quinta-feira, 21 de maio de 2009

A busca do pleno emprego



ESCRITO POR INÊS DO AMARAL BUSCHEL
20-MAI-2009 – FONTE:
CORREIO DA CIDADANIA

Em nossa Constituição Federal, no artigo 170 que cuida dos princípios gerais da atividade econômica no território nacional, podemos ler o seguinte: "A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] III – função social da propriedade; [...] VIII – busca do pleno emprego; [...].
Retornando um pouco ao início da Lei Maior, no artigo 1º, quando se estabelece que somos uma República Federativa constituída em Estado Democrático de Direito, elencamos entre os fundamentos dessa República: [...] "IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; [...]", e, a seguir, no artigo 5º, incisos XXII e XXIII, temos as regras de que "é garantido o direito de propriedade;" e "a propriedade atenderá a sua função social;" .
No artigo 6º que cuida dos direitos sociais, podemos ler: "São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição."
As palavras "trabalho" e "emprego" têm significados distintos, mas muitas vezes são usadas com o mesmo sentido. Para simplificarmos, podemos dizer que um trabalho poderá ser remunerado ou não (voluntário, doméstico, escravo) e o emprego em geral é um trabalho desenvolvido por alguém em troca da remuneração que lhe será paga pelo contratante.
No mundo ocidental não podemos descartar a enorme influência dos ensinamentos bíblicos em nossa civilização. É preciso, portanto, com relação ao trabalho, lembrarmos que no livro que abre a Bíblia, o Gênesis, está assim escrito: "3. [...] Comerás o pão com o suor do teu rosto, até voltares ao solo, do qual foste tirado. Porque tu és pó e ao pó hás de voltar. [...]" Atualmente, em nossa vida cotidiana, essa máxima bíblica poderá ser resumida numa frase muito simples e bastante repetida: "Não há almoço grátis", cuja autoria é atribuída ao economista estadunidense Milton Friedman.
Com belos versos o poeta popular Gonzaguinha bem disse na canção "Um homem também chora" que "Seu sonho é sua vida; E a vida é trabalho; E sem o seu trabalho; Um homem não tem honra; E sem a sua honra; Se morre, se mata".
Dito tudo isso, podemos compreender que, para nosso sustento diário temos de trabalhar e receber dinheiro por isso. Sem trabalho/emprego remunerado não poderemos obter alimentos e proteção para nossa própria sobrevivência e, conseqüentemente, também para o sustento de nossa família. Essa é a regra para ricos e pobres. Vimos também que no Brasil o trabalho é um direito humano assegurado constitucionalmente, sendo também a base do nosso sistema econômico e principal fator de produção. Ao lado disso, garante-se a livre iniciativa e o direito à propriedade privada, condicionando-a, todavia, à sua função social.
Bem, mas se não há trabalho/emprego digno e remunerado para todos os humanos, o que devemos fazer? Como concretizar o princípio constitucional do pleno emprego? Para uns, esse é um problema do Estado; para outros é problema dos donos da riqueza privada, pois ela deve ter função social; e há ainda aqueles que entendem ser um problema a ser resolvido por ambos: Estado e proprietários. Mas, os proprietários/empresários dizem que já recolhem impostos ao Estado e que por isso estão isentos de outras obrigações sociais.
Seria mesmo tão simples assim a solução dessa equação? Claro que não! E a função social da riqueza? Não é legítimo nem legal usufruir a seu bel prazer da riqueza produzida com a indispensável força de trabalho alheia. É preciso ter consciência social e fazer a riqueza circular, aliás, esta é uma das regras do capitalismo.
O que dizer então da obscena acumulação da riqueza? É possível vivermos em paz numa sociedade tão desigual, onde poucos têm muito e muitos não têm nada? Que sentido faz possuir uma riqueza enorme e conviver ao lado de uma vizinhança paupérrima, que ao simples anúncio de um emprego mal remunerado amontoa-se aos milhares, acotovelando-se na disputa por um posto de trabalho?
Como as pessoas ricas deste país podem olhar-se no espelho a cada manhã e não sentir vergonha? Pensando sempre em subir o muro da casa e blindar os carros da família? E não podem sequer distanciar-se muito dos pobres, pois precisam da mão-de-obra deles para manter suas casas e propriedades bem organizadas. Mais uma vez recorro ao cancioneiro popular, desta vez valendo-me dos versos de Gilberto Gil na canção "Nos barracos da cidade", quando diz: "Os lucros são muito grandes; Mas ninguém quer abrir mão; Mesmo uma pequena parte; Já seria solução: Mas a usura dessa gente; Já virou um aleijão;".
Penso que, no mínimo, nesta atual situação alarmante de desemprego em massa, algumas iniciativas imediatas são necessárias: (a) educação escolar pública de ótima qualidade, empregando-se milhares de professores para educar o povo; (b) realização da reforma agrária com indispensável apoio à agricultura familiar; (c) promoção de justa reforma tributária utilizando-se a régua da equidade; (d) redução da jornada diária de trabalho de 8 para 6 horas. Ao lado disso, também a adoção de fortes e sérias políticas públicas de Estado a serem implementadas sem descontinuidade, pelos governos federal, estaduais e municipais, fomentando-se o desenvolvimento das cidades e, por conseqüência, também o da economia nacional.
A implantação da renda básica individual e universal (Lei 10.835/2004), para que cada um possa escolher seu modo de vida, por exemplo, é uma política pública eficaz. Isso sem moralismos do tipo "não dar o peixe, mas ensinar a pescar", pois, peixes já não há e nem mesmo os pescadores profissionais conseguem sustentar-se apenas com a pesca diária.
Se as pessoas abastadas dão polpudas mesadas ou bolsas de estudo para os integrantes de suas famílias, por que esse falso moralismo quando se trata do poder público dar um valor mínimo para um cidadão sobreviver sem mendigar ou sujeitar-se ao trabalho escravo? Dizer que essa pessoa se acomodará e se tornará um parasita social, não desejando mais progredir na vida, é um pensamento muito mesquinho e preconceituoso. Por acaso as pessoas que nasceram na abastança conformaram-se com tudo o que já têm? Ao contrário, o que temos visto no mundo – haja vista a atual crise financeira - é a ganância dos que têm muito para querer mais e mais. Por que com as pessoas nascidas na pobreza seria diferente? São seres humanos feitos de outro barro?
Há, entre ricos e pobres, um percentual da população que não gosta mesmo de trabalhar. Até entre os indígenas isso acontece. E que fazer com eles? Bem, se alimentamos e acolhemos até mesmo um animal - pois em geral as pessoas não os deixam passar fome e frio - por que cargas d’água deveríamos deixar "ao Deus dará" os seres humanos indolentes? Por raiva? Inveja? Desprezo? Preconceito? Definitivamente, essa não é uma atitude ética.

Inês do Amaral Buschel, Promotora de Justiça de São Paulo, aposentada. Integrante do Movimento do Ministério Público Democrático (
http://www.mpd.org.br/).



As inscrições, isentas de taxa, poderão ser efetuadas pelo website da FUNDACENTRO:
www.fundacentro.gov.br – eventos – eventos a realizar

Informações:
Serviço de Eventos
Telefones: 11 3066-6323 / 6132
e-mail:
sev@fundacentro.gov.br

A intensidade do trabalho está associada a diversos agravos à saúde dos trabalhadores, de doenças relacionadas ao trabalho aos acidentes de trabalho. Compreender e debater sua lógica intrínseca e as diversas estratégias utilizadas possibilita o entendimento de seus efeitos à saúde dos trabalhadores e o debate sobre estratégias possíveis para minimização desses efeitos, quer na esfera da ação e das políticas públicas, quer ao nível do local de trabalho.

Conteúdo Programático:
- Discutir o processo da Intensificação no Trabalho a partir de Diferentes Ângulos Disciplinares: Sociologia, Economia, Engenharia de Produção, Ergonomia e Psicodinâmica do Trabalho;
- Apresentar e Discutir Estudos de Caso em Diferentes Setores da Economia: Agro-Indústria (Setor Canavieiro), Serviços, e Indústria;

Público-Alvo: Trabalhadores de todos os setores econômicos, Sindicalistas, e Profissionais Técnicos que atuam na área de Segurança e Saúde no Trabalho.

Programação:

9h00: Abertura do Seminário e Apresentação do Grupo de Pesquisa (GP) da FUNDACENTRO; (Fundacentro, ABET, Coordenador do GP da FUNDACENTRO/CNPq)
9h30: Mesa-Redonda da Manhã: “A Lógica da Intensidade do Trabalho na Produção de Bens e Serviços” Coordenação: José Marçal Jackson Filho
Palestra 1: "Intensidade x intensificação do trabalho?" - Leda Leal Ferreira (FUNDACENTRO)
Palestra 2: “Organização do trabalho, intensificação e intensidade do trabalho: quais desafios?” - Selma Venco (UNICAMP)
INTERVALO - CAFÉ: 11h00 às 11h15
Palestra 3: “Tempo da atividade e tempo abstrato: como os estudos de tempos e movimentos (MTM) intensificam o trabalho” - Francisco de Paula Antunes Lima (UFMG)
DEBATE: 12:00Hs às 12:30Hs
Almoço: das 12h30 às 13h30
13h30: Mesa-Redonda da Tarde: “As Estratégias da Intensificação no Trabalho e seus Efeitos” Coordenação: Rose Aylce Oliveira Leite (FUNDACENTRO)
Palestra 4: “Relação entre o que seria intenso e o que não teria limites: questões oriundas do trabalho relacional" - Laerte Idal Sznelwar POLI/USP):
Palestra 5: "A redução de efetivos e a intensificaçào do trabalho" - Francisco Moura Duarte (COPPE/UFRJ)
INTERVALO - CAFÉ: 15h10 às 15h25
Palestra 6: "Trabalho Intensivo e Pagamento por Produção: o moedor de carne do Complexo Agroindustrial Canavieiro" - Francisco Alves (UFSCar)
Palestra 7: “A cobrança de produção e a produção de Acidentes de Trabalho: papel do estado e da sociedade" - Rodolfo Vilela (FSP/USP)

XII SEMINÁRIO DE HISTÓRIA - O TRABALHO NA HISTÓRIA


22 a 26 de junho de 2009
FACULDADE ESTADUAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DE PARANAVAÍ – PR


PUBLICO ALVO
• Acadêmicos de História e de outros cursos da FAFIPA;
• Professores da rede pública de educação;
• Professores e acadêmicos de outras instituições;
• Alunos de pós graduação.

