terça-feira, 16 de março de 2010

Atingidos reforçam jornada de lutas em várias barragens do país

As atividades fazem parte da Jornada do Dia Internacional de Luta contra as Barragens

Nesta semana o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) organiza acampamentos em diversas regiões do país. O objetivo é reforçar o debate sobre os direitos dos atingidos e sobre o modelo energético brasileiro. As atividades fazem parte da Jornada do Dia Internacional de Luta contra as Barragens, comemorado no dia 14 de março.

Em Altamira (PA), cerca de 300 atingidos por barragens participam desde domingo (14) do acampamento que tem como lema “Contra a barragem de Belo Monte, em defesa da Amazônia”. Ontem (15), eles marcharam em direção ao escritório da Eletronorte para protestar contra a construção da UHE Belo Monte e contra o descaso do governo em relação aos atingidos pela barragem de Tucuruí, construída há 25 anos. Historicamente Belo Monte vem sendo contestada por organizações nacionais e internacionais pelo dano ambiental e social que representa. O MAB já se mostrou contrário à sua construção inclusive em audiência com o presidente Lula, em fevereiro deste ano.

Em Minas Gerais, os atingidos por barragens estão mobilizados em duas regiões do estado, nas barragens de Aimorés e Fumaça. Os acampamentos iniciaram também no domingo e os atingidos estão cobrando a garantia de seus direitos, como reestruturação das comunidades atingidas e reassentamento. Na semana passada, o MAB esteve reunido com o Instituto Nacional de Colonização da Reforma Agrária (INCRA): “Na reunião, o Instituto prometeu às 1900 famílias de atingidos sem terra do estado, que, nas primeiras semanas de abril, eles irão fazer o cadastramento dessas famílias para iniciar o processo de reassentamento”, disse Claret Fernandes, coordenador do MAB na região.

Em Rondônia, cerca de 300 atingidos pelas barragens de Samuel, Santo Antônio e Jirau, montaram um acampamento na comunidade de Mutum, ao lado da BR 364. Além de discutir a pauta nacional de reivindicação, o acampamento tem o objetivo de elaborar a pauta dos atingidos pela barragem de Jirau. Eles reivindicam, entre outras coisas, o direito ao reassentamento e a um plano de melhoria das condições de vida das famílias atingidas, já que estão sendo expulsas de suas terras sem garantias de indenização.

Em Sobradinho (BA), 500 pessoas atingidas pelas barragens de Sobradinho, Itaparica, Riacho Seco e Pedra Branca iniciaram ontem um acampamento com o objetivo de reforçar a articulação entre as famílias e discutir o modelo energético brasileiro e a sua implicância nas questões sociais e ambientais. Durante a atividade, eles pretendem intensificar o diálogo sobre os grandes projetos, com foco na Transposição do Rio São Francisco e nas barragens. Na oportunidade, será viabilizado também o intercâmbio entre os atingidos, no sentido de construir uma pauta conjunta de reivindicação das comunidades.

Em Santa Catarina, hoje (16), os atingidos por barragens deste estado e do Rio Grande do Sul montaram dois acampamentos, nos municípios de Capão Alto e Águas do Chapecó. Um dos principais pontos de reivindicações é a luta pela terra. Cerca de 7 em cada 10 atingidos não recebem nenhum tipo de direito das empresas construtoras das barragens, quando são expulsos de suas terras. Por isso, durante o acampamento, o INCRA dos dois estados irá cadastrar todas as famílias que ainda não foram reassentadas.

Em Tocantins, os atingidos pela Usina Hidrelétrica de Estreito, acampados desde julho de 2009, próximo ao canteiro de obras da barragem, farão uma grande assembléia de avaliação dos nove meses de acampamento. “A barragem de Estreito é o exemplo do que não pode acontecer com um rio, com as pessoas e com o meio ambiente. As empresas construtoras da usina negam nossos direitos, e com recursos do BNDES, estão transformando o rio Tocantins num imenso lago”, disse um coordenador da região. Estreito é a sétima usina hidrelétrica no Rio Tocantins, para o qual estão previstas pelo menos outras três.

O MAB alerta que as populações atingidas por barragens de todo o país estão cansados de esperar, sem serem atendidas, e isso pode acirrar os conflitos em algumas regiões. Recentemente, em audiência com o presidente Lula, o movimento alertou o governo para este risco, inclusive para o que pode acontecer em Altamira, caso o governo siga com o projeto da barragem de Belo Monte. “Com a jornada de lutas queremos o cancelamento dessa barragem, também pretendemos pressionar o governo para avançar nessa pauta, implementando políticas públicas para melhoria das condições de vida nas comunidades atingidas por barragens, já estamos cansados de esperar”, disse José Josivaldo Alves, da coordenação nacional do MAB.


Movimento dos Atingidos por Barragens

www.mabnacional.org.br

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