quinta-feira, 27 de agosto de 2009

É preciso um novo modelo agrícola para o país

Por João Pedro Stédile
Publicado na Folha de S.Paulo de 10/08/09

OS PROBLEMAS do desenvolvimento do meio rural e da construção de uma sociedade menos desigual, que resolva os problemas da pobreza, da educação e do direito à terra, passam atualmente por duas iniciativas complementares.
De forma urgente, o governo precisa enfrentar os problemas mais agudos da pobreza no campo. O governo Lula está em dívida com a reforma agrária. Temos ao redor de 90 mil famílias acampadas à beira de estradas, passando por todo o tipo de necessidade por anos e anos.
Em 2005, o governo prometeu cumprir a lei agrária e atualizar os índices de produtividade para desapropriação, que são de 1975. Até hoje, nada mudou. Em sete anos, apenas 40 mil casas em assentamentos foram construídas com crédito público. O pior é que, por causa da crise, cortaram pela metade os recursos do Orçamento para reforma agrária neste ano.
Em segundo lugar, o MST tem procurado debater com a sociedade e com o governo a necessidade de construirmos um novo modelo de produção na agricultura.
A partir dos anos 90, com a hegemonia do capital financeiro e das empresas transnacionais, foi se implantando o modo de produzir do chamado agronegócio, totalmente dependente desses interesses.
O jeito de produzir do agronegócio está baseado em latifúndios voltados para a monocultura de cana, de café, de soja, de laranja, de algodão ou para a pecuária extensiva.
Os latifundiários, proprietários de áreas com mais de mil hectares, aliaram-se a empresas transnacionais, que fornecem os insumos -sementes transgênicas, fertilizantes químicos, venenos agrícolas e máquinas.
Depois disso, conglomerados estrangeiros passam a controlar o mercado com a garantia da compra das commodities, impondo os preços. A maior parte da produção se destina ao mercado externo e, por ter que repartir o lucro, fazendeiros procuram aumentar a escala, concentrando ainda mais terra e produção. Isso é perverso para os interesses da economia nacional e do povo brasileiro.
Esse modelo se sustenta no elevado uso de agrotóxicos, em vez de mão de obra e práticas agroecológicas. Não é por nada que o Brasil se tornou o maior consumidor mundial de venenos agrícolas, que degradam o solo e contaminam as águas e os alimentos que vão para o estômago.
A classe média alta é sábia e busca consumir produtos orgânicos, mas o povo não tem alternativa. Além da intoxicação, causa desequilíbrio no ambiente, com a monocultura que destrói a biodiversidade.
O agronegócio é totalmente dependente do capital financeiro. O governo terá que disponibilizar R$ 97 bilhões em crédito para produzir R$ 120 bilhões, o valor do PIB do agronegócio, que não consegue sozinho comprar os insumos e produzir.
Ou seja, a poupança nacional é usada para viabilizar a produção e o lucro de latifundiários e empresas transnacionais. Esse modelo é inviável do ponto de vista econômico, pois nenhum país se desenvolveu exportando matéria-prima. Os Estados Unidos, usados como modelo, exportam apenas 12% de sua produção agrícola.
O país utiliza 200 milhões de hectares para criar 240 milhões de cabeças de boi de forma extensiva, que se destinam basicamente para a exportação, sem nenhum valor agregado.
Além do problema do efeito estufa, essas exportações rendem ao redor de US$ 5 bilhões por ano. Os 7.000 operários da Embraer, que produzem aviões e peças, exportam praticamente o mesmo valor por ano.
Infelizmente, o governo Lula fez uma composição com as forças do agronegócio, com a ilusão de que sustentariam o desenvolvimento do campo. No entanto, deveria dar prioridade à reforma agrária e à pequena agricultura, deixando o agronegócio para o mercado, que tanto defendem.
Os movimentos do campo, da Via Campesina, da Contag, das pastorais sociais, que compõem o Fórum Nacional pela Reforma Agrária, defendemos que o Estado e o governo priorizem uma nova política agrícola, com base na democratização da terra, cada vez mais concentrada e valorizada.
Em segundo lugar, a prioridade deve ser a produção de alimentos sadios para o mercado interno.
Em terceiro lugar, a interiorização de pequenas e médias agroindústrias sob controle de cooperativas de trabalhadores. Aliás, é nesse tipo de atividade que deveríamos aplicar os recursos públicos do BNDES.
Em quarto lugar, o Estado deve estimular a agroecologia, que respeita o meio ambiente e preserva os bens da natureza.
Em quinto lugar, é urgente um programa de universalização da educação, em todos os níveis, para povoados do meio rural.
É isto que a sociedade precisa debater com profundidade: de qual modelo agrícola precisamos no nosso país para acabar com a pobreza, distribuir renda e garantir o desenvolvimento?

JOÃO PEDRO STEDILE, 55, economista, é integrante da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da Via Campesina.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

NOTA PÚBLICA SOBRE O ASSASSINATO DE ELTON BRUM PELA BRIGADA MILITAR DO RIO GRANDE DO SUL



PELO MST


O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vem a público, manifestar novamente seu pesar pela perda do companheiro Elton Brum, manifestar sua solidariedade à família e para:

  1. Dnunciar mais uma ação truculenta e violenta da Brigada Militar do Rio Grande do Sul que resultou no assassinato do agricultor Elton Brum, 44 anos, pai de dois filhos, natural de Canguçu, durante o despejo da ocupação da Fazenda Southall em São Gabriel. As informações sobre o despejo apontam que Brum foi assassinado quando a situação já encontrava-se controlada e sem resistência. Há indícios de que tenha sido assassinado pelas costas.
  2. Denunciar que além da morte do trabalhador sem terra, a ação resultou ainda em dezenas de feridos, incluindo mulheres e crianças, com ferimentos de estilhaços, espadas e mordidas de cães.
  3. Denunciamos a Governadora Yeda Crusius, hierarquicamente comandante da Brigada Militar, responsável por uma política de criminalização dos movimentos sociais e de violência contra os trabalhadores urbanos e rurais. O uso de armas de fogo no tratamento dos movimentos sociais revela que a violência é parte da política deste Estado. A criminalização não é uma exceção, mas regra e necessidade de um governo, impopular e a serviço de interesses obscuros, para manter-se no poder pela força.
  4. Denunciamos o Coronel Lauro Binsfield, Comandante da Brigada Militar, cujo histórico inclui outras ações de descontrole, truculência e violência contra os trabalhadores, como no 8 de março de 2008, quando repetiu os mesmos métodos contra as mulheres da Via Campesina.
  5. Denunciamos o Poder Judiciário que impediu a desapropriação e a emissão de posse da Fazenda Antoniasi, onde Elton Brum seria assentado. Sua vida teria sido poupada se o Poder Judiciário estivesse a serviço da Constituição Federal e não de interesses oligárquicos locais.
  6. Denunciamos o Ministério Público Estadual de São Gabriel que se omitiu quando as famílias assentadas exigiam a liberação de recursos já disponíveis para a construção da escola de 350 famílias, que agora perderão o ano letivo, e para a saúde, que já custou a vida de três crianças. O mesmo MPE se omitiu no momento da ação, diante da violência a qual foi testemunha no local. E agora vem público elogiar ação da Brigada Militar como profissional.
  7. Relembrar à sociedade brasileira que os movimentos sociais do campo tem denunciado há mais de um ano a política de criminalização do Governo Yeda Crusius à Comissão de Direitos Humanos do Senado, à Secretaria Especial de Direitos Humanos, à Ouvidoria Agrária e à Organização dos Estados Americanos. A omissão das autoridades e o desrespeito da Governadora à qualquer instituição e a democracia resultaram hoje em uma vítima fatal.
  8. Reafirmar que seguiremos exigindo o assentamento de todas as famílias acampadas no Rio Grande do Sul e as condições de infra-estrutura para a implantação dos assentamentos de São Gabriel.

Exigimos Justiça e Punição aos Culpados!

Por nossos mortos, nem um minuto de silêncio. Toda uma vida de luta!

Reforma Agrária, por justiça social e soberania popular!
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra



O Centro de Estudos, Pesquisa e Direitos Humanos (CEPDH)manifesta sua indignação à ação da Brigada Militar do estado do Rio Grande do Sul na desocupação da Fazenda Southal, que resultou na morte de Elton Brum da Silva, além de dezenas de pessoas feridas, na manhã do dia 21 de agosto de 2009, em São Gabriel.
O CEPDH manifesta seu apoio e solidariedade aos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e à família de Elton Brum da Silva e todos/as os/as feridos/as, manifestando-se ainda contra a criminalização dos movimentos sociais que está em prática no Rio Grande do Sul
A forma agressiva e truculenta da ação da Brigada Militar é inaceitável, pois reflete uma agressão à democracia e aos que se organizam para lutar por seus direitos fundamentais.
É de extrema importância que o relacionamento da sociedade com as forças da ordem seja marcado pelo respeito, e não pela agressão (como é próprio nos regimes ditatoriais).
Assim, esperamos que haja das autoridades competentes uma rigorosa investigação e punição dos responsáveis diretos e indiretos, com a maior brevidade.

Caxias do Sul, 21 de agosto de 2009.
Centro de Estudos, Pesquisa e Direitos Humanos – CEPDH


NOTA PÚBLICA DO PT/RS

O Partido dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul manifesta seu pesar pelo falecimento do trabalhador rural sem terra, Elton Brum da Silva, morto com um tiro disparado durante ação truculenta realizada pela brigada militar do Estado hoje pela manhã, em São Gabriel.
Entidades que lutam pelos direitos humanos no Rio Grande, no Brasil e internacionalmente, tem pré-anunciado que acabaria em tragédia a atual política de segurança que busca, a todo momento, criminalizar e tratar como caso de polícia os movimentos sociais no RS.
Esperamos que haja das autoridades competentes uma rigorosa investigação e punição dos responsáveis diretos e indiretos por mais este episódio que mancha a história do nosso Estado.
O PT reafirma seu compromisso histórico com a reforma agrária e os que por ela lutam.
Porto Alegre, 21 de agosto de 2009.
Olívio de Oliveira Dutra
Presidente do Partido dos Trabalhadores - RS

REDISTRIBUIR O TEMPO DE TRABALHO

24 agosto, 2009

Avanços técnico-científicos deste começo de século criam nas sociedades modernas condições superiores para a reorganização econômica e trabalhista. De um lado, o aparecimento de novas fontes de geração de riqueza, cada vez mais deslocadas do trabalho material, impõe saltos significativos de produtividade. Isso porque o trabalho imaterial liberta-se da existência prévia de um local apropriado para o seu desenvolvimento, conforme tradicionalmente ocorre em fazendas, indústrias, canteiros de obras, escritórios e supermercados, entre tantas outras formas de organização econômica assentadas no trabalho material.

