]. É difícil, no quadro atual de desenvolvimento econômico. Mas, do jeito que está, caminhamos para o desastre. Faça as contas: pegue a situação das fontes naturais vitais para o desenvolvimento econômico, como água, terra e energia; adicione a mudança climática e o aumento de população; leve em conta que essa população não só cresce como está mais rica e consumista, com apetite por mais recursos.
É a receita do desastre. Não adianta falarmos que queremos que o governo, a ONU, seja quem for, resolva o problema, desde que nós possamos continuar tendo 2,5 carros, como é a média nos EUA, e comprando TV de tela de plasma. Eis a verdadeira discussão. Pegue por exemplo a questão da carne. É uma das mercadorias que mais energia e recursos naturais consome para ser produzida e uma das que mais afeta o ambiente. Os EUA, a Europa e o Canadá consomem em média cem quilos de carne por habitante por ano. A média mundial é muito menor que essa. O resto do mundo não pode comer carne como essas três regiões, ou o mundo entraria em colapso total. Qual é a conclusão? Os EUA devem continuar comendo mais carne que o resto do mundo? O resto do mundo deve se contentar com menos? Ou nós deveríamos chegar a uma equação mais eqüânime no meio do caminho? Um futuro em que os norte-americanos comam menos carne e todo o sistema global de alimentação se adapte à nova realidade. O mesmo se aplica a todo o resto. Moradia, por exemplo. Nós precisamos de casas com três andares e dez cômodos, mesmo com a família média norte-americana diminuindo? Carros cada vez maiores? Se continuarmos a vender essa idéia, de que sem casas grandes e muitos carros você não é bem-sucedido, de novo, caminhamos para o colapso.


FOLHA - Pela primeira vez, há mais obesos do que famintos no mundo, segundo a ONU. Como chegamos a essa assimetria?
ROBERTS
- É perverso, concordo. É a primeira vez na história que ser gordo não é privilégio da elite. Dito isso, o problema da comida não ser distribuída eficientemente acontece já há algum tempo. O Império Romano foi construído em grande parte para permitir o acesso de Roma ao trigo. E Roma garantiu esse acesso de maneira bem-sucedida, porque tinha poder para isso. Eles tomavam o trigo do Egito e deixavam o país com pouco. No século 13, o mesmo aconteceu na Polônia e no mar Báltico, que alimentavam a Europa Ocidental e passavam fome. As potências sempre consumiram mais alimento, à custa dos mais pobres.
Só que isso era menos problemático no século 20, pelo menos na segunda metade, porque vivíamos no mundo do excesso, das sobras. Naquele período, a população explodiu em grande parte por conta da nossa capacidade de processar alimentos industrialmente. Assim, esquecemos a realidade de um mundo com recursos limitados. E isso infelizmente está reaparecendo. Temos uma população enorme, recursos de menos, devemos nos reeducar à luz dessa realidade e nos descolarmos de uma economia alimentar que já tem milhares de anos de idade.


FOLHA - O sr. não é totalmente contra o uso de transgênicos?
ROBERTS
- Não, não sou da tribo dos que rejeitam os transgênicos apenas porque são novos e, portanto, perigosos. Meu problema com essa indústria é que ela está voltada para a chamada agricultura dos ricos, para grãos que são sucessos de venda, mas não liga a mínima para as necessidades dos outros 75% da população, que precisa de grãos não tão mercadologicamente importantes. O milagre transgênico serve aos que não precisam do milagre em primeiro lugar. De novo é: onde está o dinheiro? Fazendeiros africanos não têm dinheiro para comprar sementes transgênicas, logo, por que a indústria se preocuparia com eles? Ela está preocupada com a soja, e o pequeno fazendeiro no Quênia não precisa de sementes de soja. Ou seja, a indústria precisa provar que está preocupada com a segurança alimentar.
Eles estão usando nossos preciosos dólares de pesquisa que poderiam estar sendo usados para melhorar a saúde e educar os fazendeiros mais pobres.