OBJETIVOS
• Refletir sobre o trabalho em diferentes formas de organização social ao longo da história;
• Refletir sobre o trabalho como categoria estruturante das Diretrizes Curriculares de História na Educação Básica do Estado do Paraná;
• Entender a complexa relação trabalho e educação sob o capitalismo numa perspectiva histórica;
• Apreender os processos de transformação que mudaram as formas e o sentido do trabalho ao longo da hitória.

LOCAL DO EVENTO
Teatro Municipal " Doutor Altino Afonso Costa"
Praça Rodrigo Ayres de Oliveira – Rua Guaporé, 2080, Paranavaí – Paraná

CARGA HORÁRIA: 40 horas

INSCRIÇÕES:
11 de maio a 19 de junho de 2009
Valor: R$ 15,00
Acadêmicos da FAFIPA: fazer as inscrições no CAHIST
Demais participantes: Protocolo Geral da FAFIPA

PROGRAMAÇÃO:

22 JUN 2009 Segunda-Feira
19h30 – Abertura
20h - Conferência: "PARA ONDE VAI O TRABALHO"
Conferencista: Prof. Dr. Marco Aurélio Santana

23 JUN 2009 Terça-Feira
19h30 - Lançamento de Livro
20h Mesa Redonda:"O TRABALHO NO MUNDO ANTIGO E MEDIEVAL"
Conferencistas: Prof. Dr. Antonio Carlos MazzeoProfª Drª Terezinha de Oliveira

24 JUN 2009 Quarta-Feira
20h - Mesa Redonda: "DA RELAÇÃO TRABALHO E EDUCAÇÃO SOB O CAPITALISMO: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA"
Conferencistas: Prof. Dr. Celso João FerrettiProfª Drª Amélia Kimiko Noma

25 JUN 2009 Quinta-Feira
08h30 - Sessão de comunicações
14h Minicursos I e II
20h Mesa Redonda: "O TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL"
Conferencista: Prof. Ms. Ilton César MartinsDebatedor: Prof. Dr. Ricardo Tadeu Caires Silva

26 JUN 2009 Sexta-Feira
08h30 - Sessão de comunicações
13h30 - Minicurso III
19h30 - Lançamento de Livro
20h - Mesa Redonda: "MIGRAÇÃO, PRECARIZAÇÃO E ESCRAVIDÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO NO SÉCULO XXI"
Conferencistas: Prof. Dr. José Roberto NovaesProf. Dr. Giovanni Alves

INSCRIÇÃO DE COMUNICAÇÃO ORAL:

A comunicação do(s) trabalho(s) será através de apresentação oral, com duração máxima de 20 minutos, incluindo a exposição e o debate. O(s) resumo(s) de trabalho(s) (resumo expandido) de comunicações deverão conter 160 a 180 linhas, usando editor de texto Word for Windows (fonte Times New Roman, tamanho 12, espaço 1,5cm), sugerindo que contenha Introdução, Metodologia, Resultado(s), referências bibliográficas. O título do trabalho deverá ser digitado em letras maiúsculas e em negrito. Após o título digite o(s) nome(s) do(s) autor(es), sublinhando o nome do apresentador do trabalho. Depois do último autor, colocar o nome do Departamento ou Programa de Pós-Graduação, a Instituição de origem e a agência financiadora da pesquisa, e-mail para contato. Poderão inscrever trabalhos: docentes, profissionais, alunos de graduação e de pós-graduação e áreas afins.
Importante: O(s) resumo(s) deverá(ão) ser encaminhado(s) para o e-mail: seminariodehistoria2009@hotmail.com até o dia 06/06/2009. OBS: O resumo será avaliado pela Comissão Científica e o aceite ou não do trabalho, será informado por email.

POSTER:
Os resumos deverão conter os seguintes itens:
1. No máximo, 2.000 caracteres com espaço e conter: objeto de pesquisa, referencial teórico, metodologia, resultados e 3 palavras-chave;
2. Título em negrito e centralizado;
3. Nome do autor e co-autores completos (e por extenso);
4. Identificação da instituição, Programa, Unidade da Federação e Agência de Fomento (se houver);
5. Formatação: Microsoft Word 2000 ou posterior (formato .doc); fonte Time New Roman; corpo 11; alinhamento justificado; espaçamento entre linhas
1,5 margens superior/inferior e esquerda/direita 3 cm.
Padronização do Poster para Exposição
1 - Dimensões: 90 X 60 cm;
2 - Devem combinar texto, gráficos, imagens etc.;
3 - Além da exposição, os pôsteres devem ser discutidos em grupos temáticos.
4- Fundo branco.
Importante: O resumo do poster deverá ser encaminhado para o e-mail:
seminariodehistoria2009@hotmail.com até o dia 06/06/2009. OBS: O resumo do poster será avaliado pela Comissão Científica e o aceite ou não do trabalho, será informado por email.


CONFERÊNCISTAS
Prof Dr Marco Aurélio Santana
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO
Prof Dr Antonio Carlos Mazzeo
Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Marília
Profª Drª Terezinha de Oliveira
Universidade Estadual de Maringá - UEM
Prof Dr Celso João Ferretti
Universidade de Sorocaba - UNISO
Profª Drª Amélia Kimiko Noma
Universidade Estadual de Maringá - UEM
Prof Dr Giovanni Alves
Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Marília
Prof Dr José Roberto Novaes
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Prof Ms Ilton César Martins
Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória - FAFIUV

sábado, 16 de maio de 2009

Profundidade da crise coloca desafios cruciais para a classe trabalhadora

ESCRITO POR VALÉRIA NADER E GABRIEL BRITO
15-MAI-2009

Chegamos quase à metade do ano e já inundam a grande imprensa notícias dando conta de uma incipiente saída da crise, tendo em vista a melhora da balança comercial, uma discreta retomada no comércio varejista e na produção industrial e, por que não dizer, a retomada dos índices Bovespa e assemelhados. Ao mesmo tempo, prognósticos de desemprego vêm se concretizando a passos largos, e já podem ser vistas revoltas em diversos países, não somente periféricos, mas também nos centrais, com trabalhadores se manifestando e empresas fechando, sem que as sonhadas respostas para a superação da crise apareçam.
Diante de tal conjuntura, o Correio da Cidadania entrevistou o sociólogo Ricardo Antunes, para quem o quadro que se avizinha é devastador, uma vez que não há discussões em torno de uma mudança profunda de nosso modo de vida, somente medidas que mais interessam ao capital que ao trabalhador - o que, em algum momento, chamará novamente pela intervenção do Estado.
Quanto às estimativas de desemprego, Antunes diz que será superada a expectativa de 50 milhões de postos de trabalho perdidos feita pela OIT, até porque o órgão se baseia somente em dados oficiais. Para ele, o debate central passa pela redução da jornada de trabalho, sem perda de direitos, que resultaria na inserção de um enorme contingente de excluídos, desde que dispensados os imperativos do mundo do capital.


Correio da Cidadania: Pensando na economia primeiramente, perto de já completarmos o primeiro semestre de um ano que se anunciou sombrio – a partir de uma queda de 3,6% do PIB no último trimestre de 2008 relativamente ao 3º, com queda de quase 10% dos investimentos e de 7,4 % na indústria -, começam a ser ouvidas vozes de analistas e estudiosos prevendo um início, ainda que incipiente, de saída da crise, especialmente no Brasil. Nesse sentido, essa melhora muito discreta da balança comercial, do comércio varejista e da produção industrial no primeiro trimestre tem algum significado em sua visão?
Ricardo Antunes
: Não vou fazer uma análise detalhada dos movimentos da economia, pois não sou economista e, portanto, farei uma consideração de âmbito mais geral. Penso que, dada a amplitude da crise estrutural que vivemos e o fato de nossa economia ser muito interligada, em função da mundialização do capital, esses condicionantes anteriores não permitem uma análise muito otimista do mercado brasileiro.
Claro que medidas como a redução do IPI de vários setores, incentivo à produção aqui e ali, à indústria automobilística, à construção civil etc. têm um impacto imediato no sentido de se contrapor a uma tendência de crise mais acentuada. No entanto, a questão que se coloca é o alcance de tais medidas, uma vez que vemos o quadro norte-americano, europeu e asiático (Japão) em situação muito grave. Isso me leva à seguinte consideração: o epicentro da crise pode se alterar, mas estamos vivendo um longo período depressivo, de decréscimo das taxas de lucro. As opiniões "otimistas" me parecem expressão de uma expectativa não respaldada numa análise global mais forte, visto que imaginam isolar alguns países e crer que possam caminhar à margem da crise, que é mais estrutural e global.
É natural que os países tenham resultados diferenciados, com maior ou menor nível de desemprego. Os dados do trabalho mostram isso. Mas, mesmo quando há uma diminuição no ritmo do desemprego, na seqüência se reconfigura um quadro no mínimo problemático. E a equação da crise, da forma como vem sendo feita nos países centrais – de "socialização das perdas", uma expressão que já nos marcou na 1ª. República –, é a de repassar os prejuízos das empresas e do mercado ao Estado e dele para o conjunto da população, que deverá pagar uma conta pela qual não foi responsável. Isso traz um endividamento público de proporções colossais e alguém terá de pagar essa conta em algum momento.
Sendo assim, não posso corroborar essas análises otimistas. Elas se assemelham àquelas que, há pouco mais de seis meses atrás, diziam que estaríamos imunes à crise, idéia falaciosa e, no limite, equivocada.