Com a possibilidade de realização do trabalho imaterial em praticamente qualquer local ou horário, as jornadas laborais aumentam rapidamente, pois não há, ainda, controles para além do próprio local de trabalho. Quanto mais se transita para o trabalho imaterial sem regulação (legal ou negociada), maior tende a ser o curso das novas formas de riqueza que permanecem -até agora- praticamente pouco contabilizadas e quase nada repartidas entre trabalhadores, consumidores e contribuintes tributários.

Juntas, as jornadas de trabalho material e imaterial resultam em carga horária anual próxima daquelas exercidas no século 19 (4.000 horas). Em muitos casos, começa a haver quase equivalência entre o tempo de trabalho desenvolvido no local e o realizado fora dele. Com o computador, a internet, o celular, entre outros instrumentos que derivam dos avanços técnico-científicos, o trabalho volta a assumir maior parcela no tempo de vida do ser humano.
De outro lado, a concentração das ocupações no setor terciário das economias. No Brasil, 70% das novas ocupações abertas são nesse setor. Para esse tipo de trabalho, o ingresso deveria ser acima dos 24 anos de idade, após a conclusão do ensino superior, bem como acompanhado simultaneamente pela educação para toda a vida.
Com isso, distancia-se da educação tradicional, voltada para o trabalho material, cujo estudo atendia sobretudo crianças, adolescentes e alguns jovens. Tão logo concluído o sistema escolar básico ou médio, iniciava-se imediatamente a vida laboral sem mais precisar abrir um livro ou voltar a frequentar a escola novamente.
Para que os próximos anos possam representar uma perspectiva superior à que se tem hoje, torna-se necessário mudar o curso originado no passado. Ou seja, o desequilíbrio secular da gangorra social. Enquanto na ponta alta da gangorra estão os 10% mais ricos dos brasileiros, que concentram três quartos de toda a riqueza contabilizada (”Os Ricos no Brasil”, Cortez, 2003), há apenas 6% da população que responde pela propriedade dos principais meios de produção da renda nacional (”Proprietários: Concentração e Continuidade”, Cortez, 2009).
Em contrapartida, a ponta baixa da gangorra acumula o universo de excluídos (”Atlas da Exclusão Social no Brasil”, Cortez, 2004), que se mantêm historicamente prisioneiros de brutal tributação a onerar fundamentalmente a base da pirâmide social. No mercado nacional de trabalho também residem mecanismos de profundas desigualdades, como no caso da divisão do tempo de trabalho entre a mão de obra.
Em 2007, por exemplo, a cada 10 trabalhadores brasileiros, havia 1 com jornada zero de trabalho (desempregado) e quase 5 com jornadas de trabalho superiores à jornada oficial (hora extra). Além disso, 4 em cada grupo de 10 trabalhadores tinham jornadas de trabalho entre 20 e 44 horas semanais, e 1 tinha tempo de trabalho inferior a 20 horas por semana.
O pleno emprego da mão de obra poderia ser alcançado no Brasil a partir de uma nova divisão das jornadas de trabalho, desde que mantido o nível geral de produção. A ocupação de mais trabalhadores e a ampliação do tempo de trabalho dos subocupados poderia ocorrer simultaneamente à diminuição da jornada oficial de trabalho e do tempo trabalhado acima da
legislação oficial (hora extra). Com redistribuição do tempo de trabalho o reequilíbrio da gangorra social, torna-se possível.

Por Márcio Pochmann

sábado, 22 de agosto de 2009

MAIS VALIA....


Quem delira? Os Guarani e o filósofo do agronegócio

ESCRITO POR EGON HECK
20-AGO-2009 – fonte: correio da cidadania

"A vida nesta parte do mundo não vale nada", Felipe Figueredo, jornalista paraguaio (TV Morena, 17/08/09), referindo-se à região de fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai.

"Mato Grosso do Sul pede socorro. Querem nos transformar numa grande aldeia indígena. A FUNAI quer fazer uma demarcação que atingiria aproximadamente 26 municípios. Somente as áreas mais produtivas do Estado... Aqui temos a maior reserva de água doce do planeta. Estamos em pleno desenvolvimento agrícola e somos o celeiro do Brasil. Fazemos frente em produção agrícola para os maiores produtores de soja do mundo (EUA, por exemplo). A população do estado está se mobilizando, precisamos do apoio do restante do país..." (Lerrer Rosienfield, site da Famasul, 18/08/09).


Eles têm muito dinheiro. Têm poder político. Têm governador. Eles têm um montão de advogados. Têm juízes sensíveis. Têm arqueólogo. Têm historiadores. Têm filósofo. Têm os meios de comunicação na mão. Têm a terra sob seus pés. Têm
lugar para os Kaiowá Guarani – embaixo da terra, ou longe daqui. O agronegócio e seus fiéis ideólogos parecem não conhecer (ou reconhecer) limites.

Na Marcha da Terra, realizada na semana passada, foi denunciado que usinas em Rio Brilhante estão perfurando poços de 1.200 metros para lavar a cana. É assim que está sendo utilizado o Aqüífero Guarani. Outras denúncias se referem à contaminação das águas do Aqüífero através dos produtos químicos utilizados abundantemente. Além do grande aumento de terras nas mãos de multinacionais estrangeiras ligadas à produção do etanol.

"Um estado federativo passaria a reger-se por portarias e atos administrativos do Poder Executivo que criariam 'nações' que, doravante, conviveriam com 'outros estados'. Não estaria longe o dia em que essas 'nações' passariam a tratar a 'nação brasileira' em pé de igualdade, solicitando, inclusive, reconhecimento internacional e autonomia política" (Fonte: Denis Lerrer Rosenfield, professor de Filosofia; data: 18/10/2013 – ipsis literis).

Vejam a data do artigo, conforme o site: 18 de outubro de 2013. Alguém está delirando.

Comentando o último artigo do filósofo da Famasul, Roberto Liebgott, vice-presidente do Cimi, afirma que "possivelmente este professor seja um raro fenômeno da intelectualidade acadêmica do Rio Grande do Sul e, quem sabe, o único capaz de filosofar sobre questões sociais despido de qualquer roupagem ideológica (de esquerda, de direita, de centro, capitalista, comunista, socialista, social-democrata). Contraditoriamente, ele manifesta veementemente a defesa a segmentos políticos e econômicos capitalistas, vinculados ao latifúndio e ao agronegócio, muitos deles ‘desfrutando felizes’ os recursos das terras indígenas" (site do Cimi, 17/08/09).

A isenção de juízes

Ainda bem que a justiça é movida por seres angelicais, isentos de qualquer influência ou pressão de seres mortais. Caso contrário seria difícil compreender por que um juiz manda paralisar as identificações de terra dos Kaiowá Guarani, um mandado constitucional. Isso não tem nada a ver com sua condição de produtor rural no Mato Grosso do Sul, ou com sua mulher ser proprietária de fazendas incidentes em terras indígenas Terena, já identificadas. Qualquer coincidência não tem nenhuma influência.
E a administradora regional da Funai manifestou estranheza pela atitude de um juiz de Dourados no seu intento de dificultar de todas as formas a remoção do corpo do indígena que morreu em conseqüência de supostas violências sofridas na prisão de segurança máxima da cidade.



Procurador fala a bispos e agentes de pastoral

O procurador federal da República, Emerson Kalif, atendeu gentilmente o convite para explicar aos bispos e agentes de pastoral do Mato Grosso do Sul o esforço que estão desenvolvendo para viabilizar o diálogo e negociação em torno do processo de reconhecimento tardio das terras indígenas no estado. De forma pedagógica e ilustrativa procurou explicitar os direitos indígenas garantidos na Constituição Federal, especialmente com relação à terra.

Fez menção a diversas interpretações que se fazem dos artigos 231 e 232, que definem o que são terras indígenas. Repudiou a campanha ardilosa e mentirosa que se vem fazendo com relação ao processo de identificação das terras indígenas. Falou como profundo conhecedor da realidade, pois é nascido e criado nesta região. Mostrou conhecer bem de perto o sofrimento por que passam os Kaiowá Guarani e a urgência de se garantir a demarcação das suas terras.Fez menção às iniciativas dos procuradores do Ministério Público Federal no estado, no sentido de viabilizar caminhos para desemperrar os processos de reconhecimento das terras indígenas. Inúmeras reuniões se realizaram, onde foram se construindo consensos quanto à temática, com todos os envolvidos na questão.

Quando tudo parecia fluir para um encaminhamento que garantisse as identificações das terras, como passo fundamental necessário, com a garantia de que os títulos de propriedade de boa fé seriam indenizados, surge uma decisão judicial paralisando os trabalhos dos Grupos de Trabalho.
Além disso, o governador repete, em aldeia indígena, sua opinião pessoal contrária à demarcação das terras, e presidente de sindicato rural declara que os produtores não aceitam indenização. "Que o governo compre terra para os índios em outros lugares".
Tudo isso fez com que os procuradores recuassem em seus esforços, aguardando que a situação se esclareça melhor. "Puxamos o freio de mão. Vamos aguardar novas decisões".
Por fim e como alento, no mesmo encontro do Conselho Regional de Pastorais, foi decidida a criação da Comissão de Justiça e Paz no Mato Grosso do Sul, para acompanhar e ajudar todas as vítimas de violências no estado.

Egon Heck é coordenador do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) no Mato Grosso do Sul.