SÉRGIO DÁVILA

Fonte: Folha de São Paulo - 23/06/2008

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Exploração e reação popular

Escrito por Waldemar Rossi

Fonte: Correio da Cidadania

13-Jun-2008


A parte mais consciente do povo brasileiro assiste perplexa ao avanço selvagem do capital neoliberal, que conta com a conivência e incentivos fiscais, financeiros e políticos dos nossos governantes. Dinheiro "a rodo" é fornecido pelo BNDES a juros baixíssimos para satisfazer a volúpia dos grandes empresários ávidos de mais e mais riquezas, enquanto suas dívidas não são pagas conforme o contrato de empréstimos e vão sendo roladas, anos após anos, quando não caem no famoso "fundo perdido", sempre com o povo arcando com o esse roubo deslavado.

A Amazônia continua a ser destruída com a exploração mineral, que é altamente predatória e poluidora do meio ambiente; com a implantação da produção da cana-de-açúcar para produzir etanol para a exportação; com o descontrole total da política nacional sobre o desmatamento.

Lá, as empresas estrangeiras vão ocupando hectares e mais hectares de terras para a produção alimentar voltada para a exportação e superalimentação dos países do primeiro mundo; os latifundiários grileiros expulsam posseiros, ribeirinhos e pequenos produtores rurais, continuam a política de marginalização e extermínio das populações indígenas, geram o aumento do trabalho escravo usando milícias particulares fortemente armadas, que assassinam impunemente e juram de morte os que ousam defender os explorados. São esses empresários que são contemplados com medidas provisórias do presidente Lula, que legaliza ilegitimamente a grilagem das terras devolutas em até 1.500 hectares (correspondentes a fazendas de 630 alqueires paulistas cada uma), enquanto não tem terras para a reforma agrária.

As empresas produtoras de celulose infestam nossas terras com eucalipto, altamente danoso à qualidade das terras brasileiras e sugador das águas potáveis, destruindo nossas matas ainda nativas e que estão resguardadas por lei de proteção ambiental; ocupam terras de colonos, posseiros e nações indígenas, expulsando-as de suas legítimas propriedades; ao lado de mineradoras, vão impondo aos nossos "governantes" - na maioria das vezes em troca de apoio financeiro para suas campanhas eleitorais – autorização para a construção de enormes barragens para a produção de energia elétrica, visando unicamente o funcionamento de suas empresas predatórias e com isso permitindo outro crime hediondo: a invasão das terras dos proprietários que estão instalados, há dezenas de anos, às margens desses rios, jogando-os no desespero e revolta.

Quantos outros fatos poderíamos acrescentar a esta modesta lista? O que não falar do caso das privatizações da Vale do Rio Doce, da CSN, da Petrobrás, dos bancos estatais, das empresas de eletricidade e telefonia, da tentativa de privatização das linhas de Metrô e do fornecimento de água; da precarização da educação e da saúde públicas?

Porém, depois de um longo período de sonolência e acomodação, porque inebriados pela eleição de um operário como presidente da República, os movimentos sociais vão dando sinais de superação desse estado de letargia e começam a arregaçar suas manguinhas. É o caso do movimento desencadeado pela Via Campesina e pela Assembléia Popular, ocupando o prédio da Votorantim; dos vários movimentos sociais fazendo manifestações contra esse avanço criminoso das multinacionais predadoras e larápias das nossas riquezas e economias; do bloqueio da ferrovia da Vale, pelo que ela significa de desastre ecológico, roubo do patrimônio público, assim como para exigir indenização das famílias que tiveram pessoas mortas ou mutiladas pelos trens dessa empresa; das mobilizações pela interrupção da transposição do Rio São Francisco e das barragens danosas ao meio ambiente; das ocupações de prédios ociosos pelos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; das ocupações das terras devolutas e griladas pelos Sem Terra; da luta pública contra os desmandos da empresa Aracruz, usurpadora das terras indígenas.

Pena que o movimento pela redução da jornada de trabalho, lançado pela CUT, Força Sindical e CGT, fique apenas na frágil e enganosa coleta de assinaturas, sem, porém, a correspondente mobilização das bases operárias, estas sim capazes de se impor pela sua força produtiva, porque patrão e governo não cedem nada a não ser com a paralisação da produção capitalista e com o enfrentamento público. Mas isto essas centrais não vão fazer, porque suas direções estão vendidas ao capital e com ele mancomunadas.
"A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores", ou não haverá emancipação.


Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

O país do agronegócio e o nosso

Escrito por Luis Fernando Novoa Garzon

fonte:Correio da Cidadania

13-Jun-2008


A limitação do crédito rural a propriedades sem regularização ambiental é uma reação tardia e incompleta ao avanço do desmatamento na Amazônia. Financiamento público não pode ser isento de critérios sociais e ambientais, senão não pode ser chamado de público. Seria apenas uma forma a mais de canibalização de recursos públicos. É o mínimo que também deveria se esperar do BNDES, mãe, pai, padrinho, conselheiro e sócio de empreendimentos e iniciativas de grande escala, mas que, em igual proporção, apequena nossas margens de futuro. Se é o financiamento que pré-define o futuro, obrigatória deve ser a avaliação prévia da localização da atividade econômica pretendida, ou seja, da sua compatibilidade em termos territoriais, sociais e ambientais.

O agronegócio e seus interlocutores, governadores e bancada ruralista, resistem à medida porque prosperaram esse tempo todo na ausência de qualquer limite, convertendo nossos biomas em plataformas de exportação. O poder local no campo e nas áreas de fronteira erigiu-se à margem da lei ou contra ela. Trabalho escravo, pistolagem, redes de prostituição e pedofilia, contrabando, lavagem de dinheiro, tráfico de armas e de drogas é o lado B das grandes monoculturas, hidroelétricas e mineradoras. Não há como desvincular o crime organizado dessas forças políticas e vice-versa.

A exclusão dos municípios da zona de transição entre o Cerrado e a Amazônia, para efeito da aplicação da portaria, significa uma rendição do governo frente a essas forças, capitaneadas pelo grupo/governo Maggi. O mesmo grupo que reivindica e se mobiliza no Congresso pela modificação da área da Amazônia legal e pela alteração da área mínima de reserva legal na Amazônia, entre outros arbítrios.

É mais uma prova de que o Carlos Minc já assumiu decapitado politicamente. Oferecida a cabeça da Marina de bandeja ao agronegócio, resta ao novo ministro a pirotecnia e a verborragia. Teatralizar os acordos já feitos e gerir residualmente a política ambiental que um governo prisioneiro de um modelo agroexportador e financeirizado pode ter.

"Licença para lá e unidades de conservação para cá", coreografa o ministro, assumindo que não há como deter a expansão das fronteiras agrícola, mineral e (hidro)elétrica, especialmente em direção à Amazônia. Muito menos haveria como rever os grandes projetos de infra-estrutura do PAC, que, em função dos oligopólios privados, estruturam essa expansão. Em troca disso, quer que nos contentemos com migalhas na forma de Unidades de Conservação, fragmentadas e descontínuas, que na verdade cumprem a missão de estoques de capital natural para exploração monopolista futura, de forma "sustentável".
Outras medidas de encomenda do agronegócio são a Medida Provisória 422, que legaliza os crimes sociais e ambientais do latifúndio; a liberação de áreas de fronteira para atividades de monocultivo; assim como a adoção de critérios obscuros para a regularização de áreas quilombolas e indígenas. Realmente o governo Lula parece disposto a fazer qualquer negócio em nome do agronegócio. E manda às favas as mediações de algum Brasil mais amplo que isso. Mesmo nas negociações internacionais, o "interesse brasileiro" vem se tornando sinônimo dos interesses comerciais dos barões da soja, do gado, da celulose, da cana e do algodão.

O Brasil, nas últimas negociações da Rodada de Doha, está sinalizando positivamente às indecorosas propostas da UE e dos EUA de redução drástica e linear das nossas tarifas industriais em troca de um maior acesso aos mercados agrícolas desses países.

Ao promover concessões isoladas na Rodada, o governo prontifica-se a enterrar as alianças sul-sul, que mal ou bem vinha fazendo, colocando (ex-)parceiros na parede, implodindo qualquer veleidade integracionista. Além disso, que consistência pode ter alguma política industrial com essa capitulação alfandegária anunciada? Qual abrangência e durabilidade de um desenvolvimento que segue a reboque os ciclos de produção e fornecimento das transnacionais?