CC: O Brasil realmente começou o ano com números alarmantes de crescimento do desemprego. No entanto, nos últimos meses, houve uma mudança de movimento e, apesar de a taxa de desemprego ser ainda crescente, diminuiu o ritmo de perda de postos de trabalho. Pela sua análise, podemos inferir que essa queda de ritmo não chega a ser significativa de alguma virada?
RA:
Não creio em virada, mas isso responde a alguns movimentos feitos. O governo, por exemplo, reduziu significativamente o IPI para a indústria automobilística, para a construção civil e outros setores, o que tem incidência nos níveis de emprego, pois o Brasil possui um mercado consumidor interno forte, que em geral sempre foi menosprezado, pelo fato de o pólo central de nossa economia ser prioritariamente voltado ao mercado externo.
À medida que esse mercado externo dá sinais de retração e há incentivos ao mercado interno, pela redução de alíquotas, há uma aceleração da possibilidade de consumo por parte de parcelas da população que costumam ficar à margem do mercado consumidor, criando um bolsão de crescimento, mas que leva à seguinte questão: até quando essa política de isenção de impostos compensa o não-recolhimento do conjunto necessário de impostos, imprescindíveis para o custeamento de outras áreas, como saúde, previdência e educação?
É evidente que, diminuindo o imposto e aumentando momentaneamente o consumo, será possível dizer, por meio das contas, se vale a pena ou não a redução dos impostos em relação ao crescimento da produção. Mas, a médio e longo prazos, esta não é uma alternativa duradoura e efetiva à crise, até porque ela tem outros elementos estruturais mais significativos, dados pelos seus condicionantes externos.
A meu ver, o problema – ainda que o Brasil não esteja entre os países mais atingidos – é imaginar que já saímos do pior sem observar o cenário internacional e como a crise continua forte nos países que estão no coração do sistema. Nós, em verdade, estamos no centro de uma crise estrutural do sistema do capital, que inicialmente devastou o chamado 3º. Mundo, depois arrasou o Leste Europeu e agora está no coração dos países capitalistas centrais. E essa crise, além de estar operando o que venho chamando como uma nova era de demolição do trabalho, é profundamente destrutiva em relação à natureza, colocando em risco o próprio futuro da humanidade. Neste sentido, ela é estrutural e devastadora.


CC: Nesse sentido, PAC, novo pacote habitacional, incentivo ao setor automobilístico, as medidas mais importantes do governo pra combater a crise, tão ufanisticamente tratadas pelos seus interlocutores, têm, efetivamente, um impacto limitado na economia e no mercado de trabalho.
RA:
Sim, um efeito conjuntural, na medida em que reduzem as taxas de desemprego, que seriam ainda maiores. Mas as informações dos EUA, da Europa e Japão, mostrando taxas mais altas de desemprego, empurram o cenário para um quadro ainda mais crítico.
As medidas podem diminuir um pouco o nível de desocupação, mas agora vimos, nos dados mais recentes do IBGE, uma alta taxa de desemprego nas principais regiões metropolitanas, inclusive incidindo sobre jovens com relativa qualificação. Isso parece mostrar o caráter momentâneo e conjuntural das medidas do governo, até porque todo o modelo brasileiro, inclusive no governo Lula, é voltado à dependência do mercado externo, através das commodities e da exportação.
Quando há uma retração forte no mercado externo, afeta nossa produção. A redução de IPI incide, portanto, positivamente no mercado interno, mas não nas commodities e no mercado externo.


CC: E quanto às medidas voltadas ao mercado de trabalho mais especificamente, qual é a sua opinião quanto à postura do governo frente ao discurso recorrente do patronato na defesa da flexibilização dos direitos trabalhistas para enfrentar a crise? Não deveria e poderia este mesmo governo, em direção oposta à flexibilização, exigir mais contrapartidas das empresas beneficiadas com ajuda pública?
RA:
Claro. No primeiro momento, a redução do IPI já não foi sequer condicionada à não-demissão, tanto que algumas empresas obtiveram o benefício e demitiram, o que mostra a timidez das medidas, que atendem muito mais aos interesses do capital do que aos do trabalho. A redução momentânea do IPI deveria, no mínimo, ser rigorosamente condicionada à manutenção do emprego e à contratação de novos setores. E há outro ponto fundamental, que é a necessidade de tributar – e não desonerar – os capitais.
Outra questão é que o governo não atendeu a nenhuma bandeira dos trabalhadores e do sindicalismo de classe, como, por exemplo, reduzir a jornada sem diminuir salários e direitos. O governo é tímido com relação a tais medidas, pois sabe que elas não interessam ao grande capital.
Como se trata de um governo de conciliação, que garante os interesses do grande capital, do capital financeiro, do grande capital produtivo, os maiores beneficiários da política econômica do governo Lula, uma medida como essa – a redução efetiva da jornada de trabalho sem perdas de direitos e de salário - poderia ter efeitos positivos, pois aumentaria o ingresso da força de trabalho sobrante no mercado de trabalho, dado nosso alto nível de desemprego. No entanto, trata-se de uma providência que, em alguma medida, fere os interesses do grande capital; por isso ela sequer é seriamente cogitada pelo governo.


CC: O professor de Economia da Unicamp, e atual diretor do IPEA, Marcio Pochmann defendeu uma jornada semanal de trabalho de 12 horas em um curso sobre a crise mundial que está sendo promovido, entre outros, pelo jornal Brasil de Fato – apesar do reconhecimento de que não há hoje força política para se alcançar esta bandeira. O que você pensa disso?
RA:
Acho que ele tem razão. Com a redução de jornada e as pessoas trabalhando algumas horas, em alguns dias da semana, a produção voltada ao consumo da humanidade estaria garantida. Mas somos uma sociedade concebida desde seu nascedouro como uma sociedade do trabalho, em que o papel da classe trabalhadora é criar mais valor apropriado pelo mercado e grandes empresas capitalistas. Essas, se pudessem, prolongariam a jornada e/ou aumentariam, como fazem, a intensidade e a exploração do trabalho através do conhecimento técnico-científico-informacional dentro da produção - de modo que, intensificando o tempo de trabalho e aumentando a maquinaria técnico-científica, o capital se remuneraria muito mais, obtendo muito mais lucro e mais-valia.
Mas Marx já nos alertava de que uma proposta significativa para redução de jornada não é do interesse do grande capital. Há cerca de uma década, na França, com muito mais tradição de lutas operárias e conflito social, houve uma proposta de uma redução muito moderada da jornada e, ao longo de meia década depois, o capital francês impediu que esse processo resultasse em algo positivo para a classe trabalhadora. Assim, revela-se um pouco da prática do empresariado. Portanto, reduzir substantivamente a jornada de trabalho é um embate profundo entre as forças sociais do trabalho e os interesses dominantes do capital em escala global. Reduzir a jornada de trabalho, tendo como base o tempo disponível da população trabalhadora, de modo que se preservasse o consumo necessário da humanidade, é fundamental, mas fere os interesses do sistema de capital, fundados numa sociedade (da exploração) do trabalho.
O que quero dizer é que reduzir a jornada sem reduzir direitos é um embate político fundamental do trabalho contra o capital, desde os primórdios da Revolução Industrial. Com o padrão técnico-científico que temos, se os interesses dominantes não fossem os do capital, se os imperativos não fossem os do capital, poderíamos ter uma jornada de trabalho muito menor, com menos tempo e dias de trabalho, e tendo a população trabalhadora vivendo com mais dignidade e aumentando seu tempo de vida fora do trabalho. Mas para tanto precisamos caminhar para outro modo de vida e de produção, para além do capital. Por isso se trata, antes de mais nada, de uma luta social e política de grande envergadura.


CC: Pensando em termos mundiais, acredita que vá se confirmar a projeção da OIT de aumento de 50 milhões no número de desempregados em 2009?
RA:
Será muito mais do que isso. A OIT opera com dados oficiais. É difícil fazer a captação de dados não-oficiais. Por exemplo: se a China perdeu em poucos meses 26 milhões de trabalhadores urbanos que migraram do campo em busca de trabalho nas cidades, só contabilizando o desemprego real da China, da Índia, do resto da Ásia, África, América Latina, e mesmos os países centrais, teremos taxas de desemprego maiores do que as previstas pela OIT, que já são explosivas, pois 50 milhões de seres humanos desempregados só em 2009 já configuram uma taxa explosiva.
Mas, com os elementos que colhemos dos EUA, Europa e Japão, se incluídos nesse cenário avassalador os demais continentes, teremos um desemprego real ainda maior.
Sabemos que o desemprego oculto freqüentemente não é apreendido pelos dados oficiais, aquele sujeito que trabalha só algumas horas por semana não consta como desempregado, assim como o sujeito que já não procura emprego há mais tempo também deixa de ser contabilizado.
Estive duas vezes em Portugal recentemente, em novembro e fevereiro. A situação que se pode constatar é de que os jornais não ficavam um dia sem estampar em suas manchetes notícias de inúmeras empresas que fechavam. De todas as áreas, farmacêutica, turística, bancária etc.