Nota pública sobre o assassinato de Elton Brum pela brigada militar do Rio Grande do Sul


O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vem a público manifestar novamente seu pesar pela perda do companheiro Elton Brum, manifestar sua solidariedade à família e para:

1. Denunciar mais uma ação truculenta e violenta da Brigada Militar do Rio Grande do Sul que resultou no assassinato do agricultor Elton Brum, 44 anos, pai de dois filhos, natural de Canguçu, durante o despejo da ocupação da Fazenda Southall em São Gabriel. As informações sobre o despejo apontam que Brum foi assassinado quando a situação já encontrava-se controlada e sem resistência. Há indícios de que tenha sido assassinado pelas costas.

2. Denunciar que além da morte do trabalhador sem terra, a ação resultou ainda em dezenas de feridos, incluindo mulheres e crianças, com ferimentos de estilhaços, espadas e mordidas de cães.

3. Denunciamos a Governadora Yeda Crusius, hierarquicamente comandante da Brigada Militar, responsável por uma política de criminalização dos movimentos sociais e de violência contra os trabalhadores urbanos e rurais. O uso de armas de fogo no tratamento dos movimentos sociais revela que a violência é parte da política deste Estado. A criminalização não é uma exceção, mas regra e necessidade de um governo, impopular e a serviço de interesses obscuros, para manter-se no poder pela força.

4. Denunciamos o Coronel Lauro Binsfield, Comandante da Brigada Militar, cujo histórico inclui outras ações de descontrole, truculência e violência contra os trabalhadores, como no 8 de março de 2008, quando repetiu os mesmos métodos contra as mulheres da Via Campesina.

5. Denunciamos o Poder Judiciário que impediu a desapropriação e a emissão de posse da Fazenda Antoniasi, onde Elton Brum seria assentado. Sua vida teria sido poupada se o Poder Judiciário estivesse a serviço da Constituição Federal e não de interesses oligárquicos locais.

6. Denunciamos o Ministério Público Estadual de São Gabriel que se omitiu quando as famílias assentadas exigiam a liberação de recursos já disponíveis para a construção da escola de 350 famílias, que agora perderão o ano letivo, e para a saúde, que já custou a vida de três crianças. O mesmo MPE se omitiu no momento da ação, diante da violência a qual foi testemunha no local. E agora vem público elogiar ação da Brigada Militar como profissional.

7. Relembrar à sociedade brasileira que os movimentos sociais do campo tem denunciado há mais de um ano a política de criminalização do Governo Yeda Crusius à Comissão de Direitos Humanos do Senado, à Secretaria Especial de Direitos Humanos, à Ouvidoria Agrária e à Organização dos Estados Americanos. A omissão das autoridades e o desrespeito da Governadora à qualquer instituição e a democracia resultaram hoje em uma vítima fatal.

8. Reafirmar que seguiremos exigindo o assentamento de todas as famílias acampadas no Rio Grande do Sul e as condições de infra-estrutura para a implantação dos assentamentos de São Gabriel.

Exigimos

Justiça e Punição aos Culpados!

Por nossos mortos, nem um minuto de silêncio. Toda uma vida de luta!

Reforma Agrária, por justiça social e soberania popular!

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

FONTE: MST
SITE:
www.mst.org.br
PUBLICAÇÃO: 22/08/2009


segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Lista de empregadores envolvidos com trabalho escravo é atualizada

Entre pessoas físicas e jurídicas, 175 infratores figuram na chamada "lista suja". Treze empregadores foram incluídos, 4 reiterados e 34 excluídos. Empregadores listados ficam impossibilitados de contrair financiamentos
bancários


Brasília, 21/07/2009 - O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) atualizou em seu site o Cadastro de Empregadores flagrados explorando mão-de-obra escrava no país. Conhecido como "Lista Suja", o documento atualizado inclui 13 novos empregadores, reitera 4 e exclui 34 nomes. Com a nova atualização, o cadastro passa a conter 175 infratores, entre pessoas fisicas e juridicas. Neste balanço, não constam os casos de exclusão por força de decisão juficial.



O Cadastro de Empregadores é uma ferramenta que ajuda a combater o trabalho análogo ao de escravo. Sua atualização é feita semestralmente e consiste na inclusão de empregadores cujos autos de infração não estejam mais sujeitos a recursos - decisão definitiva, pela procedência. Por outro lado, são excluídos aqueles que, ao longo de dois anos, contados de sua inclusão no cadastro, tenham corrigido irregularidades identificadas durante inspeção do trabalho, em atendimento aos requisitos da Portaria nº 540 e não reincidiram no crime.
"Ao divulgarmos os nomes dos infratores que foram flagrados explorando trabalhadores na condição de escravos, estamos permitindo que outros entes estatais tenham esta informação quando do estabelecimento de suas políticas públicas. Por exemplo, nenhum banco empresta dinheiro público para os infratores que estão no Cadastro", destaca o assessor da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do MTE, Marcelo Campos. "Além disso, o Cadastro é hoje um importante referencial para o conjunto da sociedade civil na implementação de suas políticas, transformando-se em importante instrumento de controle social".
As principais causas de manutenção do nome no Cadatro estão relacionadas a não quitação das multas impostas; reincidência na prática do ilícito e ações em trâmite no Poder Judiciário. Ao serem incluidos na Lista Suja, os empregadores ficam impossibilitadas de contrair financiamento tanto em instituições públicas ou privadas.
Para que o nome seja excluído do Cadastro há a análise de informações obtidas por monitoramento direto e indireto nas propriedades rurais, por meio de investigação no local, informações dos órgãos governamentais e não-governamentais, além das que são repassadas pela Coordenação Geral de Análise de Recursos da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT).

domingo, 9 de agosto de 2009

SEMANA FLORESTAN FERNANDES


Companheiras e companheiros,

A ENFF tem a alegria de convidar a todos/as amigos/as para participar da SEMANA FLORESTAN FERNANDES, instiuída a partir deste ano de 2009. Conforme detalhes do convite em anexo, o evento se realizará às tardes da semana de 24 a 29 de agosto. Culminando com um sábado de trabalho voluntário e muitas homenagens ao nosso MESTRE.
O convite tem tb como objetivo divulgar o máximo possível aos amigos e amigas, o evento, mesmo que não seja possível para todos/as se fazerem presentes. Solicitamos que confirmem , por favor as presenças, antecipadamente.
Caso não consigam abrir o anexo, por favor, nos comuniquem.
Um forte abraço.

Coordenação Geral da ENFF

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Preparação para o Acampamento Nacional pela Reforma Agrária
Entre os dias 10 e 21 de agosto de 2009, cerca de três mil camponeses e camponesas realizarão acampamento, em Brasília, para denunciar o descaso com a Reforma Agrária e exigir que o Estado atenda a pauta de reivindicações dos movimentos sociais, como o assentamento das 100 mil famílias acampadas, crédito para produção, habitação rural, educação e saúde. O Ato de Lançamento do Acampamento Nacional pela Reforma Agrária, será realizado hoje, dia 5 de agosto, a partir das 19 horas no IBRADES, também em Brasília. (fonte: MST)

Cientistas são impedidos de realizar pesquisas com transgênicos
Empresas de biotecnologia, como Monsanto, Pioneer e Syngenta proíbem o uso de suas sementes para qualquer pesquisa independente, por meio de um acordo que limita o que pode ser feito com as sementes. Assim, cientistas não podem realizar testes nas sementes, comparar sementes de empresas diferentes ou examinar se lavouras transgênicas apresentam efeitos ambientais inesperados, sob pena de litígio judicial caso insistam na investigação. As pesquisas sobre sementes transgênicas passam por uma avaliação das empresas, que aprovam ou não a publicação em periódicos científicos. (fonte: Scientific American)

Integrante do MAB é assassinado na Paraíba
Na noite do dia 29 de julho, o trabalhador rural do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) da Paraíba, Odilon Bernardo da Silva Filho, conhecido como Joãozinho, foi assassinado com tiros nas costas. Ele foi baleado próximo à sua residência, em Pedro Velho, um dos três reassentamentos onde estão alojadas 470 famílias atingidas pela construção da barragem de Acauã. De acordo com os dirigentes do MAB, o assassinato pode ter relação com as ameaças de morte sofridas pelos integrantes do movimento ao longo da semana anterior ao assassinato. A Barragem de Acauã, concluída em 2002, está localizada no Rio Paraíba, entre os municípios de Aroeiras, Itatuba e Natuba, e provocou o deslocamento de 4,5 mil pessoas, que exigem uma indenização justa e infraestrutura adequada nos reassentamentos. (fonte: MAB e Radioagência NP)

Retirada violenta de moradores da região da Usina de Santo Antonio
A retirada de moradores, que viviam próximos ao rio Madeira (RO), na região onde está sendo construída a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio não foi pacífica. De acordo com o MAB, as famílias foram retiradas do local de forma violenta, inclusive casas foram queimadas e houve repressão dos moradores que reivindicavam seus direitos. Alguns moradores não foram indenizados com a construção da hidrelétrica por não terem a titulação da terra onde viviam. As famílias, que foram relocadas em assentamentos, reclamam da falta de infraestrutura do local, do terreno pedregoso, onde não há como plantar e da alta taxa cobrada pela energia. (fonte: MAB e Agência Brasil)

Fazendas de Dantas possuem mais gado do que registro indica
Segundo documentos de vacinação registrados pela Agência de Desenvolvimento da Agropecuária do Pará (Adepará), o número de cabeças de gado nas fazendas do grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, é 27% maior do que o registro apresentado pela Agropecuária Santa Bárbara. As buscas da Polícia Federal e Ministério Público Federal nas propriedades investigam um esquema de lavagem de dinheiro utilizando a pecuária. A quantidade exata de cabeças de gado será definida quando as autoridades responsáveis dos quatro estados aonde ficam as fazendas (Pará, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo), checarem os registros de vacinação. Após investigações da Operação Satiaghara, a Justiça Federal determinou o sequestro de 27 fazendas de gado, incluindo o pasto e o gado, do grupo Opportunity, devido à constatação de lavagem de dinheiro. (fonte: Amazonia.org.br)

Incra retoma convênios para execução do Pronera
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) conseguiu que a Justiça reexaminasse a legalidade dos convênios do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). Com isso, estão suspensos os efeitos da decisão do Tribunal de Contas da União que proibia, desde janeiro, a realização de convênios do Incra com instituições de ensino para a execução do programa. A decisão permite que sejam abertas cerca de mil vagas em oito estados, por meio da retomada dos 20 novos convênios que estavam trancados pela Justiça. (fonte: MST)

