Escrito por Waldemar Rossi25-Jul-2008 - Fonte: Correio da Cidadania
Muito se tem escrito sobre os conflitos entre o capital e o trabalho. Em quase sua totalidade, a abordagem mostra os avanços do capitalismo, as freqüentes derrotas dos trabalhadores e os recuos e fraquezas do movimento sindical e social em nível mundial.
Isso ocorre na grande e tradicional Europa ocidental, onde o capital chantageia com a "ameaça" de transladar suas fábricas para a Europa do leste, porque lá os salários são bem menores e os incentivos fiscais muito mais vantajosos. Acontece na América do Norte, onde o NAFTA (tratado de livre comércio daquela região) favorece a instalação de fábricas moderníssimas em regiões de mão-de-obra muito barata, principalmente no México, gerando a concorrência entre os trabalhadores dos seus três países (EUA, Canadá e México). Enquanto que as mesmas empresas estadunidenses mantêm os trabalhos produtivos que exigem maior capacitação técnica – e que oferece melhores salários – para seus cidadãos brancos, fazendo aumentar a já tão criminosa disparidade social e econômica por questões racistas.
Na Ásia dos chamados "tigres", empresas multinacionais que se desenvolveram muito rapidamente vêm sofrendo os efeitos da superprodução e destruindo direitos que os trabalhadores vinham progressivamente conquistando.
Na América Latina... Bem, aqui já se falou tanto disso que o assunto se torna repetitivo. Porém, não há como escapar da "armadilha" que a política nos arma a todo instante.
Vendido o peixe do "milagre brasileiro" dos anos 70, em que a classe média se vendeu ao capital multinacional, a entrada dos anos 80 começou a mostrar que a época desenvolvimentista estava se acabando e levando consigo os sonhos de um Brasil para todos. Restava um Brasil para nem todos, que, aos poucos, foi virando "o Brasil para as transnacionais e para o capital financeiro", deixando como rastro o cheiro da podridão e milhões de desempregados e subempregados, da rotatividade estonteante de mão-de-obra formal e crescente redução salarial. Não tem sido diferente no conjunto da América Latina, com a diferença que o mais importante "milagre econômico" se deu no Brasil.
Como houve, à época, a retomada consciente das lutas operárias e camponesas, com o conseqüente avanço nas conquistas econômicas e sociais, o capital retomou seu plano de super-exploração, sendo necessário, para isto, subjugar o movimento reivindicatório das classes trabalhadoras.
Era o início dos esforços para dividir e enfraquecer o movimento popular, criando entidades fantoches tipo CGT e Força Sindical, cooptar direções como as da UNE, CUT e de partidos de esquerda, tipo PCB (sua antiga direção), PSDB, PT e PC do B.
Acenando para a possibilidade de chegada ao poder político, a direita consegue seus objetivos, inicialmente com a era FHC, exigindo, como contrapartida, nada mais nada menos que a entrega de todo o patrimônio nacional e a destruição dos direitos trabalhistas.
Ludibriados pela oportunidade da classe trabalhadora alcançar o poder político nacional, via Lula, PT e seus aliados esquerdistas, o movimento social caiu no canto da sereia e entregou sua disposição para a luta nas mãos dos seus "representantes". Boicotada a mobilização popular via CUT, PT, UNE e PC do B, a classe trabalhadora se sentiu órfã e sem forças, caindo abatida durante vários anos.
Mas a História não acabou, como dizem os aliados da classe dominante. Por baixo das cinzas muita brasa continuou a arder, mantendo aquecido o sonho de conquista da justiça social. Como em toda a história dos povos, o vulcão de novos movimentos populares entra em erupção no Brasil também, como vem acontecendo em vários países no mundo. Estamos presenciando - ainda que a mídia insista em negar todas as informações ou a distorcê-las – a retomada das forças reivindicativas. Desde as ocupações do MST e Via Campesina, nas questões da terra, passando pelas greves dos professores de vários níveis, estudantes, carteiros, petroleiros, metalúrgicos, do funcionalismo municipal, polícias.
Assistimos ao crescimento de movimentos de resistências, como a denúncia da ação macarthista do Ministério Público do RS sobre o MST, assim como a ampla mobilização nacional em defesa do próprio MST e da Via Campesina, expressões legais e legítimas do Movimento dos Sem Terras; ao movimento contra a irracional transposição do rio São Francisco e de outros em defesa da ecologia; contra o desmatamento e a poluição dos aqüíferos pela mineração irresponsável e predadora; contra a entrega do patrimônio público às empresas privadas.
Vemos crescer movimentos populares pela mudança das leis visando punir todos os políticos envolvidos em crimes de todas as naturezas, pelo fim do trabalho escravo e punição daqueles que o praticam; pela redução da jornada de trabalho, sem redução salarial e sem "bancos de horas". No âmbito eclesial, percebemos a retomada das pastorais sociais, em particular as de juventude, da retomada das CEBs e seu compromisso com os excluídos.
Mas há também uma onda crescente de manifestação da insatisfação com as políticas do atual governo, para a qual contribuiu muitíssimo a renúncia da então ministra do Meio Ambiente, Marina da Silva e pelas denúncias de irregularidades e falcatruas que envolvem as três esferas dos Poderes da República. Muitos que até então defendiam o atual governo já não o fazem mais.
Algo que nos anima a manter vivos nossos sonhos de justiça é também o surgimento de novas forças trabalhistas, concentradas particularmente na CONLUTAS e na INTERSINDICAL, dois embrionários movimentos dos trabalhadores que, devido aos seus compromissos de classe vêm ganhando progressivamente a confiança de parcelas significativas da classe trabalhadora brasileira. Não têm, ainda, a força necessária para o grande enfrentamento com as mazelas do capital. Mas a alcançará com o aprendizado da própria luta de classes.
Olhando os "sinais dos tempos", podemos ter a certeza que um novo e amplo movimento social, forte e enraizado na vida sofrida do povo está sendo gestado.
Certamente nascerá. Não sem dores de parto e nem antes de seu tempo de maturação. Dependerá da contribuição de cada um e cada uma de nós. Mas chegará e com forças renovadas e transformadoras. Quem viver verá.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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