CC: Avaliando as saídas para a atual crise, que além de econômica tem uma forte e reconhecida vertente ambiental, é fato que o planeta terra não vai conseguir atender a toda a humanidade a se prosseguir a lógica atual do capital. Estamos, assim, metidos em um buraco de proporções razoáveis. Ainda que não esteja no horizonte próximo o fim do capitalismo, configura-se uma crise do modo de produção capitalista?
RA:
Claro. Se a economia continua em retração e crise, ela desemprega. Ao manter o desemprego, aumentam as mazelas e a barbárie, em amplitude global. Vivemos uma situação desesperadora para muitos milhões de trabalhadores e trabalhadoras, com bolsões cada vez maiores de "supérfluos", "descartáveis", para os quais não há qualquer programa efetivamente alternativo de saúde, previdência, remuneração social etc. São os bolsões que vivenciam as mais brutais precariedades.
Como disse acima, estamos numa longa crise, cujo epicentro se altera. Por exemplo: os EUA estavam em crise profunda nos anos 70, recuperaram-se no final dos anos 80 e nos 90, depois entraram em novo desabamento; ou o Japão, no auge nos anos 70, época do milagre japonês, até os anos 80, e que num dado momento entrou num quadro crítico que se mantém até agora. Portanto, o epicentro da crise se alterna, mas suas conseqüências são profundas para a classe trabalhadora.
A China, por exemplo, apresentou níveis altíssimos de crescimento, chegando a 12% ao ano, mas hoje vive uma retração também fortíssima. E imagine o que é uma retração num país como a China, de quase 1,5 bilhão de habitantes e quase 1 bilhão de População Economicamente Ativa. Imagine cada ponto percentual a menos de crescimento, em quantos milhões de desempregados isso resulta. E o trabalhador chinês que foi para a cidade, nesse salto capitalista da década de 90, não tem como retornar ao campo, pois lá não há alternativas de trabalho. E ele já viveu uma socialização no mundo urbano que faz a volta ao campo deixar de se colocar como possibilidade.
Se a economia se mantém em depressão, então, o desemprego aumenta; se, em contrapartida, dá sinais de crescimento, teremos a destruição da natureza, aumento da poluição ambiental, degelo acentuado, uma confluência de destruições trazendo riscos profundos à humanidade.
Assim, veja a tragédia em que nos encontramos: se aumentar o desemprego, a barbárie social se torna ainda mais brutal; se retomarmos o ritmo de crescimento, teríamos aumento de doenças, contaminações e demais conseqüências, como já vemos em grandes cidades do mundo, com o agravamento da poluição cada vez mais insuportável. "Se correr o bicho pega, se parar o bicho come". É a tragédia que vivemos.


CC: Qual a alternativa que se apresenta? Há como começar a buscá-la pela perspectiva neokeynesiana tão em voga nessa crise, a partir de reformas do Estado dentro do capitalismo, com maior regulamentação do mercado?
RA:
Se olharmos o século XX veremos que o keynesianismo e o neokeynesianismo foram fagocitados pelo sistema do capital. De 1945 a 1968, apogeu do sistema keynesiano, do welfare state, quando parecia no final dos anos 60 que o Estado havia controlado o capital, vimos o inverso: o capital engoliu e desestruturou o Estado a tal ponto que criou o Estado neoliberal, que nada mais é que um Estado forte para os capitais e completamente destroçado no que diz respeito às suas atividades públicas, coletivas e sociais. O que é público foi destroçado e um poderoso Estado todo privatizado foi fortalecido. Foi o que vigorou desde a eleição da Margareth Thatcher, que tragicamente, poucos dias atrás, completou 30 anos da vitória desta verdadeira hecatombe social, com a subseqüente expansão do neoliberalismo para praticamente a totalidade dos países do continente, salvo poucas exceções.
E há outra experiência que deve ser lembrada, a soviética. Fruto de uma revolução socialista e popular em 1917, ela também, em sua processualidade complexa e contraditória que aqui não podemos explicar, fortaleceu e hipertrofiou o Estado ao limite. Podemos dizer que lá não houve a constituição do sistema socialista, mas um fortíssimo processo de estatização da economia e regulação, e mesmo eliminação, em vários aspectos, do capitalismo. E o que aconteceu? Em 1989, o sistema de capital, que se manteve inalterado (conforme a indicação de Mészáros), acabou destruindo esse Estado todo poderoso soviético, o chamado "bloco socialista". Esse histórico nos faz crer que a idéia de fortalecer o Estado para superar a crise é um misto de farsa e também de tragédia.
O desafio de hoje é de outra amplitude. A crise é sistêmica e estrutural porque coloca em xeque, primeiro, a sobrevivência da humanidade, já que sua força de trabalho é destruída em quantidades inimagináveis - nunca houve tanta conversão de milhões de homens e mulheres, que dependem do trabalho para sobreviver, ao desemprego. Não que adorem trabalhar, mas sem isso eles não vivem, não se reproduzem em sociedade. Atingida a casa das centenas de milhões por essa parcela que não encontra trabalho, a destruição sócio-humana é brutal.
O processo de destruição da natureza também chega a proporções inimagináveis. Não podemos mais dizer que a destruição ambiental é um risco para o futuro da humanidade, pois o é para o presente. Se a humanidade vem sendo destroçada diuturnamente, é um desafio seu repor a questão da construção de um novo modo de produção e de vida que, em primeiro lugar, resgate o sentido estruturante e fundamental do trabalho como criador de bens materiais, culturais e simbólicos totalmente úteis e necessários para a humanidade. Em segundo lugar, é preciso um sistema de metabolismo, para usar expressão de Marx, entre a humanidade, que expresse a recriação de ambos, trabalho e natureza, não a destruição de ambos. Isso o sistema de capital, com seus imperativos e constrangimentos, impede que se realize.
Portanto, o desafio central do início do século 21 é a superação do sistema do capital e a retomada do projeto socialista. O que coloca outra questão vital: as saídas da crise, para um lado ou outro, dependerão da temperatura das lutas sociais em escala global, dependerão do patamar da luta entre as forças sociais do trabalho, de um lado, e as forças destrutivas do capital, de outro. No passado se dizia: esse é o búsilis da questão!


CC: De que tipo de socialismo estamos falando para o século 21, a seu ver?
RA:
Claro que não pode ser a repetição do socialismo experimentado no século 20. Assim como fracassou o sistema keynesiano, como falamos anteriormente, é evidente que a experiência russa, a chinesa, para ficar nas mais importantes, também fracassaram.
Sobre a russa não paira mais nenhuma dúvida, uma vez que a ex-URSS já se reconverteu ao império do capitalismo à força; e a tragédia da China é de tal amplitude que hoje há milhões de desempregados, com milhares de levantes ocorrendo a cada fechamento de fábrica. Tanto é assim que a China vem sendo um laboratório de lutas sociais, enfrentamentos e tensões fundamentais, o que não pode ser atribuído à Revolução de 49, pelo contrário. Parece evidente que a China atual não tem mais nenhum vínculo forte com a sua Revolução original. Basta dizer que há três anos o PC reconheceu em seu estatuto o direito de a burguesia se filiar ao partido, uma completa heresia para qualquer variante do marxismo! E mais: a camada de novos milionários nascida na China da última década criou uma burguesia milionária que não permite falar seriamente em nenhum tipo de socialismo chinês.
Resolver a situação dizendo que lá há "socialismo de mercado" é desconhecer a formulação decisiva de Marx, que poderia ser sintetizada assim: "onde há mercado capitalista, não sobrevive o socialismo. E onde há socialismo efetivamente construído, não pode haver mercado capitalista". Sendo assim, a equação do "socialismo de mercado" se mostrou falaciosa. Pode ter hoje uma justificativa ideológica do governo chinês, mas as condições de exploração do trabalho na China inspiram muitos dos próprios países capitalistas...


CC: Nesse sentido, como se coloca a perspectiva socialista, qual seja, como avançar rumo ao socialismo? Um projeto socialista não poderia, ou deveria, começar por pequenas reformas, como, por exemplo, a luta por uma jornada menor?
RA:
É claro que esse é um processo mais complicado. Nós sabemos como o socialismo no século 20 não deu certo. Assim como o sistema keynesiano fracassou em regular o capital, o sistema soviético fracassou em destruí-lo, tendo ocorrido o contrário. Essas são, portanto, experiências que devem passar por um profundo crivo analítico.
A redução da jornada de trabalho não é uma bandeira pequena, pois mudá-la é tocar no ponto fundamental de Marx: o tempo. O capital converte o tempo no tempo do capital. Deixar o controle do tempo nas mãos da humanidade ou do capital não é uma questão pequena, não é uma medida reformista singela.
Mas o interessante na crise é que ela fez virar pó a idéia de que o capitalismo é eterno, na qual tanto se havia acreditado. Eis o primeiro ponto importante a ser mostrado a todos. Usando uma frase genial do Marx, tudo que é sólido se liquefaz. Ou seja, o capitalismo vive um processo de derretimento. Quantos trilhões de dólares viraram pó? Citybank e todos os seus afiliados tiveram desvalorização monumental nas transações nos EUA; a GM e a Chrysler estão à beira da falência. Ou seja, o capitalismo conseguiu, com suas próprias contradições, estabelecer uma crise muito profunda.