UFC terá curso de jornalismo para Sem-Terra
A Universidade Federal do Ceará (UFC) oferece, a partir de janeiro, o primeiro curso de jornalismo no Brasil voltado para beneficiários da Reforma Agrária. O curso já foi aprovado pelo Pronera, terá duração de quatro anos e serão ofertadas 60 vagas anuais. Além das disciplinas comuns, do curso de jornalismo, os alunos terão matérias voltadas para temas da área rural. Parte das aulas será ministrada na Universidade e parte nas comunidades dos assentados. O anuncio da abertura do curso de jornalismo coincide com a determinação da Justiça Federal de extinguir o curso de Direito Agrário da UFG, destinado aos beneficiários da Reforma Agrária. (fonte: Estadão)

Ministério do Meio Ambiente faz mudanças no Código Florestal
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, assinou no dia 22 de julho, três instruções normativas que regulamentam pontos da legislação ambiental. A partir de agora, agricultores familiares poderão somar a Área de Proteção Permanente (APP) com a Reserva Legal, para liberar mais espaço para as plantações. Também haverá a simplificação e gratuidade do reconhecimento de Reserva Legal de pequenas fazendas. Em setembro, será encaminhada ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) uma proposta de resolução que define atividades de baixo impacto que podem ser tocadas em APP, como a construção de trilhas para ecoturismo e pequenos ancoradouros para barcos. (fonte: MST)

Comemorações ao Dia do Trabalhador Rural
Agricultores e agricultoras realizaram uma série de manifestações em diversas regiões do país, em comemoração ao Dia do Trabalhador Rural (25/07). As atividades denunciaram o descaso do Estado com a Reforma Agrária, a prioridade do governo ao modelo do agronegócio, que gera miséria e exclusão social tanto no campo quanto na cidade, debateram a discriminação com os camponeses e a expulsão do povo do campo. No dia 21, trabalhadores rurais ligados à Comissão Pastoral da Terra (CPT) ocuparam a sede do Incra, em Recife (PE), para cobrar agilidade nos processo de liberação dos créditos para habitação e assistência técnica nos assentamentos do estado e exigir a garantia da realização dos programas de educação no campo. No dia 24 de julho, trabalhadores Sem Terra comemoraram a data com um ato em Aracaju (SE). O evento contou com uma grande caminhada de trabalhadores e trabalhadoras rurais de assentamentos e acampamentos do estado, juntamente com integrantes de entidades ligadas à causa da Reforma Agrária e simpatizantes. (fonte: CPT Nordeste II)

CPT Alagoas celebra 25 anos
A CPT Alagoas celebrou seus 25 anos de serviços prestados às famílias camponesas, do dia 23 a 25 de julho, em Maceió (AL). Entre as atividades houve uma reflexão sobre as consequências do êxodo rural, doação de cinco mil quilos de alimentos produzidos em assentamentos acompanhados pela CPT, entregues para famílias que moram em favelas, doação coletiva de sangue, audiência com o governador Teotônio Vilela Filho com entrega de pauta de reivindicações, além de atividades culturais. Em Alagoas a CPT surgiu no ano de 1984, para combater a miséria gerada pela monocultura da cana de açúcar, as milícias e a pistolagem. Atualmente, a CPT-AL acompanha 1.525 famílias camponesas distribuídas em 15 assentamentos e 25 acampamentos. (fonte: CPT Alagoas)

Sem Terra são despejados de área usada pela Veracel
No dia 22 de julho, 1.200 famílias de trabalhadores rurais Sem Terra foram despejadas da fazenda Putumuju, em Eunápolis (BA), após 105 dias de ocupação da área. A Veracel Celulose utiliza cerca de 20 mil hectares de terras do Estado para o plantio de eucalipto. Depois do despejo, as famílias acamparam a beira da BR101, em frente à fazenda. (fonte: MST)

Celebração da Romaria da Floresta
A IV Romaria da Floresta ocorreu do dia 22 a 25 de julho, em Anapu (PA). Esta Romaria é a versão amazônica das Romarias da Terra e das Águas que a CPT realiza em quase todos os estados do país.. Foi uma caminhada de 55 km para celebrar a força da organização popular na luta e conquista do sonho da posse da terra, condições necessárias para viver e trabalhar, além de prestar uma homenagem à missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005, por defender a implantação do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), como possibilidade de vida digna para o povo da Amazônia em harmonia com a floresta. (fonte: Comitê Dorothy)

Realização da Romaria da Terra e da Água do Piauí e Minas Gerais
A 11ª Romaria da Terra e da Água do Piauí foi realizada nos dias 1° e 2 de agosto na cidade de Corrente (PI), com o tema Migração Forçada e Trabalho Escravo. A Romaria tem o objetivo de conscientizar a população do estado sobre a questão do trabalho escravo. De acordo com o secretário regional da Cáritas no Piauí, Carlos Humberto Campos, dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam o Piauí como o segundo estado do país no índice de trabalhadores vítimas da migração forçada e do trabalho escravo. A cidade de Corrente fica próximo à fronteira com os estados de Tocantins e Bahia, e é conhecida por ser via de acesso da migração forçada. A 13ª Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais, com o tema Terras e Águas de Minas pedem socorro, foi realizada entre os dias 25 de julho e 1º de agosto, em Itinga (MG), no Vale do Jequitinhonha. A Romaria busca a construção de uma sociedade onde se preserve suas histórias, culturas, tradições, valores, espiritualidade e também defende a luta dos povos originais, como quilombolas, indígenas e sertanejos pelo seu reconhecimento e dignidade. Outras bandeiras levantadas na Romaria foi a da igualdade entre homens e mulheres, luta em defesa do meio ambiente, Reforma Agrária, soberania e segurança alimentar, dignidade no campo e um semi-árido sustentável. (fonte: CPT Piauí, CPT Minas Gerais e Adital)

Marcio Pochmann: Trabalho imaterial e redução da jornada de trabalho

Com a elevação da taxa de juros, haverá uma “piora na distribuição de renda brasileira e um aumento nos gastos do governo”, avalia Marcio Pochmann, economista e presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Para ele, “todas as decisões tomadas em relação à política macroeconômica, seja fiscal ou monetária, tem implicações inegáveis no nível de emprego, nas condições de contratação e remuneração dos trabalhadores”.
Patricia Fachin


Em entrevista concedida por telefone à IHU On-Line, o economista defende uma jornada de trabalho de 12 horas semanais. Segundo ele, essa medida é viável uma vez que estamos numa “fase em que aumenta a produtividade imaterial”. Pochmann lembra que esse modelo de produção “beneficia apenas as grandes corporações. As 50 maiores empresas do mundo, por exemplo, têm faturamento superior a cem países do mundo”.
Marcio Pochmann é doutor em Economia e professor do Instituto de Economia da Unicamp. Entre seus livros, destacamos Políticas do trabalho e de garantia de renda – O capitalismo em mudança (São Paulo: Editora São Paulo); E-trabalho (São Paulo: Publisher Brasil, 2002) e Desenvolvimento, trabalho e solidariedade (São Paulo: Cortez, 2002).


IHU On-Line - Para muitos, estamos transitando da sociedade industrial para a pós-industrial, da sociedade fordista para a pós-fordista. Quais são as principais características dessa transição e como ela impacta a realidade do trabalho?
Marcio Pochmann
Nesse início de século, temos vários movimentos que dão conta de uma grande heterogeneidade de situações. Há aqueles que identificam justamente esse marco da construção de uma sociedade associada ao serviço, partindo do pressuposto que nós tivemos uma primeira fase em que a organização econômica se encontrava nas atividades agrárias. Posteriormente, com o avanço do capitalismo tivemos uma melhoria na parte urbana e industrial, na produção de manufaturas. Por conseqüência disso, estaríamos agora numa nova fase em que a maior importância das atividades econômicas e ocupacionais estariam associadas ao serviço. O conceito de sociedade pós-industrial tem a ver com essa dinâmica centrada no setor terciário da economia. É verdade que desde os anos 1950 o centro da economia mundial já apontava essa perspectiva.
Quando olhamos o mundo como um todo, verificamos, com um certo atraso, que até o final do século passado a maioria das ocupações no mundo estavam ainda centradas nas atividades agrícolas. Agora, com a expansão na Ásia, sobretudo, assistimos uma mudança substancial em que a maior parte da ocupação já está pertencendo ao setor urbano. Se usarmos como referência os países do centro do capitalismo mundial, podemos dizer que está ocorrendo uma nova fase de expansão centrada no setor terciário. Mas isso ainda não é tão significativo quando olhamos o conjunto de países, já que muitas regiões se encontram atrasadas no ponto de vista do desenvolvimento econômico.



IHU On-Line – Que aspectos são centrais ao pensar a situação do trabalho na atualidade?
Marcio Pochmann
Considero importante pensar na mudança da divisão internacional do trabalho. Assistimos, na conjuntura atual, um deslocamento do centro dinâmico da economia concentrada até então nos EUA, que se desloca agora para Ásia, onde a China ganha destaque. Essa situação, guardadas as devidas proporções, pode ser comparada ao que ocorreu na passagem do século XIX para o século XX, quando houve o deslocamento do centro dinâmico da Europa para a América. Esse deslocamento foi importante, porque reconfigurou um novo marco na organização e percepção da condução do emprego.
Agora, em função do modelo de produção asiático, que tem como objeto fundamental a profunda redução dos custos, temos uma incorporação significativa dos segmentos de menor renda em consumo de bens. Ao contrário do que era marca da conjunção fordista, em que um automóvel custava 20 mil dólares, hoje, devido à produção asiática, ele custa quatro mil dólares. Essa mudança faz com que cada vez mais a China se transforme na grande oficina do mundo, enquanto a Índia passa a ser o escritório do planeta e a América do Sul, uma grande fazenda do mundo. Assim, essa divisão ocasional do trabalho impõe constrangimentos para aqueles países que, como o Brasil, pretendem ser uma exceção diferenciada na economia mundial.


