Milhares de manifestantes na Lituânia, Letônia e Bulgária atacaram edifícios governamentais, exigindo a renúncia dos governos, enquanto o desemprego aumenta na Europa Oriental.
Por Heather Cottin, para o Workers World
Os padrões de vida nesses países sempre estiveram abaixo dos padrões de muitos países do Ocidente. Mas durante a existência da URSS e do bloco socialista, trabalhadores desses países tinham trabalho assegurado, acesso garantido à educação, à saúde pública e à aposentadoria.
Especialistas afirmam que a região sofrerá um aumento no desemprego de 15 milhões para 18 milhões de pessoas nos próximos meses, com nenhuma esperança de melhora, já que os empregos para imigrantes estão desaparecendo na Europa Ocidental e nos Estados Unidos.
O analista Neil Shearing da empresa Capital Economics de Londres afirma que o "desemprego nos países bálticos pode ultrapassar facilmente 15% da população economicamente ativa. A indústria literalmente entrou em colapso, com a diminuição da demanda" na Europa Ocidental e nos Estados Unidos. "A recessão englobará a economia inteira da região", prosseguiu, em um programa transmitido pela Rádio Europa Livre em 29 de janeiro.
A economia capitalista mundial está entrando em colapso. Os regimes direitistas que dirigiram esses países desde o início dos anos 1990 estão impondo severos cortes nos programas sociais remanescentes. Como resultado disso, os trabalhadores se rebelam.
Em 16 de janeiro mais de 10 mil pessoas se concentraram na catedral de Riga, do século 13, e marcharam até o parlamento para protestar contra o programa econômico do governo da Letônia. Em uma entrevista concedida ao jornal australiano Age, em 1.º de fevereiro, o diretor do Banco Central afirmou que a economia da Letônia estava "clinicamente morta".
Dias depois cenas similares foram vistas nas ruas de Vilnius, capital da Lituânia. De acordo com a agência World Press, milhares de pessoas enraivecidas se reuniram diante do parlamento, gritando "ladrões! Ladrões!". Sua ira dirigia-se diretamente contra o governo, que aplicou recietas prescritas pelo FMI para "reformar o mercado". Essas receitas resultaram em corrupção, cortes drásticos nos investimentos do Estado em programas sociais, inflação, aumento dos impostos e agora em um enorme salto no desemprego.
Enquanto jovens atiravam pedras contra edifícios do governo, médicos, policiais, camponeses e trabalhadores protestavam contra baixos salários e a política de austeridade do governo.
Na semana posterior, estudantes, professores, médicos e servidores públicos se reuniram diante do parlamento da Bulgária exigindo direitos sobre a economia e um fim à corrupção.
De acordo com a revista Business Week, de 29 de janeiro, a Estônia e a Hungria estão à beira de levantes similares. O índice de produção industrial da Hungria chegou ao seu nível mais baixo em 16 anos. A moeda local bateu todos os recordes de queda em relação ao euro, ao mesmo tempo que o governo anunciava mais cortes de investimentos, de acordo com o jornal The Age, em 1.º de fevereiro. A economia da Ucrânia, da mesma forma, está em queda livre.
Em uma entrevista dada à rádio BBC de Londres em 22 de janeiro, Dominique Strauss-Kahn, chefe do FMI, fez previsões de mais levantes, afirmando que eles podem acontecer "por todos os lugares. Podem piorar nos próximos meses".
As repúblicas da antiga URSS e a Europa Oriental estão "mais vulneráveis, tanto economicamente quanto politicamente, que há meses", afirmou Joanna Gorska, chefe do gabinete Eurásia do instituto Exclusive Analysis, segundo artigo da agência Reuters, de 30 de janeiro.
Por que essas nações anteriormente socialistas — hoje chamadas de Nova Europa — estão diante de tal devastação econômica e levantes das massas?
Terapia de choque mata 'pacientes'
Toda a Europa Oriental foi forçada, após a "queda do comunismo", a aceitar uma doutrina econômica chamada "terapia de choque". Elaborada pelo professor de economia Jeffrey-Sachs, treinado em Harvard, essa política foi caracterizada pela privatização total e frenética de indústrias estatais, achatamento salarial, desemprego em massa e desregulamentação de preços. Terapia de choque que envolveu cortes drásticos de investimentos na saúde, na educação e redução de benefícios e aposentadorias.
"Homens de negócios, e não economistas, é que vão determinar as novas tecnologias, os sistemas de organização e as técnicas de gerenciamento que deverão ser a fonte do revigoramento da Europa Oriental", afirmou Sachs à revista britânica The Economist, em 13 de janeiro de 1990.
Com o setor público desmantelado, corporações ocidentais levaram vantagem em cima do trabalho barato de uma massa de trabalhadores bem educada mas desesperada diante das novas condições. Desde 1989 mais de 70 mil empresas foram privatizadas na Europa Central e Oriental.
O "boom" que se seguiu, alimentado pelo crédito fácil, investimento a partir de fontes obscuras, especulação desenfreada e sórdidos negócios imobiliários, virou pó diante do colapso global do sistema financeiro e do desaparecimento dos mercados globais.
O sofrimento humano resultante é tão vasto que a revista britânica especializada em medicina, The Lancet, calculou em um artigo recente que cerca de 1 milhão de pessoas morreram prematuramente nos anos 1990 após a extinção do bloco socialista na Europa Oriental, devido à doutrina de choque, à privatização em massa de empresas estatais, à desregulamentação dos preços acompanhada de drástica redução de investimentos em saúde e educação, assim como redução de benefícios sociais e aposentadorias.
O artigo sublinha que a expectativa de vida caiu em cinco para sete anos em alguns países recém capitalistas da Europa Oriental, e que "em meados da década de 1990, nos países que sofreram transformações no período pós-soviético, houve mais de 3 milhões de mortes prematuras e a região perdeu, no mínimo, 10 milhões de homens adultos".
A Organização Internacional do Trabalho declarou que a terapia de choque causou um aumento de 42% nas mortes de homens adultos na Rússia, no Cazaquistão, na Letônia, na Lituânia e na Estônia, entre 1991 e 1994, coincidindo com um aumento de 305% na taxa de desemprego, de acordo com artigo publicado pela agência France Presse em 14 de janeiro.
As moedas tcheca, polonesa, húngara e romena desvalorizaram entre 3,8% e 11,6% desde o início de janeiro deste ano e acredita-se que vão cair ainda mais.
Existe, entretanto, uma alternativa à aceitação do desemprego e da morte: o renascimento da luta operária. De acordo com seu próprio ponto de vista classista, o estrategista Nigel Rendell, do Royal Bank of Canada advertiu que "governos entrando em colapso, seguido de rápidos movimentos para a esquerda" em toda a Europa Oriental e também na ex-URSS, segundo a Reuters noticiou em 30 de janeiro.
Workers World
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Rebelião de trabalhadores na Europa Oriental
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