CC: A classe trabalhadora tem como costurar um projeto nesse sentido hoje?
RA:
Outro ponto nesse sentido, de tudo que é sólido se liquefazer, é que as lutas dependem do nível de confrontação social, do patamar das lutas sociais entre as classes. É isso que definirá para qual caminho vai uma reforma. Ninguém disse que o capitalismo vai acabar. Podem-se prolongar por decênios crises que vão sendo empurradas com a barriga, aumentando a socialização das perdas, de modo que o mundo do trabalho pague pelas perdas do capital. Essa é a alternativa do capital. Depois, ele faz do Estado um pêndulo. Ora um Estado mais intervencionista, ora um Estado não intervencionista.
Que sistema e modo de vida queremos? Isso nos obriga a discutir o princípio do trabalho, se ele se estrutura no capital ou na humanidade. Se for na humanidade, deve desestruturar o capital. Também devemos discutir que relação metabólica queremos. É um completo equívoco no meu entender imaginar que podemos ter uma vida transformada sob o comando da propriedade privada. Assim, coloquemos novamente em discussão o sentido da propriedade privada. Ela tem como conseqüência o enriquecimento de menos de 1% da população, enquanto mais de 90% fica despossuída. A embaralhada em que estamos é de grande envergadura.
Diria, de forma conclusiva, que vivemos algo parecido ao início do século 20. Nessa época, fazendo um paralelo geofísico, as placas tectônicas se movimentaram. Tivemos revoluções, a vitória dos países aliados, o nascimento e morte do chamado bloco soviético, enfim, uma reorganização muito grande do mundo. Agora, começamos o século 21 com as placas também nervosas, se mexendo. Temos um nível de temperatura social que coloca, em nível mundial, as forças do trabalho em oposição às do capital.
Não desconsidero o fato de que os últimos 30 anos marcaram a contra-revolução burguesa no sentido global, mas essa vitória do capital sobre o trabalho começa a dar sinais de esgotamento, com a crise do neoliberalismo, a crise estrutural do capital e o nascimento de uma nova morfologia do trabalho, cujo traço particular são as novas formas de lutas sociais. Por exemplo, a América Latina tem mostrado avanços em várias partes, através de descontentamentos sociais. Na Ásia – China, Coréia, Indonésia, Japão –, existem contradições muito profundas, também com lutas sociais. O mesmo ocorre muitas vezes na África, na América do Norte e até na Europa.
As placas tectônicas estão se mexendo, há uma nova morfologia do trabalho e essas lutas, apesar de tudo, são as lutas históricas que conhecemos - greves e manifestações. Por outro lado, existem também novas lutas, como aquelas contra a privatização da água, dos minérios e riquezas energéticas, que colocam a temperatura social em ebulição.
Não estamos dizendo que está acabando o capitalismo, mas temos razoável convicção de que ele tampouco é eterno. A equação dessa crise passa pela temperatura das lutas sociais e sua conflagração entre as classes. Isso pode significar retrocesso, com uma extrema-direita no poder – imaginem um retrocesso num mundo que já tem Berlusconi e Sarkozy -, ou uma retomada no século 21 das potencialidades das lutas sociais.


Gabriel Brito é jornalista; Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Preguntas y respuestas sobre “El costo de la coacción”

Un nuevo informe de la OIT, titulado “El costo de la coacción”, dice que las víctimas del trabajo forzoso pierden cerca de U$S 20.000 millones cada año en salarios no pagados. Esta y otras conclusiones ofrecen un poderoso argumento para intensificar la acción mundial contra el trabajo forzoso 1/. OIT EnLínea habló con Roger Plant, jefe del Programa Especial de Acción para Combatir el Trabajo Forzoso de la OIT.




OIT ENLínea: ¿Cuáles son las principales conclusiones de este informe?
Roger Plant
: Este informe tiene dos aspectos principales. En primer lugar, presentamos nuevas y emergentes cuestiones del trabajo forzoso contemporáneo, incluso el que es consecuencia de la trata de seres humanos tanto con fines de explotación laboral como sexual, tomando en particular consideración las tendencias a lo largo de los últimos cuatro años. En segundo lugar, estipulamos una agenda para la acción coordinada a nivel nacional e internacional, haciendo énfasis en el papel que pueden desempeñar los ministerios de trabajo y las inspectorías de trabajo, complementado la aplicación de otras leyes e intervenciones. También mostramos qué más pueden hacer las organizaciones de empleadores y trabajadores, y otros grupos de la sociedad civil, ya que en la actualidad la mayor parte del trabajo forzoso se encuentra en la economía privada.
Desde nuestro último informe sobre trabajo forzoso de 2005, hemos podido ver muchos cambios positivos. Muchos países han adoptado nuevas leyes, en especial en contra de la trata con fines de explotación laboral y sexual. Muchos han adoptado también planes de acción nacional, tal vez estableciendo mecanismos interministeriales para acción coordinada contra la trata, y en algunos casos contra el trabajo forzoso. Menos son los casos de países que han establecido y formado unidades especiales para identificar casos de trabajo forzoso y poner en libertad a sus víctimas.
Pero hay diversas brechas y desafíos, a las cuales es necesario dedicar atención. Primero, a pesar de la legislación, existe aún mucha incertidumbre a la hora de identificar cuáles prácticas abusivas constituyen el delito penal de trabajo forzoso y tráfico de seres humanos. Se habla mucho de prácticas análogas a la esclavitud y explotación laboral, pero es necesaria mayor claridad. Los gobiernos, tanto de los países en desarrollo como de los industrializados, acuden cada vez más a la OIT a solicitar orientación sobre estos temas. En lo que se refiere a la trata, algunos países perciben la coacción intencional como una parte esencial del delito de tráfico de seres humanos, otros concentran su atención en las condiciones de trabajo degradantes o “inhumanas”, o una mezcla de ambas: coacción y muy malas condiciones de trabajo. Segundo, quizás a causa de estas incertidumbres, casi no existen cifras nacionales de trabajo forzoso. En 2005, la OIT presentó un cálculo global de 12,3 millones de víctimas de trabajo forzoso, junto a las cifras regionales, insistiendo en que a partir de ese momento serían necesarias cifras nacionales. Desde entonces hemos desarrollado y compartido indicadores para ayudar a los países miembros a realizar esos cálculos y emprendimos los primeros ensayos piloto. Una tercera preocupación, otra vez relacionada con las dos primeras, es que todavía se aplica muy poca la ley contra el trabajo forzoso y la trata con fines de explotación laboral. Esto plantea una pregunta importante. Si el camino de la aplicación de la ley penal se ha utilizado poco hasta el momento, ¿qué más puede hacerse? y ¿quién puede hacerlo? El informe sostiene que los tribunales de trabajo y la justicia laboral pueden además utilizar otros recursos, complementando la aplicación de la ley penal.
Un desafío particular es salvaguardar los derechos de los trabajadores migrantes, entre los cuales hay cada vez más mujeres jóvenes, quines puedes estar especialmente expuestos al trabajo forzoso y la trata. Ellos son más vulnerables cuando se encuentran en una situación irregular, lo cual implica que pueden ser denunciados a las autoridades y con frecuencia deportados si no aceptan las condiciones inferiores a la norma y, algunas veces, trabajo no remunerado. Pero existe una creciente preocupación de que los trabajadores migrantes regulares puedan terminar en trabajo forzoso a través de una forma moderna de servidumbre por deudas. Es posible que estén muy endeudados con los agentes de reclutamiento. Si firman el contrato en el país de origen, pueden recibir contratos diferentes al llegar al país de destino, con salarios más bajos y horas de trabajo más largas.
Por lo tanto, una conclusión importante del informe es que, si bien existen casos flagrantes de trabajo forzoso en el mundo, que involucran violencia física y restricción, las formas sutiles de coacción representan un problema generalizado que requiere respuestas creativas. Por esto proponemos una agenda de acción global que comprenda cuatro temas principales: recolección de datos e investigación, aumento de la sensibilización a nivel mundial, mejora en la aplicación de leyes y respuestas por parte de la justicia laboral, y fortalecimiento de la alianza entre trabajadores y empresas contra el trabajo forzoso y la trata.
OIT ENLínea: ¿Cuántas personas son víctimas del trabajo forzoso en la actualidad?
Roger Plant
: En ausencia de nuevos datos regionales confiables sobre trabajo forzoso, nuestro cálculo aún se basa en el Informe Global sobre trabajo forzoso de 2005. En ese momento, la OIT estimó que al menos 12,3 millones de personas en el mundo estaban en alguna forma de trabajo forzoso o servidumbre. De estas, 8,1 millones de personas eran explotadas por agentes privados, fuera de la industria del sexo. El informe de 2009 considera que es prematuro actualizar estas cifras, que estaban basadas en extrapolaciones a partir de casos reales de trabajo forzoso registrados a lo largo de un período de 10 años. Ahora estamos preparando las bases para obtener cálculos más confiables por país, que son necesarios pero casi inexistentes en la actualidad. Para arrojar luz sobre las dimensiones nacionales del moderno trabajo forzoso, urgen este tipo de ejercicios.
OIT ENLínea: ¿Por qué habla del “costo de la coacción”? ¿Qué se está midiendo, y cómo?
Roger Plant
: Nuestra preocupación principal es el costo humano de la coacción, tanto para las víctimas y sus familiares, en términos del incalculable sufrimiento que padecen a través del trabajo forzoso, como para la sociedad en general. En medio de una crisis financiera y económica mundial, en la cual existe un verdadero riesgo de que los más pobres y vulnerables sean quienes soporten la mayor parte del costo, queremos llamar la atención del público hacia una crisis que es menos publicitada pero igualmente de seria: la de los mercados del trabajo. Factores similares, principalmente la codicia, permiten que diversos empleadores e intermediarios se beneficien a expensas de los pobres. Además, al igual que en los mercados financieros, existen áreas borrosas, donde ellos pueden operar al margen de la ley y aprovecharse de los vacíos legales.
Hemos hecho un intento preliminar de medir el costo económico para los trabajadores, principalmente para despertar el interés y lograr una atención más rigurosa y sistemática hacia esta materia en el futuro. Nuestro último Informe Global estimó que los beneficios ilícitos generados por el trabajo forzoso vinculado a la trata alcanzaban U$S 31.700 millones al año, de los cuales U$S 28.000 millones provenían de víctimas de la trata con fines de explotación sexual 2/. En otras palabras, calculamos que todos aquellos involucrados en la cadena de la trata obtenían U$S 4.000 millones en beneficios fuera de la industria del sexo. Nuestras cifras, si bien altas, podrían haber subestimado los beneficios producidos por la trata, o incluso el trabajo forzoso, en sectores vulnerables de la economía. Entonces, comenzamos a recoger los datos de los ingresos promedio en las actividades donde se sabe que hay una alta incidencia de trabajo forzoso, en todos los sectores de la economía, comparándolas con nuestros datos regionales sobre trabajo forzoso. Basándose en estos datos, el nuevo Informe Global calcula que los costos económicos de estos trabajadores, en términos de salarios no pagados, horas extraordinarias no remuneradas y otras deducciones, asciende a cerca de U$S 20.000 millones al año. Por lo tanto, una conclusión es que el costo de oportunidad para los trabajadores que están en trabajo forzoso en vez de en una relación de empleo libre, es cinco veces mayor que nuestro cálculo anterior sobre los beneficios generados por la trata con fines de explotación laboral. Ofrecemos estas cifras aproximadas como razón convincente para que el trabajo forzoso sea percibido como un problema económico, además de un problema moral y de derechos humanos, y para que los organismos que se ocupan de la reducción de la pobreza presten mayor atención al trabajo forzoso.
OIT ENLínea: ¿Cuál es la relación entre trabajo forzoso, como es definido por la OIT, y la explotación laboral?
Roger Plant
: Son preguntas complejas, a las cuales es difícil responder con brevedad. La definición de trabajo forzoso de la OIT implica coacción e involucra dos elementos básicos: que el trabajo o servicio sea exigido bajo amenaza de una penalidad, y que sea realizado involuntariamente. Pero hay muchas formas a través de las cuales la libertad de elección puede ser negada en un primer momento. Muchas personas entran en situaciones de trabajo forzoso inicialmente por su propia voluntad, aunque a través del fraude y el engaño, sólo para descubrir más tarde que no son libres de dejar el empleo. El trabajo de investigación y práctico realizado por la OIT, en especial a través de su Programa Especial de Acción para Combatir el Trabajo Forzoso, así como por otras organizaciones, muestra las dificultades de distinguir entre coacción total y otros factores que conducen a las personas a situaciones de grave explotación laboral en casos individuales. Es por este motivo que estamos desarrollando indicadores operacionales, que cubren aspectos como engaño, coacción o abuso de la vulnerabilidad en las diferentes etapas del ciclo de reclutamiento y empleo.
OIT ENLínea: ¿Qué está haciendo la OIT para ayudar a rastrear el trabajo forzoso y la trata de seres humanos?
Roger Plant
: Un ejemplo es la serie de indicadores desarrollados por la OIT en cooperación con la Unión Europea. Se trata de herramientas avanzadas de acceso general que pueden ser utilizadas para localizar la trata con fines de explotación laboral y sexual. Los indicadores abarcan temas como el reclutamiento fraudulento y coactivo como la coacción y la explotación en situaciones de trabajo. Están divididos en categorías de “medio” y “severo”, y comprenden desde el engaño sobre el tipo de trabajo que se hará y el salario que se recibirá, hasta la confiscación de documentos, amenazas de denuncias a las autoridades y secuestro. Pero aún es necesario investigar mucho más y recoger datos sobre el problema del trabajo forzoso, que por naturaleza es difícil de detectar. El informe hace un llamado para intensificar los esfuerzos, reunir estadísticas y aprender más sobre este tema, como parte de un Plan de Acción Global contra el trabajo forzoso.
OIT ENLínea: ¿Qué papel desempeñan los sistemas de reclutamiento en el trabajo forzoso?
Roger Plant
: Cuando están reglamentadas de manera eficaz y funcionan correctamente, las agencias de reclutamiento pueden ayudar a los mercados laborales a funcionar eficientemente. Sin embargo, desafortunadamente, hay muchos casos de abusos entre los reclutadores –empresas formales e informales, así como individuos– que pueden llevar a la trata y/o trabajo forzoso. Ejemplos de este tipo de prácticas de contratación abusiva son el engaño sobre el tipo de trabajo o el salario, contratos de trabajo inexistentes o fraudulentos, u honorarios de reclutamiento muy altos, que puede ser hasta 10 veces superiores al máximo previsto por las leyes y normas nacionales.
OIT ENLínea: ¿Ha habido progresos en la lucha contra el trabajo forzoso en los últimos años?
Roger Plant
: Ha habido progresos en muchos frentes, tanto a nivel nacional como internacional, pero ahora es necesario intensificar los esfuerzos en respuesta a los desafíos emergentes. La legislación nacional en todo el mundo ha sido fortalecida, sobre todo contra la trata, pero la aplicación de la ley es aún limitada. Se han realizado esfuerzos conjuntos creativos entre gobiernos, empresas y otras partes interesadas para identificar el trabajo forzoso y liberar a las víctimas, o para prevenir la incidencia del trabajo forzoso en las cadenas de suministro de productos. Se han realizado importantes iniciativas para obtener juicios penales. Además, se han impuesto medidas para mejorar las prácticas de reclutamiento para los migrantes entre los países de origen y de destino.
OIT ENLínea: ¿Qué desafíos persisten?
Roger Plant
: Si bien las buenas prácticas deben ser documentadas y compartidas, aún quedan tres desafíos fundamentales por enfrentar. Primero, los gobiernos en todo el mundo deben dejar de negar el problema y apoyar la investigación y las encuestas para documentar la incidencia del trabajo forzoso en sus países. Segundo, los ministerios de trabajo deberían asumir un papel más activo en liderar una acción nacional integrada contra este problema. Tercero, la asignación de recursos destinados a la prevención y la protección y reintegración de las víctimas debería corresponder a los recursos destinados a la persecución del trabajo forzoso. La prevención debería ser concebida en su sentido más amplio, es decir, comprender y abordar los aspectos sistémicos de los mercados laborales y de la migración, que están en la raíz de esta problemática en un primer lugar.