IHU On-Line - Alguns setores industriais cresceram e o desemprego parece estar escondido. Entretanto, o sistema industrial brasileiro tem sido refém de um fordismo tardio? A produção industrial alcança padrões de excelência fabril, mas é relativamente retrograda no seu cerne organizativo e tecnológico, como defende Mangabeira?
Marcio Pochmann
Concordo com essa posição. O fordismo é tardio porque a industrialização foi tardia no Brasil. Nós começamos a construir automóveis na segunda metade da década de 1950, quando o homem se preparava para ir à lua. Percebe-se que parte significativa do setor produtivo brasileiro se encontra numa fase pré-fordista e, sobretudo, as micro e pequenas empresas que não têm acesso a crédito, à tecnologia. Por outro lado, o principal centro de condução industrial, ou seja, a região Sudeste está muito identificada com o tipo de produção tardia. Por isso, é necessário estimular que as atividades pré-fordistas realizadas em muitas regiões brasileiras não passem do pré-fordismo para o fordismo e posteriormente para o pós-fordismo. O nosso desafio é construir uma ponte entre o pré-fordismo e as novas formas de organização da produção. Isso implica um conjunto de políticas públicas do ponto de vista industrial, comercial, tecnológico.



IHU On-Line - O senhor propõe uma jornada de trabalho de quatro horas diárias, três vezes por semana. Como mudar essa jornada sem reduzir salários e beneficiar o trabalhador?
Marcio Pochmann
Essa discussão na forma como apresento tem um conteúdo diferente do tradicionalmente evocado. Temos dois tipos de debate sobre a reforma da jornada de trabalho. Um é justamente aquele que propõe a redução de 44 horas para 40 ou 35 horas, como foi feito na França. Desde o século XIX, essa discussão da redução da jornada e o aumento do número de trabalhadores são diferentes daquela feita pelos trabalhadores anarco-sindicalistas, que tinham por objetivo a redução da jornada para reduzir as perdas dos trabalhadores.
O novo sindicalismo defende a redução da jornada como uma medida de ampliação do emprego, entendendo principalmente o lucro como elemento chave para propiciar mais investimentos e, conseqüentemente, elevar o nível de emprego.
Na minha proposta, a redução significativa da jornada de trabalho tem outra fundamentação. Em primeiro lugar, não há razão técnica que justifique a jornada de trabalho tão elevada como temos hoje, em função justamente da expansão da produtividade imaterial. Em segundo lugar, deve-se ao reconhecimento de que estamos numa fase em que aumenta a produtividade imaterial. Assim, estamos diante de uma produtividade gerada pelas novas possibilidades de trabalho, ou seja, fora do local de trabalho. Todos estão trabalhando muito mais. Isso faz com que as pessoas durmam com o trabalho e sonhem com ele. Todo esse esforço com a atividade produtiva imaterial está gerando uma ação brutal da riqueza. Esse trabalho imaterial beneficia apenas as grandes corporações. As 50 maiores empresas do mundo, por exemplo, têm um faturamento que é superior a cem países do mundo. Assim, vejo que a redução drástica da jornada de trabalho seria um elemento chave para compensar o desequilíbrio que estamos assistindo em termos da repartição da renda e da riqueza.



IHU On-Line - Como o senhor percebe a negociação para a aprovação da emenda constitucional que reduz a jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais? Segundo a proposta, os trabalhadores abririam mão de aprovar a ratificação pelo Brasil da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) . Essas iniciativas são vantajosas para os trabalhadores?
Marcio Pochmann
Percebo essa situação de forma positiva, já que os patrões estão se colocando como atores de uma negociação. Até agora, o tema da redução da jornada de trabalho era uma vontade dos trabalhadores e, em contrapartida, sem grande condicionamento patronal. Entretanto, ressalto que o fato dos empregadores oferecerem uma proposta é uma indicação clara de que eles estão abertos para negociação. Se cabe ou não aceitar a redução da jornada combinada com outras modalidades, como está sendo levantado agora, é uma decisão dos trabalhadores. Entretanto, cabe a eles perceber que estamos diante de uma oportunidade inédita de repensar todo o sistema trabalhista, já que esse debate propõe rever, além da jornada, as formas de contratação.



IHU On-Line – A elevação dos juros na última semana e o aumento da dívida interna brasileira trazem algum impacto para o mundo do trabalho e especificamente para os trabalhadores?
Marcio Pochmann
Todas as decisões tomadas em relação à política macroeconômica, seja fiscal ou monetária, têm implicações inegáveis no nível de emprego, nas condições de contratação e na remuneração dos trabalhadores. A elevação da taxa de juros tem implicações no âmbito dos custos daqueles que estão endividados. O aumento gasto com o pagamento de juros, em função da elevação da dívida pública, implica um volume de recursos superior ao que o governo vai gastar nesse ano com o Bolsa Família. Então, esse aumento de recursos vai diretamente para os ricos. Isso significa uma piora na distribuição da renda brasileira e um aumento nos gastos do governo. Interessante que o pensamento liberal, sempre contra o gasto do governo, não fala nada em relação aos impactos do aumento dos gastos que o governo vai ter pela simples elevação da taxa de juros.
Há questões também preocupantes com o aumento da taxa de juros, pois passamos a ter o risco de não termos a continuidade do ciclo de investimentos que temos agora, já que se torna cada vez mais interessante deixar o dinheiro no sistema financeiro do que aplicar produtivamente na economia nacional.



IHU On-Line – Como o senhor percebe a relação das centrais sindicais com o governo? O trabalhador ganha vantagens com essa parceria?
Marcio Pochmann
Essa pluralidade da cúpula sindical tem tido uma convergência em termos de ações como a defesa do salário mínimo e a elevação do reajuste da tabela do imposto de renda. Isso mostra que essa convergência na cúpula tem repercutido positivamente não apenas para os sindicatos, mas também para os trabalhadores. No que se refere à transferência de recursos para as centrais sindicais, penso que essa iniciativa seja importante. Entretanto, precisamos considerar que essa verba é inferior ao que é transferido para as entidades patronais, na medida em que elas administram o Sistema S (Sesi, Senai, Senac, Sebrae, Sesc), que apresenta uma soma estimada em torno de R$ 8 bilhões.



Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - http://www.unisinos.br/ihu/

Después del siglo XX: un mundo en transición


Eric Hobsbawm* Publicado el 31/7/2009

La "globalización neoliberal", según Eric Hobsbawm, supone una mudanza económica, política y cultural del mundo en el siglo XXI. Un periodo de transición, un periodo en el que se acreciente la desigualdad, donde el desarrollo económico afecta a los paises de manera asimétrica. Análisis con el sello del autor que plantea que el poder económico tendrá una orientación asiática y la crisis medioambiental no estará cerca de
solucionarse.

Un muy destacado científico ha expresado la opinión de que la raza humana sólo tiene un cincuenta por ciento de posibilidades de sobrevivir al siglo XXI. Ésta es en cierto sentido una afirmación extrema; pero muy pocos disentiríamos de la idea de que nuestra especie y nuestro globo enfrentan ahora peligros sin precedentes para la presente centuria, aunque sólo sea por el extraordinario impacto que la tecnología y la economía humanas ejercen sobre el medio ambiente. A este ensayo mío no le conciernen tales escenarios apocalípticos: supondré que si la humanidad sobrevivió al siglo XX, igualmente lo hará en el siglo XXI.
El mundo de principios del siglo XXI se caracteriza por tres sucesos principales:
- Las enormes fuerzas que aceleran la velocidad de nuestra capacidad de producción y que, al hacerlo, cambian la faz del mundo. Esto es así y así continuará.
- Un proceso de globalización acelerado por la revolución en el transporte y las comunicaciones, nos indica que: a) sus efectos mayores corresponden directa o indirectamente a la globalización económica; aunque b) se presenta en todos los campos excepto en los del poder político y la cultura, en la medida en que dependen del idioma.
- El reciente pero rápido cambio en la distribución de la riqueza, el poder y la cultura, de un patrón establecido que duró de 1750 a 1970 a uno todavía indeterminado.
I