Mais do que nunca em nossa história, a hipótese de Brasil, a possibilidade de um projeto nacional, se dá no enfrentamento desse modelo anti-nacional e anti-povo. Somente com nossas vozes e nossos corpos somados podemos travar o metabolismo voraz dos grandes negócios, como ensaiaram os povos do Xingu e como tem demonstrado a Via Campesina e demais movimentos de ocupação direta das áreas e instalações mercadorizadas ao custo da destruição da natureza e da miséria do povo. A viabilidade de qualquer projeto de transformação estrutural passa necessariamente pelo tensionamento e esgarçamento dos novos cercamentos do capital e de suas proto-legalidades.

A existência de espaços considerados "democráticos", em um cenário de opções únicas e incondicionais de desenvolvimento, só será alcançada e reconhecida no confronto, na polarização, no assumir destemido de que não abdicaremos de nossa condição de sujeitos coletivos portadores de um outro destino.


Luis Fernando Novoa Garzon é sociólogo, professor da Universidade Federal de Rondônia e membro do Fórum Independente Popular do Madeira.

E-mail:
l.novoa@uol.com.br

Biocombustíveis: mídia faz samba de uma nota só

Escrito por Valéria Nader
fonte: Correio da Cidadania

12-Jun-2008


Nesses tempos de crise alimentar, com preços subindo e comida faltando em várias partes do Globo, tudo isso em pleno século XXI, são várias as discussões que têm vindo à tona. Desde análises mais profundas até puras especulações, discorre-se sobre o aumento da demanda mundial por alimentos puxado pelo estrondoso crescimento de economias como a chinesa; o abandono da regulação sobre esse mercado, com o fim dos estoques reguladores e a prevalência dos interesses especulativos; e também a utilização crescente de terras para os cultivos destinados aos biocombustíveis, comprometendo assim a produção de alimentos.

Não é o objetivo aqui entrar no mérito específico dessa problemática, avaliando cada um desses determinantes. Análises com este enfoque vêm sendo trazidas corriqueiramente por este mesmo Correio, a exemplo, dentre vários outros, de entrevista recentemente concedida pelo geógrafo Ariovaldo Umbelino, da USP.
A preocupação maior é chamar a atenção para a forma como o assunto vem sendo tratado pelos meios de comunicação, particularmente no que se refere ao item supra-referido sobre os biocombustíveis, em função da abordagem que o tema mereceu nos últimos dias.
Em uma série de reportagens especiais sobre a fome em seu jornal das 22 horas, a Globonews apresentou, nos dias 6 e 7 de junho, relatos de especialistas e professores da USP, FGV e da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), focados no impacto do etanol na produção de alimentos em nosso país. A partir da exposição de uma série de dados e de uma caprichada apresentação de imagens, qual não foi a surpresa em perceber, nos dois dias, que as matérias haviam chegado aos seus finais e todos os especialistas tinham expressado a mesma opinião.

Citando as cifras relativas aos hectares que poderão ser ocupados pela cana comparativamente às terras agricultáveis e às outras culturas, foram unânimes esses especialistas em suas apreciações de que, no Brasil, sobram terras para o etanol a partir da cana. De forma alguma, portanto, essa cultura vai tomar o lugar dos alimentos. Vários entrevistados foram também peremptórios em afirmar que seria impossível a cana expandir-se pela Amazônia, em função dos custos muito mais elevados nessa região relativamente a outras localidades mais propícias à sua cultura.

Será que a emissora, em sua busca de estudiosos do ramo, deparou-se, coincidentemente, somente com portadores dessa visão? Difícil de acreditar em tal hipótese, pelo menos para aqueles que assistem aos seus programas de debate, usualmente com três entrevistados, onde parece existir um ‘perigoso’ consenso. Mas, de qualquer forma, somente a própria emissora para responder a essa questão.