DEBATENDO A COLONIALIDADE NA AMÉRICA LATINA HOJE: OUTRAS RACIONALIDADES, AUTONOMIA E EMANCIPAÇÃO SOCIAL


1ª MESA REDONDA: “OUTRAS RACIONALIDADES DO CAMPO LATINOAMERICANO” (19/05)
2ª MESA REDONDA: “POVOS TRADICIONAIS E CARTOGRAFIA SOCIAL”. (22/07)
3ª MESA REDONDA: “SOBERANIA ENERGÉTICA E AGROCOMBUSTÍVEIS” (04/08)
4ª MESA REDONDA: “MOVIMENTOS URBANOS E ECONOMIA POPULAR” (25/09)
5ª MESA REDONDA: “CONSTRUÇÃO POPULAR DA AGROECOLOGIA NA AMÉRICA LATINA” (13/11)
1ª mesa redonda: “Outras racionalidades do campo latinoamericano”
Participantes: Pilar Lizárraga e Carlos Vacaflores: Comunidad de Estudios Jaina(assessoria de campesinos e indígenas, Tarija-Bolívia)Rogério Nunes: Via Campesina-PRAntônio C. A. Pereira: Quilombo João Surá-Vale do RibeiraOsvaldo Heller da Silva: Dep. Ciências Sociais-UFPR
Terça-feira, 19/05
18:30 hAnfiteatro 100, Ed. Dom Pedro I/UFPR
Inscrições gratuitas
Organização: Coletivo “América Latina: colonialidade do saber/poder eoutras racionalidades”
Apoio: CAGEO/UFPR; Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeT);Departamento de Ciências Sociais/UFPR; Departamento de Geografia/UFPR;Diretório Central de Estudantes/UFPR; Laboratório de Geografia Humana eRegional/UFPR; Programa de Pós-graduação em Geografia/UFPR; Setor deCiências da Terra;/UFPR; Soylocoporti

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Os neoescravocratas



ESCRITO POR OSVALDO RUSSO
07-MAI-2009 – FONTE:
correio da cidadania

Segundo artigo disponibilizado no site da União da Indústria de Cana-de-açúcar (ÚNICA), "o maior grau de informalidade no mercado de trabalho temporário agrícola torna mais fácil que os fiscais do trabalho encontrem situações que, muitas vezes, são completamente exageradas em seu significado e rapidamente enquadradas como ‘trabalho escravo’ ou ‘condições análogas ao trabalho escravo’", e que "o agricultor brasileiro tem estado muito sujeito à acusação de prática de ‘trabalho escravo’, o que se tornou mais frequente a partir de 2003, quando se intensificaram as fiscalizações trabalhistas na agricultura, especialmente nas Regiões Norte e Centro-Oeste".
Em pleno século 21, é espantoso achar normal o trabalho escravo ou análogo e que, no seu combate, o governo exorbita de suas funções, o Ministério Público excede de suas prerrogativas e o Judiciário promove uma justiça de classe com sinal trocado no tempo, como se todos combinassem uma perseguição institucional conjunta aos "coitadinhos" dos fazendeiros que fazem o "favor" de "empregar" trabalhadores rurais "desocupados".
As denúncias sobre casos de trabalho escravo contemporâneo atingem um recorde histórico no Brasil, de acordo com o relatório "
Conflitos no Campo Brasil 2008", elaborado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), que registra 280 ocorrências no ano passado. Ao todo, os casos relatados pela CPT envolveram sete mil trabalhadores, 86 deles crianças e adolescentes, tendo havido 5,2 mil libertações.
O estado do Pará continua apresentando o maior número de denúncias (106). Em segundo lugar está o Mato Grosso (33), seguido de perto pelo Maranhão (27). A maioria dos casos denunciados está vinculada à pecuária (134). Em segundo lugar aparece o ramo de carvão (47). Houve ainda sete casos compilados que uniram trabalho escravo e desmatamento - seis deles foram fiscalizados, com 83 trabalhadores libertados. Em 2008, a Amazônia Legal teve 68% dos registros de trabalho escravo, 48% dos trabalhadores envolvidos e 32% das pessoas resgatadas.
O recorde observado nas denúncias foi acompanhado da intensificação da ação fiscalizadora do governo Lula, que declarou a erradicação e a repressão ao trabalho escravo contemporâneo como prioridades do Estado brasileiro, estabelecendo estratégias de atuação operacional integrada em relação às ações preventivas e repressivas dos órgãos do Executivo, do Judiciário, do Ministério Público e da sociedade civil. O Plano também prevê a aprovação da PEC que altera o art. 243 da Constituição Federal, dispondo sobre a expropriação de terras – sem indenização - onde forem encontrados trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão e que, em muitas situações, tentam fugir da fazenda e são impedidos pelo fazendeiro.
Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, de 1995 a 2002, a Fiscalização do Trabalho do ministério realizou 177 operações em 816 fazendas, lavrando-se 6.085 autos de infração. Já no período de 2003 a 2008, foram realizadas 607 operações, envolvendo 1.369 fazendas fiscalizadas, onde foram lavrados 16.981 autos de infração, o que significa um incremento anual de 272,1% em relação ao período anterior.
O artigo citado, na contramão disso, tenta explicar ideologicamente o injustificável, chegando a afirmar que "o principal objetivo desse trabalhador em eventual fuga da fazenda e posterior retorno trazendo a fiscalização trabalhista não seria apenas evitar o pagamento da dívida contraída com o empreiteiro, mas, talvez muito mais importante, receber a ‘multa’ de vários milhares de reais, comumente imposta pelo fiscal ao agricultor e em favor do trabalhador, sob a acusação de prática de ‘trabalho escravo’ por parte do fazendeiro. Além disso, os trabalhadores ‘libertados’ passam a receber seguro desemprego, sendo possível que, depois, passem a receber também Bolsa Família".
Após mais de século da assinatura da Lei Áurea, o Brasil ainda convive com as marcas deixadas pelo regime colonial-escravista e por disparates escritos por seus neoideólogos. Conforme apresentação do Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, de 2003, assinada pelos então ministros Nilmário Miranda (Direitos Humanos) e Jacques Wagner (Trabalho e Emprego), "a escravidão contemporânea manifesta-se na clandestinidade e é marcada pelo autoritarismo, corrupção, segregação social, racismo, clientelismo e desrespeito aos direitos humanos".

