domingo, 21 de dezembro de 2008


Projeto para qualificar cortador de cana está em fase final de elaboração

Uma comissão formada por representantes do Ministério do Trabalho, produtores de cana, usinas de açúcar e álcool e entidades representativas dos trabalhadores rurais terminará de elaborar, neste final de ano, projeto de qualificação profissional de cortadores de cana de todo o estado.
O desemprego desses trabalhadores, que já começou com a mecanização da colheita da cana, como previsto há quase 20 anos, tem de ser resolvido agora, a toque de caixa: pelo menos 170 mil cortadores de todo o estado ficarão sem trabalho diante do cumprimento do Protocolo Agro-Ambiental, assinado pelas usinas de açúcar e de álcool e pelo governo do estado, que acabará com as queimadas e conseqüentemente com o corte manual da cana. O fim da queima da palha da cana para áreas mecanizáveis foi antecipado para 2014 e em áreas não mecanizáveis, para 2017.
O projeto a ser implementado será anunciado no mês de fevereiro próximo, segundo informou o diretor regional da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Sérgio Prado, quando serão detalhadas as medidas que estão sendo estudadas. Mas já existe um consenso.
"Está sendo montado um projeto de qualificação dos trabalhadores que será desenvolvido em todas as regiões do estado, com a participação de toda a sociedade. Além do governo, da Unica, estão envolvidos segmentos da indústria, como o Senai.
Ribeirão Preto será um dos pólos do programa a ser aplicado em todas as regiões. E em fevereiro vamos detalhar quantos programas serão, o tempo de duração e o conteúdo deles. O objetivo é criar vagas em outras atividades da indústria, na área de fornecedores do setor e serviços. Se você já tem um empregado no setor, é preferível que ele seja qualificado para novas funções na mesma empresa", diz Prado.


Estudo apresentado na Europa aponta que cortador de cana apresenta sintomas de exaustão e outras enfermidades causadas pela jornada e movimentos que faz no trabalho

Dublin (Irlanda) – Estudo brasileiro apresentado durante o 30º Congresso Mundial de Medicina do Esporte observou que um cortador de cana, ao longo das 8h de sua jornada de trabalho, flexiona a coluna 3.994 vezes e faz o movimento de corte da cana outras 3.792. Além disso, na maior parte do tempo, o trabalhador permanece em pé (45%) ou curvado (43%).
“Observou-se que o cortador de cana de açúcar apresenta sintomas de exaustão e outras enfermidades causadas pela dificuldade de execução do seu trabalho”, destaca o pôster da pesquisa conduzida por Erivelton Fontana de Laat, da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Irati, Paraná), e Rodolfo Andrade de Gouveia Vilela, da Universidade Metodista de Piracicaba (São Paulo).
De acordo com o texto, desde 2004, o Ministério Público do Trabalho da cidade de Campinas (SP) suspeita que o falecimento de 13 trabalhadores naquele ano tem relação com as condições de trabalho. “Além do fato de que podem ter levado à morte por exaustão, tais condições são baseadas em um sistema de pagamento por produção, sem descanso, o que pode agravar o risco de acidente e de fadiga prematura”, dizem os pesquisadores.
O estudo foi realizado com base na gravação em vídeo com uma câmera digital da jornada de trabalho de um cortador de cana. Feito isso, os pesquisadores registraram e calcularam todos os movimentos feitos por ele ao longo desse período, utilizando categorias como: “abraçar”, “corte”, “jogar”, “andar”, “balançar”, “parar”, “em pé”, entre outros.
Os autores pontuam que, no Brasil, o corte da cana de açúcar é feito manualmente e realizado sob altas temperaturas, com roupa pesada e uma jornada de 8 horas diárias.
“Estes resultados servem de alerta aos responsáveis pela organização do trabalho e da produção, principalmente levando-se em consideração os efeitos que tais atividades intensificadas pelo pagamento por produção têm causado à saúde dos trabalhadores”, concluem Erivelton Laat e Rodolfo Vilela, lembrando que os trabalhadores das plantações de cana, muitas vezes, recebem por quantidade de cana cortada.