Outros meios de comunicação de grande porte, por sua vez, a despeito de trazerem à luz concepções mais variadas, são também porta-vozes muito mais assíduos das idéias dos defensores dos biocombustíveis, particularmente o etanol. Artigo recentemente divulgado pela Folha de S. Paulo – 07/06/08, pág. A3, de Tendências e Debates -, de autoria do renomado físico e professor emérito da Unicamp Rogério César de Cerqueira Leite, é um dos exemplos nesse sentido, dentre vários outros que poderiam ser aqui citados e que foram circulados no mesmo espaço utilizado para o artigo de Cerqueira Leite. Nesse caso específico, o físico desenvolveu uma série de argumentações para se contrapor aos questionamentos que se levantam contra o etanol. No que concerne, por exemplo, à crítica de que ele possa invadir a Amazônia, Cerqueira Leite também acredita que as condições adversas do clima, do solo e da infra-estrutura da região, por si só, impediriam essa invasão.

Mesmo que, conforme salientado, o intuito dessas linhas não seja entrar no mérito e julgamento específico dos argumentos, vale destacar que, contrariamente ao que advogam os especialistas aqui citados,pesquisas da própria Embrapa alertam para um preocupante avanço da cana-de-açúcar no bioma amazônico. Ademais, em nenhuma das explicações ouvidas desses estudiosos, foi levantada a séria questão de que, se não é a cana que vai invadir e devastar a Amazônia, a pecuária já vem assumindo esse posto, na medida em que é empurrada pela comprovada expansão dos cultivos no sudeste.

Estariam alguns desses interlocutores procurados pela imprensa impregnados pelo espírito de nosso presidente, que, em seu périplo por vários países, vem fazendo uma veemente, para não dizer obstinada, defesa dos biocombustíveis? Segundo o presidente, a inflação de alimentos seria até mesmo um bom sinal, já que derivada da maior capacidade de consumo dos pobres.
Causalidades à parte, o que interessa é não perder de vista que um coro tão unânime não surge assim gratuitamente. Ainda que se possa imaginar, talvez ingenuamente, que os meios de comunicação ou os mandatários das nações não estejam atrelados a este coro de forma consciente, seguramente seguem um forte ‘movimento de manada’, que se ancora, cada vez mais, no indubitável poder do agronegócio.

Lamenta-se, nesse cenário, a enorme possibilidade de massificação da opinião pública, refém dos interesses dos grandes meios de comunicação e da impossibilidade de rompimento do cerco pelos veículos mais alternativos. Sem direito a um mínimo contraditório, poderá vir a respaldar mais uma das ‘questionáveis’ teorias de nossa economia – agora voltadas aos alimentos e à fome.


Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.

III Mostra CineTrabalho


Aumento do preço dos alimentos continua e biocombustíveis são parte responsável, acusa Banco Mundial