El incremento en nuestra capacidad para producir -y para consumir- difícilmente requiere de comprobación alguna. Sin embargo, deseo hacer tres observaciones. La primera concierne a la explotación de recursos cuyo abastecimiento es naturalmente limitado. Esto incluye no sólo las fuentes de energía fósil de las cuales la industria ha dependido desde el siglo XIX -carbón, petróleo, gas- sino de los más antiguos fundadores de nuestra civilización, a saber: agricultura, pesca y bosques. Estas limitaciones naturales o son absolutas dada la magnitud de las reservas geológicas y de tierras cultivables, o relativas cuando la demanda excede la capacidad de estos recursos para su propia renovación, como la excesiva explotación pesquera y de bosques. Cerca del final del siglo XX el mundo no se había aproximado aún al límite absoluto de las fuentes de energía, ni a un incremento sustancial en la productividad agrícola y las extensiones cultivables, aunque el ritmo de incorporación de nuevas tierras aflojó durante la segunda mitad del siglo. Los rendimientos por hectárea de trigo, arroz y maíz subieron a más del doble entre 1960 y 1990. Sin
embargo, los bosques fueron seriamente amenazados. La deforestación en pequeña escala ha sido un antiguo problema y ha dejado marca permanente en algunas regiones, notablemente el Mediterráneo. La sobreexplotación
pesquera empezó a alcanzar su punto crítico en el Atlántico norte alrededor de los últimos treinta años del siglo XX y se extendió a todo el globo debido a la preferencia por algunas especies. Esto, hasta cierto punto, se ha compensado con la acuicultura, que en la actualidad produce alrededor del 36 por ciento del pescado y marisco que consumimos -cerca de la mitad de las importaciones de pescado de los Estados Unidos. Aunque la acuicultura todavía se encuentra en etapa inicial, el esfuerzo podría terminar en la mayor innovación en la producción de alimentos desde que se inventó la agricultura. Esta vastedad de alimentos alcanzada, que permite alimentar a más de seis mil millones de personas mucho mejor que a los dos mil millones de principios del siglo XX, se logró a través de los métodos tradicionales, además de las tecnologías mecánica y química; de modo que no tiene sentido argumentar que la humanidad no puede ser alimentada sin manipulación genética.
El agotamiento de los recursos no renovables o limitados ciertamente planteará serios problemas al siglo XXI, particularmente si la crisis medioambiental no se encara seriamente.
Mi segunda observación se ocupa del impacto que la revolución tecnológica ha tenido sobre la producción y la mano de obra. En la segunda mitad del siglo XX, por primera vez en la historia la producción dejó de ser de mano de obra intensiva para volverse de capital intensivo y, progresivamente, de información intensiva. Las consecuencias han sido dramáticas. La agricultura sigue siendo el principal deponente de mano de obra. En Japón la población agrícola se redujo del 52,4 por ciento después de la Segunda Guerra Mundial al 5 por ciento en el presente. Lo mismo en Corea del Sur y Taiwán. Aun en China la población agrícola ha disminuido del 85 por ciento en 1950, al 50 por ciento hoy en día. No hay necesidad de comprobar la sangría de campesinos en América Latina desde 1960, pues es evidente. Para decirlo pronto, salvo la India y algunas zonas del África subsahariana, no quedan países campesinos en el mundo. La dramática caída de la población rural se ha compensado con un alto crecimiento de las zonas urbanas que, en el mundo en desarrollo, han dado origen a ciudades gigantes.
En el pasado, este caudal de mano de obra redundante y no calificada era absorbido por la industria -en la minería, la construcción, el transporte, las manufacturas, etc. Esta situación aún prevalece en China, pero en el resto del mundo, incluyendo a los países en desarrollo, la industria ha venido deshaciéndose aceleradamente de la mano de obra. Este descenso en la industria no es sólo debido a la transferencia de la producción de regiones de altos costos a otras de bajos, sino que también va implícita la substitución de tecnologías cuyos costos declinan por mano de obra calificada cuyos costos son inelásticos y al alza con el propio desarrollo económico. Desde 1980, los sindicatos de la industria automotriz en los Estados Unidos han perdido la mitad de sus miembros. Igualmente Brasil empleaba un tercio menos de trabajadores aun cuando produce casi el doble de vehículos automotores en 1995 que en 1980. El incremento en el sector de los servicios junto al crecimiento económico no ofrecen una alternativa viable para dar salida a la mano de obra redundante tanto industrial como agrícola, generalmente de baja escolaridad y con poca capacidad de adaptación. Sin embargo, hasta ahora, el empleo a las mujeres ha resultado relativamente beneficiado, al menos en los países desarrollados.
La mayor parte de la mano de obra redundante la absorbe la economía informal que, según estimaciones de la Organización Internacional del Trabajo (OIT), comprende el 47 por ciento del empleo no agrícola en el Medio Oriente y Norte de África; 51 por ciento en América Latina; 71 por ciento en Asia y 72 por ciento en el África Subsahariana. El problema se observa muy agudo en los países más pobres y en aquellos otros devastados por la transición económica, como la ex URSS y los Balcanes. Mientras se ha argumentado a favor de la flexibilidad y efectividad de la economía informal sobre todo en el caso latinoamericano, la verdad es que ésta es siempre bastante menos significativa en los países desarrollados (alrededor de diez por ciento en Estados Unidos). En cambio, el contraste
entre un rápido crecimiento económico y la incapacidad para generar suficientes empleos es particularmente impactante en la India, cuyo crecimiento se cimienta en capital e información intensivos pero con un 83 por ciento de la fuerza laboral en el sector informal. El gobierno de Manmohan Singh se ha visto en la necesidad de garantizar un mínimo de días de trabajo a la población rural más pobre.
Mi tercera observación es obvia, y es que el enorme incremento en la capacidad humana para producir depende mayormente de los conocimientos y la información. Esto es, en un gran número de gente con altos estudios y no necesariamente sólo en el campo profesional de la investigación y el desarrollo. Aquí, la riqueza acumulada y el capital intelectual de la era de la industrialización occidental continúa dándoles a los países del norte enormes ventajas sobre los países en desarrollo. Aunque el número de asiáticos laureados con Premios Nobel de Ciencia va en aumento desde 1980, sigue siendo pequeño. Los recursos intelectuales en el resto del mundo en desarrollo siguen a la espera de un mejor aprovechamiento. Además, los jóvenes investigadores del mundo en desarrollo pueden trabajar en los centros de investigación del Norte, reforzando así su predominancia.
Sin embargo, el siglo XXI está siendo testigo de la rápida transferencia de actividades innovadoras, base del progreso moderno, antes monopolizadas por las regiones del Atlántico norte. Esto es muy reciente. El primer laboratorio extranjero para investigación y desarrollo se estableció en China en 1993 (por Motorola); pero en pocos años setecientas empresas transnacionales han hecho lo mismo, mayormente en el sur y el este de Asia, una región especializada en diseño de semiconductores. Y aquí, una vez más, las disparidades regionales parecen aumentar, ya que el progreso depende también de que los gobiernos sean efectivos, se cuente con infraestructura adecuada y, sobre todo, con población educada por encima de los niveles básicos. No hay duda de que en países como la India y, en menor grado, Brasil, la baja escolaridad de la mayoría de la población es un obstáculo; sin embargo, esto se ha compensado por el relativo buen aprovechamiento del escaso número de los altamente educados. Los avances en este aspecto, en el mundo en desarrollo, todavía enfrentan un largo camino. El crecimiento de algunas regiones y el rezago de otras es muy evidente, así como el aumento en las disparidades. Según la revista R&D, en la lista de países más atractivos para invertir, están -en ese orden- China, Estados Unidos, India, Japón, el Reino Unido y Rusia. De América Latina, Brasil ocupó el lugar diecinueve (debajo de Austria), y México el ventitrés.