Osvaldo Russo é estatístico e coordenador do Núcleo Agrário Nacional do PT

Convocatória do Encontro que se realizará em Caracas, Venezuela, nos dias 26, 27 e 28 de Junho de 2009.

Na América Latina a resistência contra a destruição da indústria e em defesa dos empregos assumiu diferentes formas. A crítica e seus questionamentos formam parte da discussão do movimento operário e foram os objetos do debate do 1º Encontro Latino-Americano de Empresas Recuperadas, realizado na Venezuela no dia 29 de outubro de 2005. Dizíamos:“Eles fecham, nós abrimos as fábricas. Eles roubam as terras e nós ocupamos. Eles fazem guerras e destroem nações, nós defendemos a paz e a integração soberana dos povos. Eles dividem e nós unimos. Porque somos a classe trabalhadora. Porque somos o presente e o futuro da humanidade”.
Hoje, mais ainda do que em 2005, a situação dos povos da América Latina nos impõe com mais força a necessidade de seguir construindo e aprofundando essa unidade. Não é nenhum presente a conjuntura política atual em nosso continente. São anos de levantes, resistências, projetos e de muito trabalho por parte dos trabalhadores para construir esta oportunidade histórica.
Nosso movimento é anti-imperialista, anti-capitalista. É um grito e um movimento organizado da classe trabalhadora contra o regime de propriedade privada dos grandes meios de produção, que somente pode sobreviver fazendo guerras, explorando e oprimindo os povos.
Sabemos que sempre existiram matizes na nossa América, e muitos governos atuais não são representantes de nossos interesses, mas se apresenta uma conjuntura favorável para construir propostas, debater e colocar a marca dos trabalhadores nos assuntos que nos dizem respeito.
Claro que não será fácil. Vimos, na Bolívia, como reagiram as classes dominantes ante a nacionalização dos recursos, ante o exercício da soberania. Na Venezuela, que com seu avanço revolucionário na educação, na saúde, no campo, não deixa de incomodar a quem sempre viveu a custa do povo e de seus recursos. E assim, seguem produzindo mentiras através de seus meios, medo, fome. Mas apesar disso nem o povo venezuelano nem o povo boliviano se enganaram, e reelegeram Chávez e Evo. Assim como Correa no Equador, e, recentemente, no Paraguai, com a eleição de Lugo pelo povo.
Convocamos todas as empresas recuperadas por seus trabalhadores e as organizações sociais em luta para o “2º Encontro Latino Americano de Empresas Recuperadas pelos Trabalhadores”, unindo as lutas de nosso setor com o restante da classe trabalhadora e em apoio à luta pelo socialismo que vem sendo realizada pelo povo boliviano e venezuelano apoiados pelos trabalhadores de toda a América Latina. Convocamos todos a se somarem aos nossos esforços e nos reunirmos nos dias 25, 26 e 27 de Junho de 2009, em Caracas, Venezuela.
Viva a luta dos trabalhadores das empresas recuperadas!
Viva a luta da classe trabalhadora!
Viva a revolução venezuelana!
Viva a revolução boliviana!
Venceremos!

Contato: fabricasocupadas@terra.com.br

Convocam:
- Comissão Organizadora do “1º Encontro Latino-Americano de Fábricas Recuperadas por Trabalhadores”, Caracas/2005 (Serge Goulart, Brasil: sergegoulart@marxismo.org.br; Eduardo Murua, Argentina: vascoeduardo@yahoo.com.ar; Liliana Pertuy, Uruguai: lpertuy@yahoo.com.ar)
- Frente Revolucionária de Trabalhadores de Empresas em Cogestão e Ocupadas - FRETECO, Venezuela (
pacor5876@gmail.com)
- Central Obrera Boliviana – COB
- Federação Sindical dos Trabalhadores Mineiros da Bolívia - FSTMB(
fstmb@hotmail.com)
- Movimento Nacional de Empresas Recuperadas - MNER, Argentina(
ocuparresistirproducir@yahoo.com.ar)
- Associação Nacional de Trabalhadores Autogestionados - ANTA\CTA, Argentina(
barriosmario_ust@speedy.com.ar)
- Central Unitária dos Trabalhadores (CUT-Autêntica), Paraguai(
cutautentica@hotmail.com)
- Coordenação de Empresas Recuperadas por Trabalhadores, Paraguai
- Movimento das Fábricas Ocupadas, Brasil (
fabricasocupadas@terra.com.br)

terça-feira, 5 de maio de 2009

MP 458 sela a contra-reforma agrária do governo Lula

ESCRITO POR ARIOVALDO UMBELINO
04-MAI-2009


O governo de Luiz Inácio da Silva abandonou definitivamente a reforma agrária como bandeira política em seu segundo mandato. O II Plano Nacional da Reforma Agrária (PNRA) acabou em 2007 e o governo não colocou na agenda política de 2008 a continuidade da reforma agrária através da elaboração do III PNRA. Dessa forma, retirou-a de suas metas políticas.
A análise dos cinco anos de vigência do II PNRA, entre 2003 e 2007, revela que, embora o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o INCRA tenham divulgado o número oficial de 448.954 famílias assentadas, estes dados referem-se às Relações de Beneficiários emitidas (RBs). Portanto, desagregando-se estes resultados finais, a Meta 1 do II PNRA terminou com apenas 163 mil famílias referentes aos assentamentos novos, ou seja, a verdadeira reforma agrária.
Entre a diferença restante estão 113 mil famílias relativas à Meta 2, ou seja, a regularização fundiária. Estão também as 171 mil famílias enquadradas na reordenação fundiária, pois são fruto principalmente do reconhecimento de assentamentos antigos. E, por fim, estão também as 2 mil famílias de reassentamentos de atingidos por barragens, que jamais poderiam estar enquadrados como reforma agrária. Assim, o governo do PT termina o II PNRA cumprindo apenas 29,6% da Meta 1 estabelecida, de 550 mil famílias novas assentadas.
Além desses dados, o resultado de 2008 é muito mais baixo ainda, pois o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), entre as mais de 70 mil Relações de Beneficiários emitidas, assentou apenas 20 mil famílias novas relativas à reforma agrária. A diferença também ficou por conta da regularização fundiária (25 mil), reordenação fundiária (24,7 mil) e reassentamentos de atingidos por barragens (0,3 mil famílias). Dessa forma, analisando-se os dados relativos aos seis anos do governo atual verifica-se que foram assentadas apenas pouco mais de 180 mil famílias pela reforma agrária. Este baixo desempenho deriva da política deliberada do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)/INCRA de não se fazer a reforma agrária prevista no II PNRA. Por isso mais de 150 mil famílias acampadas continuam debaixo das lonas pretas na beira das estradas do país.
Como todos sabem, a defesa da reforma agrária sempre foi uma importante bandeira do pensamento progressista e revolucionário, mas o silêncio de parte expressiva dos intelectuais parece indicar que ela foi arreada. Alguns, inclusive, têm se dedicado a produzir textos mostrando que a reforma agrária não é mais necessária historicamente.
Certamente, continuam não levando em consideração em suas análises a continuidade dos conflitos no campo que em 2008 envolveram mais de 500 mil famílias, como revelam os dados divulgados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Esta luta renhida pela terra e pelo território não se limitou apenas ao campesinato multifacetado do país, mas atingiu também fortemente os povos indígenas e os remanescentes de quilombolas.
Assim, volto a repetir, a política de reforma agrária do governo de Luís Inácio da Silva está marcada por dois princípios: não fazê-la nas áreas de domínio do agronegócio, e fazê-la apenas nas áreas onde ela possa "ajudar" o agronegócio. Ou seja, a reforma agrária está definitivamente acoplada à expansão do agronegócio no Brasil.
Este processo contraditório contém a posição governamental de continuar mentindo que está fazendo a reforma agrária, pois caiu sensivelmente o número de famílias novas assentadas nos últimos três anos: em 2006, foram 45 mil, em 2007, somente 31 mil, e em 2008, apenas 20 mil. E contém também a mudança de orientação política a partir de 2008, quando o governo optou pela regularização fundiária através da MP 422. Revela-se assim, de forma cada vez mais clara, a opção do governo do PT pela contra-reforma agrária. Esta opção está revelada por inteira na opção, no ano passado, pela legitimação das terras públicas apropriadas ilegalmente na Amazônia legal pelos grileiros médios com área até 1.5 mil hectares. E reforçou-se depois, em 2009, com a MP 458, que, de forma descarada, abriu a possibilidade para a aquisição das terras griladas até 2.5 mil hectares, dando preferência aos grileiros que as apropriaram ilegalmente.
A justificativa do governo atual para abraçar a legalização das terras públicas do INCRA na Amazônia legal traz uma farsa populista, pois afirmam que vão beneficiar os pequenos posseiros. Na realidade, os pequenos posseiros, que pela legislação atual já têm este direito constitucional da legitimação de suas posses, ocupam apenas 20% dessas terras. E mais, nos primeiros seis anos deste governo, o INCRA muito pouco fez para regularizar essas posses, pois atingiu apenas 17% da Meta 2 estabelecida no II PNRA.
Assim, a regularização fundiária vai beneficiar os grileiros do agronegócio que de forma ilegal apoderam-se das terras públicas do INCRA. E mais, esta opção revela que o INCRA não vai solicitar na justiça a reintegração de posse de suas terras griladas, como manda a legislação em vigor, mas vai tentar garantir as terras griladas para o agrobanditismo. É por isso que a violência continua na Amazônia legal.
Esta opção pela regularização da grilagem das terras públicas revela que o governo de Luiz Inácio da Silva está substituindo a política de reforma agrária pela política de regularização fundiária. Consolida-se dessa forma, mais uma vez, a vitória do agronegócio na questão agrária brasileira e a adesão definitiva da política agrária e fundiária do MDA/INCRA aos interesses do agrobanditismo, dos grileiros de terra públicas do INCRA e da reforma agrária na Amazônia Legal. As assinaturas pelo ministro do MDA e pelo presidente da República da MP 422 e da MP 458 refletem, pois, a consolidação da contra-reforma agrária do governo petista no segundo mandato.
Todos estes atos aparentemente legais revelam o "esforço" do MDA/INCRA em tentar, a todo custo, mudar a legislação para ampliar a área passível de regularização fundiária ou de alienação aos ocupantes ilegais das terras públicas sob sua responsabilidade. Esta adesão à regularização da grilagem revela-se nas notícias no site do INCRA: "agora eles [os grileiros] poderão comprar do governo federal as terras que já ocupavam há anos e não vão precisar concorrer com outros interessados" ("Assinada MP para regularização fundiária da Amazônia - Publicado em: 26/03/08" - http://www.incra.gov.br).
Estas ações de dilapidação do patrimônio público vão entregar para o agronegócio mais de 115 milhões hectares de terras públicas potencialmente devolutas e mais 67,8 milhões de hectares que, inclusive, são de propriedade do Incra e estão griladas. Deste total, a área ocupada pelos pequenos posseiros (284 mil) é de apenas 17 milhões de hectares. Portanto, é preciso continuar afirmando que o objetivo da política de contra-reforma agrária do governo de Luiz Inácio da Silva no segundo mandato é, na verdade, legalizar a grilagem de mais de 182 milhões de hectares de terras públicas e devolutas constitucionalmente da reforma agrária, dos povos indígenas, dos remanescentes de quilombolas e da proteção ambiental.