Usinas não sabem o que fazer com a cana
Três grupos tradicionais já pediram recuperação judicial

A crise internacional atinge o setor sucroalcooleiro, especialmente a produção de etanol, uma das principais apostas do governo para incluir o Brasil entre as potências econômicas mundiais. Influenciada pela queda do preço do petróleo no mercado internacional, a cotação do álcool despencou e a margem de ganho desapareceu. A crise interrompeu o financiamento da produção e as usinas estão sem recursos para preparar a moagem da próxima safra. Algumas não conseguiram pagar fornecedores e estão com dificuldade em rescindir contratos com a mão-de-obra usada na safra.Pelo menos três grupos tradicionais - Companhia Albertina, João Lyra e Naoum - entraram com pedidos de recuperação judicial. “As empresas já estavam em situação difícil e a crise acelerou o processo”, diz o diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues. Segundo ele, a fuga do capital que financiava atividades sucroalcooleiras põe em risco a safra de 2009. “O desmonte de toda a usina para a revisão anual e a reforma de 15% a 20% dos canaviais exigem soma considerável de recursos, hoje não disponíveis.” As empresas que dispunham de capital de giro, obtido com as boas safras de 2006 e 2007, investiram na expansão da atividade produtiva e na agregação de novos negócios, como a co-geração de energia. “Os preços dos últimos anos não foram suficientes para repor todo o dinheiro que saiu”, diz Rodrigues. Também não saíram os financiamentos de longo prazo e a demanda internacional não cresceu como se previa. Este ano, o volume de cana que ficará nos canaviais para ser colhido na próxima safra (40 milhões de toneladas) é o maior dos últimos anos. A Destilaria Londra, de Itaí, no sudoeste paulista, exportou menos álcool do que esperava, segundo o diretor Paulo André Macedo. “Havia expectativa que não foi atendida, mas esperamos que as vendas externas melhorem.” De acordo com ele, o preço baixo do álcool prejudicou o plano da empresa de moer 1,25 milhão de toneladas este ano. Cerca de 250 mil toneladas ainda estão no campo à espera da colheita. “Íamos encerrar a moagem no dia 20, mas devemos estender até 10 de janeiro.” Com cana sobrando, a usina deixou de comprar dos produtores da região que investiram por conta própria na lavoura. “Estamos pegando dos que têm contrato de arrendamento com a empresa.”O agricultor Lourenço Sperandio, de Taquarituba, plantou 120 hectares de cana e não tem para quem vender. O atraso na colheita já deu prejuízo de pelo menos R$ 30 mil. Ele esperava fornecer para a usina que o Grupo Farias iria instalar no município. O projeto foi adiado e a empresa demitiu 70 dos 92 funcionários. “Muitos produtores plantaram pensando que seria bom negócio, agora não sabem o que fazer com a cana”, diz o presidente do Sindicato Rural, Isaac Leite. A segunda unidade da Usina Iracema, que deveria estar moendo a segunda safra em Riversul, também adiou a operação. A cana é absorvida parcialmente pela destilaria do mesmo grupo em Itaí. Na região de Ourinhos, cortadores de cana que trabalharam na safra não receberam as rescisões e estão sem dinheiro para voltar para casa. Eles pediram a intervenção do Ministério Público do Trabalho.O diretor da Unica teme que os reflexos da crise se estendam às safras de 2009 e 2010. “O dinheiro desapareceu e o custo aumentou significativamente. Quantos vão ter condições de preparar as usinas e as lavouras para mais um ano de incertezas?” Ele ressalva que alguns grupos empresariais que entraram no setor devem manter seus investimentos, pois não dependem só do açúcar e do álcool.É o caso da ETH Bioenergia, controlada pela Odebrecht. A empresa anunciou aprovação de linha de crédito de longo prazo de R$ 1,15 bilhão do BNDES para instalar três unidades - Santa Luzia I (MS), Conquista do Pontal (SP) e Rio Claro (GO) - que iniciam produção em meados de 2009.

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