II

Y paso a la globalización, esto es, el desarrollo mundial como una sola unidad, cuyas transacciones y comunicación están libres de trabas locales y de otra índole.
Esto, en principio, no es nada nuevo. Teóricos como Wallerstein registran un "Sistema Mundial" desde la circunnavegación del globo durante el siglo XVI. Desde entonces se han ido registrando otros varios e importantes avances, principalmente en los campos económico y de las comunicaciones. Dejaré fuera de las comparaciones la fase del proceso previa a 1914. Esa economía nunca abordó seriamente asuntos de producción y distribución de bienes materiales aun cuando sí creó un libre flujo global en las transacciones financieras -aunque en menor escala que las actuales. Fueron tiempos de migraciones de mano de obra casi totalmente irrestrictas por los gobiernos, y en este sentido, una globalización más avanzada que la presente. Y mientras que las comunicaciones sufrieron cambios benéficos y sustanciales en los sistemas postales, telegráficos y organismos de coordinación internacional a mediados del siglo XIX, el número de personas involucradas en transacciones internacionales fue escaso. De hecho, la globalización de la producción ha sido posible gracias al revolucionario avance en las comunicaciones, que virtualmente han abolido las limitaciones en cuanto a lugar, distancia y tiempo se refiere y al no menos dramático adelanto en la transportación de mercancías desde los años sesenta -carga aérea y contenedores-, aun cuando la innovación tecnológica fue menor que en las comunicaciones humanas.
Aquí, tres puntos son relevantes.
El primero es la peculiar naturaleza de este proceso a partir de los años setenta, concretamente el triunfo sin precedente de un capitalismo que descansa en la libre movilidad global de todos los factores de la producción y la de los gobiernos atentos a no interferir en la distribución de los recursos dispuesta por el mercado. Ésta no es la única versión del concepto de globalización. En las décadas anteriores a 1914, su progreso corrió paralelo rivalizando con las políticas proteccionistas, moderadas en la mayoría de los países industrializados y extremas en los Estados Unidos. Durante las décadas doradas posteriores a 1945 esta práctica de sustitución de importaciones corrió paralela a las políticas, no tan infructuosas, del mundo no comunista. No queda claro que los programas neoliberales extremos aseguren un máximo de crecimiento económico, asumiendo que fuese deseable. El más rápido crecimiento del Producto Interno Bruto per cápita observado en el "mundo capitalista avanzado" no se dio en el "orden liberal" de 1870 a 1913, ni tampoco en el "orden neoliberal" de 1973 a 1998, sino solamente en los "años dorados" de 1950-1973. El crecimiento económico de los inicios del siglo XXI ha descansado primordialmente en un dinamismo que Maddison llama "las quince economías asiáticas resurgentes", cuyo crecimiento ha sido asombroso. Pero no fue el neoliberalismo el que presidió la extraordinaria revolución industrial de Corea del Sur, Taiwán, China y, aun, la India a principios de los años noventa. A la inversa, la situación de 168 economías, fuera de estos dínamos, mostró un rápido deterioro en el último cuarto del siglo XX y fue una catástrofe para la ex URSS, los Balcanes y algunas regiones africanas.
Algunos aspectos de esta globalización neoliberal tienen relevancia directa sobre la situación mundial general a principios de este siglo XXI. Primero, es patente el incremento en la desigualdad económica y social tanto entre países como al interior de ellos. Esta desigualdad eventualmente podría disminuir, pues las economías asiáticas más dinámicas podrían alcanzar a los viejos países capitalistas desarrollados; pero en el caso de la India y China, con sus miles de millones de habitantes, hace que la brecha sea tan grande y que el paso al que pudieran alcanzar el mismo PIB per cápita de los Estados Unidos sea tan lento como un caracol. Lo que es más, la rapidez con que crece la brecha entre países ricos y pobres reduce el significado práctico de estos avances. Sería inapropiado usar a los 52 multimillonarios de Rusia como índice comparativo del estándar de vida en ese país. Éstos representan otra más de las consecuencias de la globalización neoliberal, cuya novedad es que pequeños grupos de ricos globales son tan adinerados que sus recursos podrían ser de la magnitud del ingreso nacional de países como Eslovaquia, Eslovenia, Kenya o, en el caso de los muy ricos, del orden del PIB de Nigeria, Ucrania y Vietnam. Este tipo de crecimiento ha generado en la India un mercado de clase media tipo occidental contado por decenas -algunos aseguran que cientos- de millones; sólo hay que subrayar que, hacia 2005, en este país el 43 por ciento de la población vivía con menos de un dólar al día. Fuertes y crecientes desigualdades en la riqueza, el poder y las oportunidades para tener una vida mejor no son la receta para la estabilidad política.
La segunda característica de la globalización, respaldada por las políticas socialmente ciegas del Fondo Monetario Internacional, ha sido el agudo crecimiento en la inestabilidad económica y en las fluctuaciones económicas. Los viejos países industriales han estado resguardados, comparativamente, de las depresiones cíclicas, excepto por los bruscos virajes a corto plazo del mercado bursátil; sin embargo, el impacto ha sido dramático en grandes partes del mundo y, notablemente, en América Latina, el sudeste asiático y la ex Unión Soviética. Sólo tenemos que recordar las crisis de principios de 1980 en Brasil y, a fines de los noventa, las de Indonesia, Malasia, Tailandia y Corea del Sur y, sin olvidar, la de Argentina a principios del año 2000. Sólo recordemos los cambios políticos que siguieron a estas crisis en varios países. Las economías volátiles no son receta para la estabilidad política.
La tercera característica de la globalización neoliberal es que, al sustituir un conjunto de economías nacionales por una economía global, se reduce severamente la capacidad de los gobiernos para influir en las actividades económicas de su territorio y se daña su capacidad recaudatoria. Esta situación se agudizó mayormente al aceptar todos la lógica del neoliberalismo. Desde la terminación de las economías de planeación centralizada, todos los países, incluyendo a los más grandes, están en mayor o menor grado a merced del "mercado". Esto no implica que hayan perdido todo peso específico en la economía. Todos los gobiernos centrales y locales, por la naturaleza de sus actividades, son los principales empleadores de la fuerza laboral. Es más, así han retenido su mayor valor histórico: el monopolio de la ley y el poder político. Y esto significa que ya no funcionan como actores económicos en el teatro mundial, ni siquiera como dramaturgos aunque sí como escenógrafos. Pues los actores de hoy, las grandes corporaciones transnacionales, se ven en la necesidad de acudir a ellos pues también son los propietarios de los teatros nacionales que requieren para sus operaciones. La globalización neoliberal ha debilitado seriamente a los Estados nacionales como los conductores del poder y artífices de la política.
Políticamente, el aspecto más serio de este debilitamiento es el de que priva a los gobiernos, sobre todo a los de las economías desarrolladas del Norte y Occidente, de sus ambiciosos y generosos planes sobre seguridad social, mismos que ya desde los tiempos de Bismarck habían sido reconocidos por los gobernantes como la mejor herramienta para la estabilidad social y política, esto es, el Estado benefactor. En vez de esto, el mercado global fundamentalista ofrece un proyecto de prosperidad para todos -o casi todos- a través de los beneficios de un crecimiento económico interminable. Aun en los países como el Reino Unido donde el programa neoliberal ha proveído a la gente de una genuina y bien distribuida riqueza, no han disminuido las demandas de los ciudadanos por más empleos, garantías para sus ingresos básicos, seguro social, salud y pensiones. Sólo la capacidad o voluntad de los gobiernos para proveer lo anterior ha posibilitado el cumplimiento de esas ambiciones.
Esto me trae a la segunda y más amplia de las propuestas sobre globalización y es que ésta, en mayor o menor grado, es universal pero se queda corta ante un problema humano mucho mayor: la política. Históricamente han existido y existen mecanismos económicos en el mundo, pero ninguno dirigido a la creación de un gobierno mundial. Las Naciones Unidas y otros organismos prevalecen por la conveniencia y el permiso que los propios países les otorgan. Los Estados nacionales son las únicas autoridades en el mundo y sobre el mundo para ejercer el poder de la ley y el monopolio de la violencia. De hecho, en el transcurso del siglo XX se dio fin a la era de los viejos y nuevos imperios y, durante la Guerra Fría, se estabilizaron las fronteras de los Estados nacionales, revertiéndose la vieja tendencia hacia la concentración del poder político debido a la expansión imperial y por el surgimiento de Estados nacionales ampliados. Por implicación, esto resultó antiglobalizador. Hoy en día, hay cuatro veces más naciones técnicamente soberanas que hace cien años. Desde luego, en cierto sentido esta multiplicación de Estados nacionales ha favorecido la globalización económica pues muchas de las pequeñas y enanas unidades políticas dependen totalmente de la economía global porque poseen recursos indispensables -petróleo, destinos turísticos, territorios base para la evasión fiscal, empresas transnacionales. Así pues, algunos países se han beneficiado desproporcionadamente con la globalización. De los quince Estados nacionales con el PIB más alto per cápita en el 2004, doce tienen una población que va de los cien mil a los diez millones de habitantes. La mayoría sin un poder o peso significativos. No obstante, aun los Estados pequeños y aquellas etnias aspirantes a formar el suyo propio, son rocas que rompen el oleaje de la globalización. Ha habido intentos ocasionales de contrarrestar la fragmentación política del mundo, principalmente a través de áreas regionales de libre comercio como el Mercosur, pero sólo la Unión Europea ha logrado ir más allá de lo meramente económico, pero aun sin que se vean indicios claros de avance hacia una federación, ni siquiera a Estados confederados, como estaba en la mente de sus fundadores. La UE, pues, permanece como un hecho irrepetible y producto de la Segunda Guerra Mundial y la Guerra Fría.
Y abundando: los Estados nacionales son lugares políticos y la política tiene una considerable fuerza internacional en una época en que todos los países, democráticos o no, y aún las teocracias, tienen que tomar en cuenta el sentir de sus ciudadanos. Esa ha sido una fuerza suficiente para ponerle un freno a la globalización neoliberal. El ideal de una sociedad global de libre mercado supone la irrestricta distribución de recursos y resultados en base a criterios de mercado. Por razones políticas, los gobiernos no pueden correr el riesgo de dejar en manos del mercado la distribución del producto nacional. Otra, la globalización requiere de un solo lenguaje -una versión globalizada del inglés pero, como lo demuestra la historia reciente en Europa y el sur de Asia, los países pagan las consecuencias si fallan al tomar en cuenta los idiomas dentro de sus territorios. Un mundo neoliberal requiere moverse libremente en la transacción de todos los factores de la producción. Sólo que no existe el libre movimiento internacional de la mano de obra, a pesar del hecho de encontrarse una enorme brecha entre los niveles de salarios de los países pobres y los ricos; millones de pobres en el mundo quieren migrar a las economías desarrolladas. ¿Y por qué no hay libertad migratoria? Porque no existe gobierno alguno en las economías desarrolladas que se atreva a pasar por alto la resistencia masiva de sus ciudadanos hacia la irrestricta inmigración, tanto en el plano económico como en el cultural. No defiendo esta situación, sólo señalo su enorme fuerza.
La política, a través de la acción del Estado, proporciona así el necesario contrapeso a la globalización económica. Sin embargo, difícilmente hoy encontramos gobiernos que rechacen las desventajas de la globalización o que pudieran suspenderla en sus territorios, si quisieran. Claramente no todos los países son iguales. Ciertamente, la proliferación de países pequeños y virtualmente débiles da gran prominencia y peso global a un puñado de países o uniones fuertes que dominan hoy en día el mundo: China e India, los Estados Unidos, la Unión Europea, Rusia, Japón y Brasil, quienes tienen alrededor de la mitad de la población mundial y casi las tres cuartas partes del PIB. La globalización económica opera a través de empresas transnacionales sin poder militar ni político, pero que funcionan en un marco determinado por sus propios países de origen, sus políticas, alianzas y rivalidades.
No obstante, los progresos y la voluntad de globalización continuarán aun si -lo que no es imposible- el ritmo para lograr el libre intercambio mundial aflojase en las próximas décadas. Esto me trae a mi tercera proposición: la creación de una economía mundial como una sola y total unidad interconectada y sin obstáculos aún está en la infancia. Así, si tomamos los bienes de exportación como si fuesen el PIB de los 56 países económicamente significativos del mundo, este alcanzó su primer punto máximo alrededor de 1913 con cerca del nueve por ciento de los PIBs conjuntos, pero entre este año y 1990, sólo hubo un crecimiento del 13,5 por ciento; ni siquiera se duplicó. El Instituto Federal Suizo de Tecnología, en Zurich, ha establecido un índice de globalización. En este índice los diez países más económicamente globalizados del mundo sólo incluyen una economía avanzada, la del Reino Unido (como el número 10). De las economías mayormente desarrolladas, Francia clasifica en el puesto 16; los Estados Unidos en el 39 un poco adelante de Alemania y Noruega; Japón ocupa el puesto 67; Turquía clasifica en 52; China en 55; Brasil, 60; Rusia, 76 y la India ocupa el lugar 105. La clasificación en globalización social se distribuye más uniformemente entre las economías occidentales. Con excepción de la mayor parte de América Latina, la globalización social (si se prefiere cultural) refleja un mayor avance que la económica.
Esto indica que el mundo continúa abierto a los choques y tensiones de la globalización. Consideremos que, mientras los pasados treinta años nos han traído las más grandes migraciones masivas, sólo el 3 por ciento de la población mundial vive fuera de su país de origen. ¿Qué tan lejos nos llevarán los todavía modestos avances de la globalización? Júzguenlo ustedes.