Centenas de milhões de pessoas de todo o mundo poderão afundar-se na pobreza se o preço dos alimentos continuar a aumentar,diz o Banco Mundial, prevendo que a alta continuará nos próximos anos. A procura de biocombustíveis e sua produção são cada vez maiores, enquanto a produção alimentar diminui, o que tem impacto nos preços”, afirmou o economista-chefedo Banco Mundial, Justin Lin.
“A maioria dos afectados que agora vive sobre a linha da pobreza de um dólar por dia, ficarão abaixo dela. Isso é preocupante”, disse o vice-presidente da instituição, Danny Leipziger, na Conferência Anual sobre Economia para o Desenvolvimento (BDCDE, sigla em inglês).
Esta reunião foi organizada pelo Banco Mundial e pelo Departamento do Tesouro da África do Sul, tendo acontecido esta semana na Cidade do Cabo sob o lema “Gente, política e globalização”.
Os prognósticos de Leipziger, encarregado da Área de Redução da Pobreza e Administração Económica do Banco, diminuíram o optimismo exibido pela instituição no seu relatório “Fluxos mundiais de financiamento para o desenvolvimento 2008”. O estudo, divulgado também nesta semana, prevê que o crescimento económico da África subsaariana aumentará mais este ano. O documento, apresentado na BDCDE, conclui que a economia de várias regiões em desenvolvimento crescerá este ano, embora o crescimento mundial tenda a cair dos 3,7% de 2007 para 2,7%. Espera-se que o crescimento económico da África Subsaariana se acelere em uma média de 6,5% até o final deste não, o nível mais elevado da região em 38 anos.
Leipziger explicou que o encarecimento dos alimentos “quase não tem impacto ao nível macroeconómico, mas é visível e notório nos lares”. De todo modo, esses preços não continuarão aumentando para sempre, acrescentou. “Acabarão baixando. Segundo as nossas estimativas, vai demorar quatro a cinco anos até a situação ficar estabilizada. Mas, isso não significa que chegarão ao nível em que estavam há alguns anos”, acrescentou. As causas do aumento são múltiplas. O que dificulta a solução é que muitas delas estão interligadas, segundo Sheryl Hendriks, directora do Centro Africano para a Segurança Alimentar da Universidade KwaZulu Natal, da África do Sul. “A alta histórica do petróleo é uma dessas causas. Quando o combustível aumenta, os alimentos também sobem”, disse Hendriks na conferência, realizada entre segunda e quarta-feira desta semana.
Por outro lado, o auge dos biocombustíveis reduz o cultivo de alimentos, por isso o fornecimento não atende a crescente procura por comida. A situação agrava-se por causa dos subsídios que Estados Unidos e União Europeia dão à produção destinada à refinação de biocombustíveis e não à alimentação, segundo Lin. “Em consequência, o fornecimento de alimentos contraiu-se e não atende a procura, o que faz aumentar o seu preço”, afirmou Michael Spence, prémio Nobel de Economia e presidente da comissão sobre crescimento do Banco. “Não há nada de bom nestes subsídios”, ressaltou.
Os países em desenvolvimento – entre eles os africanos – são os mais afectados pela crise alimentar. Segundo Spence, “os lares de países pobres usam grande parte do seu rendimento em alimentos”. Mas a situação não é totalmente nefasta, acrescentou. “Há uma oportunidade enorme na África. Este continente é rico em recursos, se comparado com as outras regiões. A riqueza pode ser investida em programas que promovam a criação de trabalho e estimulem a produção agrícola”, afirmou. Lin alegou que é preciso mais. Para que a África aumente sua produção agrícola as novas tecnologias e a infra-estrutura são cruciais, “localizadas e adaptadas a cada país africano em particular. O que funciona no Brasil ou na China não funciona necessariamente em África”, disse.
Fonte: Envolverde/IPS

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Puta fábrica

de Efix y Jean-Pierre Levaray

144 páginas B/N, formato 165 x 240 mm, encuadernación rústica cosida
PVP: 14,50 euros (IVA incluido)
ISBN: 978-84-935829-3-7
Adaptación en cómic de Putain d'usine, novela de Jean-Pierre Levaray.

Treinta años de vida (y muerte) en la fábrica: los compañeros perdidos, los accidentes, el alcohol, las huelgas, los momentos de revuelta, la alegría del aperitivo con los compañeros...
Una fábrica que espera, como tantas otras, el cierre final, la externalización, la deslocalización. Y en medio de todo ello: esos obreros que siguen rompiéndose el espinazo por mantener encendidas las calderas y de los que ya nadie habla.
Jean-Pierre Levaray narra en esta obra algo que conoce demasiado bien: el trabajo en la fábrica, «esta vida perdida», «esta vida, ya de por sí corta, y que el curro te araña despacio»...
Y Efix la plasma con su dibujo en blanco y negro, duro, expresivo; perfecta combinación para describir el universo cerrado y agobiante que sufren miles de personas cada día.

Los autores
Jean-Pierre Levaray

trabaja desde hace más de treinta años en una fábrica de productos químicos de Grande-Paroisse, en Grand-Quevilly, cerca de Rouen. En febrero de 2002, cinco meses después de la explosión de AZF en Toulouse, publicó su primer libro Putain d’usine, que alcanzó unas ventas superiores a 10 000 ejemplares. Uno de sus principales objetivos es hablar del día a día: «El trabajo asalariado es demasiado mortífero. Lo sufrimos casi como una maldición y condiciona nuestra vida».

Las regiones mineras del norte de Francia son la tierra natal de Efix, que vivió varios años complicados antes de publicar Moorad, el primer tomo de la serie Mon Amie la Poof. En 2000 recibió el premio al mejor autor en el festival del cómic de Decines, cerca de Lyon. Un mes después publicó la serie con la editorial Petit à Petit, que también sacó K, une jolie comète y Les amis de Josy. En mayo de 2006 Efi x terminó el último tomo de Mon amie la Poof: había creado más de 400 láminas para llegar hasta su quinto tomo, Ivan.