Ariovaldo Umbelino é professor titular de Geografia Agrária pela Universidade de São Paulo (USP). Estudioso dos movimentos sociais no campo e da agricultura brasileira, é autor, entre outros livros, de "Modo capitalista de produção (Ática, 1995)", "Agricultura camponesa no Brasil" (Contexto, 1997).

Originalmente publicado em
http://www.radioagencianp.com.br

segunda-feira, 4 de maio de 2009

IV JORNADA DE ESTUDOS EM ASSENTAMENTOS RURAIS


Os assentamentos rurais fazem parte da realidade agrária brasileira, bem como, os movimentos sociais no campo que seguem com sua luta em demanda por um pedaço de terra que garanta a manutenção e a dignidade de famílias de trabalhadores dispostos a fazer da atividade agrícola seu principal modo de sobrevivência. O Brasil resolveu sua questão agrícola com a modernização da agricultura, mas a questão agrária continua sendo foco de conflitos e entraves para o desenvolvimento pleno e sustentável de importante parcela do agro nacional representada pela agricultura familiar.
A IV Jornada pretende dar continuidade às discussões e reflexões desencadeadas nas Jornadas anteriores, sem contudo deixar de incluir elementos novos cuja importância está diretamente relacionada com as constantes transformações que a realidade impõe aos assentamentos rurais.

Clique:
http://www.feagri.unicamp.br/jornadadeassentamentos/Jornada/Home.html

domingo, 3 de maio de 2009

Um 1º de Maio contra a Precariedade do Trabalho




por João Camargo
O movimento internacional MayDay iniciou-se em Milão, no ano de 2001. Reune trabalhadores em condição precárias, fenómeno que se alastra devido à onda neoliberal que por todo o mundo se desencadeou sobre o Trabalho, A força da juventude desempregada e precária serviu de ignição para a disseminação deste tipo de organização. Esta une gente de todo tipo, idade e formação. Age através de assembleias públicas, onde é dada voz a todos os presentes — num processo decisório trabalhoso mas consensual. Actualmente o movimento MayDay está presente em Lisboa, Porto, Aachen, Berlim, Bremen, Copenhaga, Den Bosch, Genebra, Gent, Gornja Radgona, Hamburgo, Hanau, Helsínquia, Liége, Ljubljana, Madrid, Málaga, Maribor, Milão, Nápoles, Palermo, Terrassa, Tóquio, Tubingen, Viena e Zurique.
Em Lisboa as manifestações do MayDay incluíram a invasão de um centro de emprego, o encerramento de empresas de trabalho temporário na área metropolitana e acções teatrais no centro da cidade. Além disso, este ano – pela terceira vez – o MayDay irá participar da manifestação da CGTP do 1º de Maio.
No Porto, o ano de 2009 assinalará pela primeira vez a presença do MayDay nas manifestações do 1º de Maio. Em Coimbra e em Évora já houve acções relacionadas com a precariedade que se associaram ao nome Mayday. Entretanto, neste 1º de Maio não estão previstas manifestações organizadas.
Dentre as "soluções" capitalistas para a crise, a precariedade tornou-se uma das mais importantes. Ela passou a ser uma arma do patronato contra os trabalhadores com contratos firmes. As ameaças são diárias. A torto e a direito a comunicação social faz bandeira da "flexibilidade" que, segundo ela, aumentaria a "competitividade". O jogo é histórico: atirar uns contra os outros na base, fazer despontar preconceitos e ideias forjadas, em favor de uma minoria que é cada vez mais parasítica e pretende re-estratificar solidamente as sociedades de todo o mundo.


O CASO DOS CALL-CENTERS

Os call-centers são muito representativos desta jovem precariedade, rejuvenescida, mascarada e imposta a toda uma geração. Nestes, o homem-ferramenta é a chave para a manutenção da riqueza nas mãos dos mesmos de sempre. Assim, há que precarizá-lo, no trabalho como na vida, retirar-lhe as alternativas e privá-lo da sua dignidade, sentimento inútil no mundo de capital.
Nos dias de hoje, a especialização começa desde cedo. A triagem inicia-se na infância – são vedadas as oportunidades, marginalizadas comunidades, regiões e grupos de pessoas incómodas para o sistema. A padronização implica a escolha do futuro aos 15 anos, a privação de conhecimentos generalistas e de uma visão ampla da realidade. Num sistema universitário que cada vez mais se afasta das possibilidades financeiras reais da maioria da população, os cursos apostam na especialização e as grandes empresas já quase ditam os currículos obrigatórios para a conclusão dos ciclos de ensino universitário.
Em todas as etapas deste percurso possível as pessoas vão saindo para a vida activa: aí, as opções vão cada vez mais ficando também padronizadas – contratos precários, contratos a curto prazo, recibos verdes. Com vínculos presos por fios e de valores continuamente decrescentes, as vidas dos trabalhadores são joguete nas mãos de empregadores – sendo o Estado um dos principais elementos a usufruir destas novas (renovadas) condições de trabalho, a par das grandes empresas nacionais e multinacionais. Os bancos arrecadam com os despojos – é-lhes permitido controlar as pessoas, cujos vencimentos não permitem a manutenção de uma vida independente e digna e que se vêm obrigadas a contrair empréstimos a estes usurários.
A precariedade é a ferramenta básica para a manutenção deste ciclo vicioso, dividindo os trabalhadores em grupos de acordo com o seu estatuto contratual e procurando quebrar os laços de solidariedade que os unem. No negócio dos mass media que substituiu a imprensa, e onde a precariedade grassa, chamaram-lhe flexibilidade. Segundo fonte incontroversa (de acordo com os padrões vigentes nos tais media), a OCDE, 60% da população activa mundial labora em condições precárias. Considerando a fonte, será de esperar que a realidade esconda números obviamente superiores. Em Portugal, serão 2 milhões os trabalhadores precários. E o futuro de que nos informam diariamente promete muitos mais. A precariedade é o novo nome dado às condições que antes se chamaram de servidão, feudalismo e escravatura, e a marcha parece deslocar-se nesse mesmo sentido. Contra isto luta o MayDay.O desemprego é a derradeira justificação para a restauração dos sistemas de exploração contra os quais o mundo ocidental batalhou nos últimos 200 anos. Não obstante, a memória dos trabalhadores e trabalhadoras, velhos e novos, portugueses e imigrantes, não desapareceu. Pelo contrário, solidifica-se e cerram-se fileiras para retomar um caminho que já foi percorrido. O mundo encontra-se em retrocesso social. Anunciam-se graves convulsões pela defesa de um mundo de futuro, contra um regresso ao passado.
O MayDay quer o Futuro, mas não um qualquer futuro. Por isso, o Precariado dá Luta!


MayDayInternacional: www.euromayday.org/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/