III

Si hemos de juzgar los cambios en la riqueza, el poder y la cultura en el equilibrio global, debemos, por tanto, definir lo que se entiende por equilibrio mundial, o mejor, por desequilibrio -como prevaleció el planeta en el período de 1750 a 1970. Con una sola excepción -la población- hubo un gran predominio de la región del Atlántico norte, al principio confinada a las partes más relevantes de Europa pero que en el transcurso del siglo XX se inclinó hacia las antiguas colonizaciones de emigrantes europeos a Norteamérica, específicamente los Estados Unidos. Europa y las regiones colonizadas por emigrantes europeos nunca fueron más que una minoría de la población global, digamos el veinte por ciento en 1750, y tal vez el treinta o 35 por ciento hacia 1913. Desde entonces, ha caído hasta llegar alrededor del quince por ciento.
En cualquier otro sentido, el predominio del Atlántico norte fue absoluto. Cualesquiera que hubiesen sido las circunstancias, la economía mundial se transformó gracias a las tecnologías y al sistema capitalista occidentales. Pero aquí debe hacerse una distinción entre el original predominio europeo y la más reciente fase norteamericana. En el siglo XIX la dinámica global venía del capitalismo europeo pues los Estados Unidos eran mayormente una economía independiente: hasta el siglo XX su impacto sobre América Latina, por ejemplo, era menor comparado con el de Gran Bretaña. Los territorios del mundo estaban ocupados y divididos entre los poderes europeos occidentales del Atlántico Norte y el Imperio ruso. En términos militares la situación no era del todo desequilibrada, pero ninguna potencia que no contase con los recursos técnicos y de organización occidentales podría haberse enfrentado a otra que sí los tuviese. En lo que se refiere al campo intelectual, excepto el religioso, las ideas que cambiaron la política y la cultura en el mundo llegaron de Europa. Modernización significaba occidentalización. La ciencia y la tecnología, aunque internacionales, se originaban en Europa y sus filiales y estaban virtualmente monopolizadas por los países de la región. Igualmente por lo que hacía a la literatura, comunicación impresa, libros y periódicos.
En términos de poder económico, la globalización reforzó la situación original del norte industrializado y su desarrollo capitalista, el cual también multiplicó la distancia entre la riqueza per cápita de estos países con los del resto del mundo, dando a sus habitantes un elevado nivel de vida, seguridad social y, en general, mejores oportunidades de vida. En términos de lo que podría llamarse "capital intelectual", el monopolio sobre la ciencia y la tecnología se mantuvo, aunque el centro de gravedad de estos campos se movió de Europa a los Estados Unidos después de concluida la Segunda Guerra Mundial. En el campo de las ideas y hasta la Revolución Iraní de 1979, las ideologías de origen europeo/norteamericano nacidas de las Revoluciones Estadounidense, Francesa y Rusa así como las de los Estados nacionales independientes y aun las del fascismo, fueron ideas casi universales e inspiraron tanto a los propios gobiernos como a los que quisieron deponerlos.
Esta fue la situación que empezó rápidamente a cambiar hacia finales del siglo XX, afectando desigualmente a diferentes partes del mundo. Las regiones importantes en el mundo del siglo XXI son hoy muy distintas en sus estructuras demográficas. En el año 2006 se estimaba que, en países con poblaciones enormes, los niños menores de quince años de edad constituían entre el treinta y el cincuenta por ciento de la población. Para ser más preciso, son cuatro las regiones de jóvenes actualmente: América Latina y el Caribe, al norte del Cono Sur; la subsahariana de África; la importante región musulmana de Oriente Medio y el Norte de África; y el sur y sudeste asiático. Es preciso distinguir claramente entre el subcontinente Indio y sudeste asiático. Dejo fuera los archipiélagos del Pacífico por no ser de gran importancia cuantitativa. Tres regiones desarrolladas o en rápido desarrollo representan a la población en proceso de envejecimiento en el mundo. Europa en el más amplio sentido, incluyendo Rusia y los otros países ex comunistas (no los musulmanes de Asia central) y Norteamérica y Australasia, todas éstas son regiones originalmente colonizadas o pobladas por blancos europeos. Existen, desde luego, diferencias significativas entre Norteamérica, la Unión Europea, los países que integraban la URSS y la Europa del este y el lejano oriente asiático: China, Corea del Sur, Japón, Hong Kong, Taiwán y Singapur. Para efectos de este trabajo, no me interesa ahora discutir los problemas globales de la transición demográfica que, esperamos, logre estabilizarse en una población mundial de más de seis mil millones.
Es evidente que la humanidad del siglo XXI contendrá una proporción mucho menor de blancos europeos o sus descendientes, una menor proporción de asiáticos del este y una mucho más alta proporción de latinoamericanos, de subsaharianos de África, de musulmanes mediorientales y asiáticos del sur y sureste. Esto tiene una relevancia inmediata sobre la distribución de la pobreza en el globo, que claramente se concentra en las regiones de rápido crecimiento demográfico, a excepción del sureste asiático, donde el desarrollo económico ha reducido la expansión poblacional; y desde luego también, los antiguos países soviéticos. De otra parte, mientras no existan implicaciones inmediatas en la distribución de la riqueza y el poder económico, esto es irrelevante. Así, de las unidades políticas más importantes y que son centros de poder económico, sólo dos -India y Brasil- están presentes en las regiones de crecimiento demográfico; cuatro, los Estados Unidos, la Unión Europea, Rusia y China están en los regiones de estancamiento o disminución poblacional. El África subsahariana, el Medio Oriente musulmán y el sureste asiático están fuera de consideración.
La globalización y el desarrollo económico han afectado a los países de manera asimétrica. De hecho, hoy tenemos un "mundo en desarrollo" dividido en tres partes: los países de desarrollo rápido; los países cuya función principal es la de abastecer materias primas y combustibles fósiles y los países con poco interés en la economía globalizada. En el presente, el este asiático es el más exitoso ejemplo de los primeros, los de rápido desarrollo; los países del antiguo bloque soviético y la mayoría de los musulmanes de Medio Oriente pertenecen a la segunda categoría y la mayoría de los subsaharianos de África, a la tercera.
El cambio más importante que se da a partir de 1970 es la transferencia del centro de gravedad de la economía mundial, de Norteamérica y la Unión Europea hacia el Oriente extendiéndose por el sur y sureste asiáticos. A menudo se olvida que el ascenso hacia la prominencia global de la economía japonesa también ocurrió a finales del siglo XX, así pues, al término de 1968 la producción industrial de Japón alcanzaba no más de cuatro por ciento de la mundial total, por debajo de la del Reino Unido. Desde luego, es verdad que el equilibrio del poder mundial de los negocios continúa, en gran medida, en manos de los viejos países industriales. Sin embargo, la tendencia es clara por el destacado y sorprendente papel de los asiáticos. Qué tan lejos llegarán los cambios en el equilibrio del poder económico no está claro todavía. Norteamérica y la Unión Europea, los más importantes contribuyentes al PIB mundial, perderán terreno -Estados Unidos tal vez más que la ue. Por su parte, los países del Mar de China avanzarán, pero todavía les falta mucho. A la India, todavía no se le puede juzgar, pero hay que considerarla como claro y futuro jugador importante. A América Latina, con su cercanía al ocho por ciento del PIB mundial, no se le ven trazas de algo importante; los resultados de décadas pasadas han sido más bien decepcionantes y sus prospecciones dependerán del progreso que obtengan los países del Mercosur y México mientras no sean absorbidos aún más por la economía estadounidense. El mundo musulmán del Oriente Medio, con todo y los ingresos por el petróleo y gas, contribuye poco a los cambios y -a excepción de Turquía e Irán- sus prospecciones dependen mucho de la venta de energéticos. Por su parte, los sucesores de los países comunistas, que ahora contribuyen con alrededor del cinco por ciento del PIB posiblemente mejoren algo sus resultados cuando se recuperen de los infaustos sucesos de los noventa. Además de las materias primas y el petróleo, el poder económico de la Rusia desindustrializada tiene hoy un poco más en don- de apoyarse que en los tiempos de la era soviética con todo y la poderosa industria de armamentos y la gente con elevada educación. Por otro lado, a la cada día más empobrecida África subsahariana se le ven escasas esperanzas de poder lograr desempeñar un mejor papel.
De todas las regiones, sólo una, América del Norte, se encuentra bajo el predominio de una sola economía nacional: los Estados Unidos. Cuando las reliquias de la Guerra Fría incluyendo a Rusia asumieron que el camino se despejaba, el futuro lógico lo encontraron en combinarse con Europa. En el este y sudeste asiáticos, China puede aspirar a la hegemonía económica que por breve tiempo disfrutó Japón, pero Japón permanecerá como un jugador principal, sin tampoco olvidarnos de la India. Este nuevo y dinámico centro global, por consiguiente, será el campo en la interacción de estos tres gigantes. Ni la región musulmana del Medio Oriente, ni África, potencialmente poseen fuerza hegemónica en los campos económico y político; pero en América del Sur el solo tamaño y potencial de la economía brasileña le asigna a ésta un papel central, todavía más si la economía mexicana se permite seguir atada al sistema de los Estados Unidos.
Esto no significa que estas economías hegemónicas nacionales o regionales estén en conflicto con la ya en buena parte interdependiente economía global, que les otorga a todos beneficios reales o potenciales. Y sí significa que la globalización no puede -como el neoliberalismo lo supone- ser como el fluir suave de un líquido. Existen tres agregados principales, políticos y sociales, en el líquido. Primero, el siglo XXI tiene poco que ofrecer al rico mundo del norte, excepto la erosión, tal vez la pérdida, de su vieja hegemonía que fue también la base de su poder y del extraordinariamente elevado estándar de vida en su gente. Inevitablemente este mundo del norte se resistirá a los cambios, aunque sólo los Estados Unidos -con sus aspiraciones de supremacía de mano fuerte- pueden verse tentados a complementar su resistencia con medios militares. Segundo, la ausencia de autoridades globales efectivas y de un sistema de poder internacional, han creado una situación de gran inestabilidad política y social, turbulencias y gobiernos impotentes en muchas partes del mundo, efectos que durarán todavía algún tiempo. Tercero, las tensiones y desigualdades originadas por una globalización incontrolada, están generando una significativa resistencia popular que limita el campo de acción de los gobiernos neoliberales y de regímenes democráticos. Desde luego, se generarán movimientos de disidencia y rebelión populares.
Nos encontramos en el presente ante una fase de transición, de una economía mundial dominada por el Norte a una de nuevo esquema, probablemente de orientación asiática. Hasta que estas nuevas pautas queden establecidas, es probable que pasemos por algunas décadas de violencia, turbulencias económicas, sociales y políticas, como ha ocurrido en el pasado en similares periodos de transición. No es imposible que esto nos lleve a guerras entre países, sin embargo serán menos probables que en el siglo pasado. Quizá podamos esperar una relativa estabilidad global en algunas décadas, como las posteriores a 1945. Ciertamente la humanidad no se acercará a la solución de la crisis medioambiental del mundo, crisis que la propia actividad humana continuará fortaleciendo. ¿Cuál es la participación de Latinoamérica en esta prospección global? Ésta es una cuestión que ustedes como expertos pueden encarar mucho mejor que yo, que no lo soy.
*Eric Hobsbawm es el decano de la historiografía marxista británica.
Fuente: LetrasLibres - julio 2009